Capítulo 2 - Rumo à Terra

247 42 297
                                    


Um mês havia se passado, mas a tristeza ainda era a mesma, todos estavam sensibilizados com a perda de uma pessoa que um dia julgaram amigo.

Toivo era quem mais sofria, e ela continuaria sofrendo até que isso tudo se resolvesse. Ela não era mais tão feliz, não saía tanto de seu quarto e não ia mais para os vilarejos. Sua depressão parecia não ter fim.

Nos jantares, eles quase não se conversavam mais, só olhavam para o seu próprio prato e quase nunca questionavam sobre o sabor e se aprovaram o alimento. Toivo só comia os vegetais - e não mais carne, como de costume - e não terminava por completo, ela logo se retirava e dizia que estava satisfeita ou sem fome.

As duas mulheres sentavam um do lado da outra, de frente para os homens, e Toivo ficava em uma ponta da mesa. Todos reparavam que a fisionomia da mulher havia se transformado, ela não esbanjava beleza nem tranquilidade; seu olhar não era firme, nem sua postura; não era mais hábil; disposta; os músculos do seu rosto sofriam para ela esboçar um sorriso. Toivo havia perdido mais peso; olheiras rodeavam seus olhos cinza; os cabelos compridos, sedosos e negros estavam agora presos, sujos e opacos; os refinados vestidos de época estavam jogados dentro do armário e o que ela mais usava era uma camisola comprida com mangas até os cotovelos que mais parecia um trapo costurado ao outro.

Toivo brincava com a alface em seu garfo, jogava um para cima do outro e fazia redemoinhos, apoiou a cabeça na mão, parecendo uma criança fazendo pirraça para não comer.

Kirsi olhou para ela. Como uma mulher majestosa como Toivo pode agir assim? Isso tem que parar, ou ela ficará assim por toda a eternidade.

- Toivo, você não aprovou a salada?

Toivo deu um sorriso afetado e olhou para ela.

- Não. Não é isso. Eu só não... não estou com fome.

- Você está sem fome há um mês. - se intrometeu Hannu. - Você está comendo escondida para não ter mais fome?

Toivo suspirou.

- Não, eu só não quero comer. Há algum problema nisso, Hannu?

- Negativo. Mas todo dia você não quer comer?

Kirsi o fuzilou com o olhar.

- Hannu! Deixe-a em paz!

- Está tudo bem, Kirsi. - disse Toivo. Calma como uma budista. - Eu entendi a preocupação de vocês.

Nesta hora, todos pararam de comer para olhá-la.

- Eu sou compreensiva com tudo, garotos. - continuou. - Não me exaltarei com vocês porque eu não consigo. Mas não consigo comer mais nada. Me perdoem.

E com essas palavras, ela se retirou da mesa, e quando saiu da cozinha, fechou a porta.

- Não gosto disso. - disse Sanna, mais para si mesma.

Seus estômagos estavam frios e logo, nem eles conseguiam comer, parecia que suas gargantas estavam fechadas e impediam a entrada de qualquer alimento.

- Nada disso está certo. - disse Antti. - Respondam-me, Toivo está sozinha?

- Não. - responderam todos.

- Então, por que estamos deixando que ela fique nessa situação? Essa melancolia sem fim prejudica até a alimentação dela, ela não é mais a mesma pessoa, não sai mais para os vilarejos, não sorri mais, não tem mais a mesma firmeza. Essa é a verdadeira Toivo que conhecemos? Nós temos fé nela, mas ela também tem fé em nós, e não estamos fazendo jus a isso!

O Escolhido de Toivo - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora