Capítulo 7 - Taika

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Os pais de Kim se encarregaram de levar nós dois para casa, então, os meus se sentiram livres para voltarem. A quadra virou um buffet. Com o nosso auxílio, os professores colocaram mesas com diversos alimentos. A variedade era grande, tanto que me surpreendi em encontrar balas e chocolates em meio de pastéis da Carélia (que não é nada mais que uma massa feita de farinha de centeio recheada com batata) e kalakukkos, um pão com recheio de peixe ou bacon.
- Adoro os kalakukkos que oferecem na escola - disse Emma, partindo para cima dos pães.
Quando olhei para o lado, Kim estava com um pedaço de chocolate na mão e a boca suja.
- Ah, Kim - disse. - Você ainda é uma criança?
- Por quê? - ele engoliu todo o resto do chocolate de uma vez só.
Fiz que não com a cabeça.
- Não, por nada.
Tudo estava bem quando eu lembrei que Taika tinha algo para me dizer, comecei a procurar ela com o olhar, mas nenhum sinal dela.
- Sem fome, Kalevi? - perguntou Emma.
- O quê? - olhei para ela e em um segundo, eu entendi sua pergunta. - Por enquanto não. Você viu a Taika?
Ela me olhou com a testa franzida.
- Estava com você até agora.
- Sim, mas depois que terminamos de arrumar a quadra ela sumiu.
- Fique tranquilo, logo ela volta - disse Kim.
- É. Logo ela vem atrás de você.
Eles riram, sabia que não falariam nada para me enfurecer então eu ri também. Quando notei que Taika estava ocupada ajudando outras meninas, eu decidi comer um kalakukko e um chocolate que Kim e eu dividimos. Depois de um tempo, a Sra. Heidi colocou as músicas para tocar e dançamos novamente, mas dessa vez da nossa maneira e com as músicas não editadas. Quando Uptown Funk tocou novamente, Kim dançou como se sofresse de ataque epilético e pisou na barra do vestido de uma garota, o que o fez rasgar até seus joelhos. Como era de se imaginar, Kim ficou sem graça e a garota não aprovou muito seu gesto.
- Idiota! Sabe quanto esse vestido me custou? Sabe quanto o conserto vai me custar? - disse a garota, segurando nas mãos a parte rasgada e quase fazendo Kim engoli-la.
Ela estava realmente enfurecida, quando ela ameaçava partir para cima dele enquanto Kim dava desculpas que não tinham sentido, duas amigas dela a puxaram pelo braço e sairam da quadra, só depois de um tempo que eu percebi que aquela era a Teresa. Ela havia mudado muito desde quando um amigo do Heikki começou a namorá-la (ou pareciam que estavam namorando).
Todos pararam para olhar para os dois, as pessoas pararam no meio do caminho para prestar atenção no que acontecia. Graças às duas amigas de Teresa, fomos impedidos de ver Kim apanhar e ele foi salvo disso.
Emma gargalhava do meu lado.
- Já fez treinamentos para andar, Kim? Ou seus pais ainda não te ensinaram?
- Não foi minha culpa, eu não a vi! - Kim parecia estar retraído em tantas pessoas estarem o olhando e falava com um sorriso discreto.
- Não se preocupe, ela se foi - Taika pareceu ter brotado do meu lado.
Dei um sobressalto de susto.
- Como você sabe? - eu ainda estava ofuscado pela beleza de Taika. Ela subiu seu gentil rosto para mim.
- Vi ela e suas amigas saindo do banheiro e indo direto para a saída. Ela estava com novas roupas.
- Que bom que tudo está bem - disse Emma sem nos olhar e indo dançar com Kim. - Só tenha cuidado com meu vestido.
Eles riram um para o outro. Olhei para Taika e ela já estava me observando, sua boca fina se curvava em um sorriso infantil e seus olhos, olhos tão formidáveis, alcançaram os meus como ímãs. Novamente, sua aparência me deixou em reticências. Estendi a mão para a quadra sem tirar o olhar dela.
- Quer dançar Uptown Funk comigo?
Sua cabeça balançou aleatoriamente.
- Na verdade eu queria te dizer aquela coisa.
Me virei de frente para ela.
- Sou todo ouvidos.
- Aqui não. Vamos no pátio.
- Tudo bem.
Ao entrarmos no pátio, vimos Teresa com roupas de frio, e sua reclamação era audível das escadas:
- Eu não acredito que aquele estúpido estragou meu vestido de trezentas coroas!
Ela estava falando sozinha, porém enfurecida, pisando firme, como se fosse atravessar o chão, e saindo da escola. Balancei minha cabeça.
- Ainda bem que a roupa que eu tenho não foi tão cara. E o conserto é barato.
Ela sorriu, cruzou os braços e olhou para baixo.
- O que foi?
- Kalevi... Vamos nos sentar?
- Tudo bem.
Ela parecia estar desconfortável. Não falamos nada um para o outro até chegarmos no refeitório também vazio. Todos da escola estavam na quadra. Sentei do seu lado com as costas na mesa e ela, de lado para mim, cruzou as pernas e repousou as mãos nelas. Ela respirou fundo - até demais - e fechou os olhos, depois de pausas dramáticas, ela me olhou e disse:
- Você deve imaginar porque eu quero falar com você, não é?
Eu sei? Será que é por causa da...
- Não estou certo.
Droga. Minha boca, sempre sofrendo de ansiedade.
- Bom... Não sei como dizer isso - ela coçou a cabeça. - Você deve ter percebido que eu sinto algo por você, certo?
Não sei porque, engoli seco, e esperava que ela não percebesse.
- É... Tinha notado, mas não prestei muita atenção.
Ela puxou um canto da boca em um sorriso sofrido. Preste atenção no que você fala, Kalevi!
- Mas me desculpe se eu... - as palavras me faltaram e girei minha mão aberta em círculos, como se eu pudesse dar corda na minha cabeça para as palavras saírem. Ela sorriu e pegou minha mão.
- Você não tem que se desculpar, Kalevi, eu só quero que você escute o que eu tenho que dizer.
- Estou te ouvindo.
Ela suspirou de novo e começou:
- Nós nos conhecemos a bastante tempo, somos praticamente amigos de infância - ela riu. - E é estranho, porque é quase impossível que amigos de longa data sintam algo por eles mesmos... Mas com você foi diferente, Kalevi. Eu realmente sinto algo por você e gostaria que soubesse disso... - ela olhou para o chão - E também queria continuar sentindo isso, sabe?
Quando entendi que era minha vez de falar, disse:
- É, sim, verdade, somos praticamente amigos de infância, mas, Taika, eu acho você... bonita demais para mim. Eu tinha percebido isso antes, para falar a verdade, decidi até te dar uma chance.
Ela subiu o rosto para mim e seus olhos eram brilhantes como pedras preciosas, eu acendi uma chama de esperança dentro dela e ela acabou me surpreendendo. Parecendo não ter escrúpulos, Taika avançou e me deu um beijo, não de cumprimento, de carinho, como minha avó me dava quando a via, ela me deu um beijo de verdade.
Não tinha reação nenhuma a não ser seguir seus passos, deixar que meus lábios se contorcessem com os seus, e deixando mais claro que Taika ia sim ser a garota que eu precisava. Ela passou seus braços pelo meu pescoço e estava mais perto do que eu pensava, abracei suas costas e seu perfume, tão feminino e agradável, me deixou em outra dimensão, onde só havia nós dois. Eu estava dopado por sua beleza e pelo seu cheiro, ainda estava um pouco incerto, mas eu tinha que experimentá-la, nunca tinha beijado uma garota antes, e começar com Taika não era nenhuma má ideia.
Após esses curtos minutos sentindo Taika proxima à mim, ela pegou nos meus ombros e me olhou. Seu batom estava levemente borrado, mas isso não impediu que seu sorriso fosse radiante.
- Assumo que isso foi inesperado - disse, ainda desnorteado.
Ela riu. Espere, vai ser rápido desse jeito? De repente, uma onda de discordação me acertou tão forte que me senti desconfortável naquela situação. E se alguém ver? e se alguém descobrir e dizer para Anja? Ela vai querer destruir Taika por não ter ido conversar com ela antes e ter dado o "primeiro passo". A minha alegria se dissipou com a invasão de pensamentos ruins que eu mesmo criei, eu nem mesmo sabia se eles coincidiam com a realidade, mas somente de tê-los colocado na minha cabeça, já me deram pavor.
- Foi uma atitude muito boa de sua parte, Taika, mas foi muito rápido.
- Se você acha isso, eu posso te dar outro.
- Não me referi ao beijo.
Seu sorriso desmanchou, sua expressão tornou-se digna de piedade e eu não acreditei que estava dizendo isto para ela.
