Ao olhar para ele meu coração deu um salto. Senti medo, mas ao mesmo tempo eu estava decepcionada comigo mesma por ter confiado nele. Aquele deus menor tinha importunado os mortos, matado o próprio filho, tentado me matar e agora tinha me usado para destruir o meu pai.
Foi então que a tristeza abriu passagem e no lugar dela veio a raiva. A ira em meu peito queria transbordar, e a minha única vontade era matá-lo.
Senti um poder correr em minhas veias, algo que nunca tinha sentido antes. Olhei para minhas mãos e vi que delas saiam sombras negras e cheias de dor, angustia e sofrimento. Todo o poder do mundo inferior estava pronto para ser usado.
- Kaila o que é isso? – disse Vitor. – Controle-se.
- Controlar? – eu gritei – Eu não quero me controlar, eu vou matá-lo.
Então com um pequeno esforço lancei as sombras na direção de Phobos que gritou de medo. Que ironia.
- Você não pode fazê-la parar? – gritava Lucy para Hera.
- Não posso me meter em coisas de semideuses, é contra as regras. Além disso, qualquer semideus que ousar desafiar um deus pode lutar com ele. Estou de mãos atadas. Não posso salvá-la.
- Não é pela vida dela que temo. Você não sabe a força que ela tem. Ainda mais agora. Não vê, aquilo é a benção de Hades sobre ela. Seu pai quer matar Phobos tanto quanto ela. São dois contra um. – disse Elisa.
- Preciso impedi-la. – disse Vitor. – Kaila me escute, tente manter a calma. Não o mate.
Escutar aquelas palavras de Vitor era quase como levar um soco no estômago. Olhei furiosa para ela e com uma mão feita de sombras o peguei pelo pescoço. Eu vi o desespero em seus olhos. Phobos continuava a gemer, e eu sentia suas forças esvaindo.
- Quem é o medo agora? Achou que podia me matar? Mate-me agora! Você não tem forças! É um inútil! Eu sou a sombra, e eu sou a morte.
Meu único desejo era fazê-lo sofrer, torturá-lo e depois acabar com sua vida de forma lenta e dolorosa.
- A vingança destruída pela morte perdoada. – dizia Nicole para si mesma. – É isso! Entendi! Kaila você não pode matá-lo, você é a morte, e tem que perdoar o que ele fez para acabar com essa vingança.
- Eu não consigo perdoar isso. Ele matou minha família, tirou tudo o que eu tinha.
- Eu também não tive família, e nem por isso guardo rancor. – disse Nicole. – Me escute, por favor. Não o mate.
As palavras de Nicole não faziam sentido para mim, mas no fundo eu sabia que ela estava certa. Mas eu queria acabar com aquilo. A raiva era grande demais para ser esquecida. Resolvi não dar ouvidos.
- Kaila. – disse Vitor quase sufocando. – Não faça isso, não se destrua. Eu preciso de você. Eu te amo.
Aquilo sim fez o meu braço amolecer. E então me vi soltando os dois e as sombras desaparecendo. Era essa a minha fraqueza. O amor. Somente ele podia combater as sombras.
Cai de joelhos no chão. Vitor estava deitado ao meu lado tentando puxar o fôlego de volta. Phobos estava mais distante paralisado de medo. Olhei para ele, e não sentia mais raiva. Sentia pena. E neste momento eu o perdoei.
A escuridão da volta se dissipou e o dia voltou a brilhar. Lady Hera que até então se mantinha indiferente levantou e pegou do chão a flor do tempo.
- Você ainda pode usá-la criança, e trazer seus pais de volta. – ela disse para mim.
Ponderei o assunto, eu podia ter minha família de volta, não seria mais uma fugitiva, nem uma órfã. Eu teria alguém por mim. Eu seria feliz. Olhei para Hera e tomei minha decisão.
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Sombria
FanfictionEssa é uma fic baseada na serie de livros Percy Jackson... O que se faz quando toda a sua vida nao pertence a este mundo? Kaila se vê obrigada e se adaptar, a fugir, a aprender a conviver com as coisas que acontecem em sua vida. E como se isso não b...