Capítulo 4 - Feliz dia do Kim

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Anttoni já tinha ido embora quando me encontrei com Kim. O garoto se vestia de uma maneira que parecia que sua mãe ainda o dava banho e o trocava. Luvas, dois casacos, touca... As únicas coisas não tão exageradas eram sua calça e seu tênis, enquanto eu usava um casaco pesado com capuz. Mas ele se cobria tanto porque era franzino e não tinha gordura nem músculos para esquentá-lo.

Kim era o amigo estranho, magro, que gostava de todo mundo, que nutria uma certa aparência admirável, porém apanhava por ser bom demais, ele era o tipo de pessoa que todos podiam desabafar e seus segredos continuariam seguros.

Apertamos as mãos e perguntei:

- Quais as novas?

- Adivinhe!

Eu não sabia o que era mais engraçado: sua voz aguda ou sua expressão de quem esperava uma surpresa. Seu rosto pareceu estar paralisado, sua boca sorria em uma estranha forma de triângulo, coincidindo-se com um desenho animado, seus olhos arregalados e pequenas mechas de seu cabelo castanho escuro escapavam da touca. Encarei-o com a testa franzida, tentando adivinhar o que nem se passava pela minha mente.

- Adivinhar... o que exatamente? - perguntei.

- Que dia é hoje, Kalevi? - disse, ainda sorrindo.

- Dia vinte de... março? - disse, hesitante.

- Isso! - gritou. As pessoas ao redor pararam e olharam para nós.

- O que tem?

- Hoje é o dia do meu nome!

Lembrei do ano anterior, que Kim me ligou convidando para celebrar o dia do seu nome. Comemorar o dia do nome com festa e gente que gostamos é algo muito comum entre os finlandeses, algumas pessoas deixam o aniversário de lado para ter o dia do nome em primeiro plano. Outras culturas também festejam o dia do nome, como os suecos e lituanos, mas não estava certo se também festejam e nem porque essa festa teve início.

Sorri, abracei-o e dei tapinhas em suas costas.

- Feliz dia do Kim! E me desculpe por nunca lembrar.

Eu realmente nunca lembrava do dia do nome dos meus amigos. Nos soltamos.

- Não se preocupe, Kalevi. A celebração vai ser na semana que vem.

- Está certo.

Adentramos. A minha escola parecia muito com uma escola dos Estados Unidos. Armários, bandeiras do estado e do país no fim dos corredores, os troféus que ganhamos em interclasses e os valentões, mas ao contrário da América, não são gordos e oprimidos, e sim as pessoas mais bonitas e futuros jogadores de hockey, a maioria era estúpida como pedra.

Kim e eu fomos para os nossos armários - um ao lado do outro - para pegar o material necessário, até que Emma chegou.

- Olá, rapazes, e feliz dia do Kim! - ela passou por trás de mim e esbofeteou a cabeça de Kim com seu caderno.

- Obrigado, eu acho - ele passou a mão na cabeça e tirou a touca.

O meu armário ficava entre os deles. Kim, Emma e eu, os três mosqueteiros, meus amigos de infância, eles estavam em meu exército, sendo meu braço direito, pronto para o que der e vier.

Eu não era uma garota, mas pelos comentários delas, elas diziam que Kim era um cara que nunca namorariam, porque "ele era estranho", e podia até ser, ele mal tinha jeito consigo mesmo e sem contar sua aparência. Eu não sei o que as garotas falavam de mim, mas eu preferia não saber. Emma era muito bonita, para ser sincero, todas as garotas que eu conhecia eram, mas elas tinham beleza peculiar, única, mesmo se fossem irmãs e irmãos. Olhos verdes, cabelos castanhos, alta, e era uma pessoa agradável de conviver.

O Escolhido de Toivo - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora