Paciência

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(ouça a música no local indicado)



--isso não vai acontecer de novo entendeu Israel? sem erros, sem desculpas esfarrapas, eu não admito erros nunca!

--mas signora...

--signora é o caralho!

Isabela observou as exclamações de horror dos funcionários e não se importou, por que eles simplesmente não se acostumavam com o fato de que ela era uma boca suja as vezes? só por que ela era mulher? aquilo não queria dizer nada!, de fato, aquele acidente na vinícola havia irritado ela profundamente, por que ela sabia que fora por causa de algo insignificante que uma funcionária, Sandra... Cassandra... nem lembrava o nome, havia caído de uma escada e quebrado o braço, agora a moça estava chorando com dores horríveis a caminho do hospital, por que o encarregado daquele setor não havia sido responsável o suficiente pra cuidar de lá, em meados de setembro, com a colheita dali a duas semanas, e a produção de vinhos pro natal a caminho não poderiam ficar sem ninguém, uma pessoa significava talvez, dez dependendo do cargo, Israel tinha muita sorte dela ser colhedora, por que dai, ela própria poderia acordar mais cedo e ficar mais tempo nas uveiras ajudando na colheita.

--já disse, nada de erros, sabem o quanto nós trabalhamos todos os anos pra ter uma boa colheita--disse vendo as centenas de pessoas ali concordarem com a cabeça e continuou--cada um tem uma importância fundamental aqui, meu avô provavelmente se sentiria muito orgulhoso de todos, abrimos a vinícola a sete anos e estamos tendo muitos resultados, crescimento significativo pessoal, eu não vou admitir erros, a moça se machucou feio, portanto tomem cuidado por favor pra não se machucarem, não pela colheita, nisso eu dou um jeito mas não quero que ninguém aqui se machuque tudo bem?

Todos assentiram e concordaram.

--agora andiamo, voltem ao trabalho, nos vemos no final do dia pra o café da tarde, Israel sem erros entendeu?

--si signora!

(ouça a música aqui)


Isabela assentiu depois subiu em seu cavalo Relâmpago e rumou pra casa, a casa grande não ficava muito longe das uveiras, mas ela poupava muito tempo indo a cavalo, também era bem mais relaxante do que ir de carro sempre, se pudesse iria de a pé, mas gastaria mais de meia hora a pé, e ultimamente não poderia perder tempo, tempo em época de colheita era precioso e raro.

Atravessou o campo e em quinze minutos estava em casa, a casa que herdara do avô a mais de sete anos, quando chegara ali eram apenas terra, ruínas, um lugar derrubado pelo tempo, sem vida, sem nada, como ela, que havia chegado com medo, e sem esperança alguma.

Entregou Relâmpago pra Marcello, o criador dos dois cavalos e duas vacas que ela tinha no pequeno celeiro nos fundos da propriedade, depois entrou dentro de casa rapidamente, Isabela nunca se considerara uma mulher grosseira e hostil, mas com a profissão e as responsabilidades de tomar de conta de uma vinícola inteira, ela se tornara assim, fria e grossa, muitas vezes estressada, o que as pessoas não entendiam, era que ela não era assim, nunca fora, mas tivera que aprender a ser, principalmente por que o mundo dos vinhos não era um mundo dominado por mulheres, e sim pelos homens, talvez a convivência com homens na vinícola sempre tivessem-na tornado assim, uma boca suja muito marrenta, ou só talvez ela preferisse assim pra se impôr.

Senhor Green(DEGUSTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora