Eutanásia

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— Boa noite, Stanley.

— Hã?

— Esquecendo de novo de mim, né?

— É... Oi, Rita. Boa noite...

— Vai dormir de novo, sem falar comigo...

— Rita... Ai, Deus... Rita, eu preciso dormir!

— Você não me dá atenção há três noites, Stanley!

— Rita... Desculpe, mas hoje não dá...

— Então vai ser assim? Você vai virar de lado nessa cama e me deixar aqui falando sozinha...

— Ô meu Deus... Rita, amanhã é sábado. Amanhã eu te dou atenção. Amanhã vou ter todo o 

tempo do mundo pra você, tá bem? Mas agora eu vou dormir.

— Mentira. Eu sei que você vai sair cedo para aquela porcaria de intensivo pré-Enem e só vai chegar em casa às seis da tarde, morto de cansado e vai fingir de novo que não me vê!

— Qual é, Rita? Eu não tenho só você! Eu tenho meu trabalho, eu tenho meus estudos...

— É. E eu que me lasque! Você está a três dias sem nem olhar pra mim! Chega a noite, conversa com sua mamãezinha, toma seu banhozinho, come sua jantazinha, deita nessa cama e nem... me... olha... acha isso justo, Stanley?

— Rita...

— Eu fico aqui presa nesse quarto, esperando você voltar...

— Ai, meu Deus... Rita...

— Antigamente você me levava com você...

— Porra, Rita! Deixa eu falar!

— Eu não admito você gritar comigo desse jeito!

— Olha, não dá pra eu ficar te levando pro trabalho! Nem pra escola! Eu não tenho como te dar atenção lá!

— Antigamente você passava o dia todo comigo e ainda ficava comigo a noite...

— Pára de drama, Rita!

— É sério!

— Rita...

— Você me levava pra escola antigamente...

— Era diferente...

— Você matava aula pra ficar comigo na bilbioteca...

— Rita, pelamordedeus, eu preciso dor...

— Por que você não me mata logo? Me joga fora da sua vida!

— Tá bom, Rita! Você quer saber? Você toma meu tempo demais! É isso! Você é muito possessiva!

— Possessiva? Eu?

— É! Possessiva! Melodramática! Manipuladora!

— Eu não tenho culpa! Foi você que me criou assim!

— É, fui eu que te criei assim. Mas você tá me matando!

— Quando você me criou, você gostava de mim desse jeito!

— Gostava, Rita! Gostava! Ainda gosto! Mas você precisa sossegar um pouco! Você tá me ma-tan-do! Quando eu criei você, eu só tinha quinze anos! Eu podia passar mais tempo com você! Eu não tinha Enem! Eu não tinha a loja! Eu era um adolescente desocupado! Agora eu cresci! Não dá pra ficar escrevendo a hora que eu quero! Você precisa aprender a aparecer só na hora que eu posso.

— Você nem lembra mais onde foi que você me deixou da última vez...

— Você tem noção? Pra cada página que eu escrevo sobre você, eu passo umas duas semanas planejando. Isso é desgastante! Eu gosto de você! Eu amo você! Mas não dá mais pra escrever o tempo todo! Ninguém me paga pra eu ficar escrevendo! E não é só escrever! É planejar! Você tem noção?

O JuradoOnde histórias criam vida. Descubra agora