- Quero dizer... Você quer ser minha namorada, ótimo. Mas eu ainda não tive tempo de sentir algo por você, Taika. Foi rápido demais. Entende?
Suas mãos sairam do meu ombro com pesar e tristeza. Eu sentia a machucando a cada palavra que eu dizia.
- Mas você disse que me deu uma chance.
- Disse, mas eu ainda preciso de um tempo para... você sabe...
- Sei, adquirir afeto por mim.
Tentei mostrá-la que não era exatamente assim, mas eu não tinha outras palavras, era exatamente isso, infelizmente, eu precisava me apegar mais nela.
- É... Sim, não posso namorar você sem ao menos te amar, Taika. Não me entenda mal.
Ah, sim, claro. "Não me entenda mal". Eu descarto ela fora como se ela fosse qualquer uma e peço para não me entender mal. Parabéns, Kalevi, completou seu papel de idiota de hoje.
Ela meneou a cabeça bem devagar. Não chorou, não demonstrou tristeza nem raiva, só parecia estar morta por dentro, perdendo sua vitalidade e sua vontade de estar viva.
- Entendo.
- Mas não quero dizer que eu nunca vou gostar de você, Taika, eu só preciso de tempo.
- Eu tive tempo suficiente para gostar de você e tempo demais para chegar neste dia e me declarar.
Não adiantaria eu querer reverter a situação, eu estava errado e não acabaria por aí. Eu destruí seu coração e Taika jamais seria a mesma comigo. Eu queria chorar por ela.
Ela fez que não com a cabeça.
- Tudo bem - de novo, sem raiva nem tristeza, somente a vitalidade sendo expulsa para fora dela. - Você está certo. Fui rápida demais, e pensei somente em minha vontade e em meus sentimentos. Mas ainda não vou desistir de você - ela se levantou e todo o vigor que um dia existiu nela, se foi com seu andar. - Quando mudar de ideia, ainda estarei aqui.
Estava sozinho, agora literalmente sozinho.
Taika era cobiçada pelos rapazes da escola, até mesmo por Heikki, que não gostava de qualquer garota que aparecia para ele. O que eu fiz quando tive a chance de tê-la comigo? A rejeitei somente porque não tive tempo de gostar dela. A minha vontade era de voltar no tempo e reverter o que eu disse, não por mim, mas por ela, é fácil gostar de Taika, seria fácil me apaixonar por ela também. Aqueles pensamentos negativos que carreguei sumiram, se disfarçaram de pensamentos bons e se infiltraram no meio deles à ponto de não poder destingui-los mais, agora que eles venceram, triunfavam entre si e faziam festa.
Será que um dia eu teria Taika somente para mim? A joia mais cobiçada estaria na minha coroa?
Não sei.
Senti meu sistema imunológico enfraquecendo, me senti doente, fraco, perdendo o respeito do meu exército, deixando que as armas caíssem das minhas mãos e meus joelhos batessem na terra, que era digna somente de me esconder e me manter em eterna escuridão.
Não conseguiria encostar minha cabeça no travesseiro e dormir tranquilo à noite. Apoiei meus cotovelos nos joelhos e apoiei minha cabeça nas mãos. Eu realmente estava triste por ela. Eu gostava sim de Taika, não sei o que me impediu de dizer isso. Eu tinha dado uma chance para ela, mas não sei porque mudei de ideia drasticamente. Desistir de Taika foi pura besteira.
No espelho do banheiro, limpei um pouco do que ficou do batom da Taika. A marca que ela havia deixado em mim, se foi, assim como seus sentimentos também haviam sido limpados.
Tomei coragem para voltar para a quadra, e se a visse, bom, nada aconteceu, decidi não contar para ninguém do nosso beijo.
Não consegui comer e nem dançar quando Emma me chamou, fiquei somente sentado nas arquibancadas, me perguntando porque eu disse aquilo e simplesmente não aceitei namorar com ela. Mas não há como gostar de alguém de uma hora para outra e namorar sem sentir nada. Porém, eu poderia aprender a amar Taika. Meus pensamentos brigavam com eles mesmos, me sentia horrível.
Não vi Taika na quadra, ela tinha partido.



Quem pensou que ela iria pedir isso levanta a mão 🙌
Gostou do que aconteceu? não esperava? fala o que você pensa desse capítulo! Será que essa dor do Kalevi vai durar tanto tempo assim? Stay tuned!

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