O primeiro sorriso

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   O garoto ainda dormia. Eram 11:20 da manhã, teríamos de sair do hotel até as 2:00 da tarde. Eu não sabia como iria acordar-lo. Eu era uma pessoa tímida, então estava com vergonha de ver a reação dele quando me vesse, fiquei imaginando que ele acharia que eu era um psicopata, sequestrador ou algo do tipo. 

    Me aproximei da cama, com as mãos meio trêmulas de nervosismo e tentando fazer menos barulho possível, eu o chamei. Tive que repetir umas três vezes até ele perceber. 

   Quando notou que eu estava o chamando ele levou um susto e pulou da cama com um olhar assustado, como se tivesse em outro planeta e ficou me encarando sem dizer nada. Só mandei-o manter a calma e expliquei o que havia ocorrido naquela madrugada. 

- Qual o seu nome? - perguntei timidamente.

- Lucas - respondeu.

   Lucas aparentava ter uns 1,75 de altura, magro, branco, cabelo liso e preto e tinha olhos azuis que chamavam atenção de qualquer pessoa que olhasse. Eu tinha 1,80, era um pouco mais forte, branco, cabelo castanho claro. Eu não me achava um cara atraente, mas também não me achava feio. Apenas achava que eu era igual a todos, nada demais. 

- Sou Adam. Tenho 21 anos. Desculpa por essa madrugada, só estava querendo ajudar - disse.

- Na verdade quem deve se desculpar sou eu, ás vezes eu perco o controle - respondeu. 

 - Você precisa de alguma ajuda?

- Na verdade sim - respondeu Lucas - eu queria saber se você poderia me levar para casa. Estou meio perdido e não sei se meus pais vão estar lá.

    Logo em seguida eu peguei o celular, pedi um táxi para nós e saímos do hotel para esperarmos o carro lá fora.  

    Demorou alguns minutos até o táxi chegar. Quando entramos, Lucas explicou o caminho ao taxista e fomos. 

   Durante o caminho o silêncio dominava naquele carro, ninguém dizia uma palavra sequer. Eu estava nervoso com aquela situação, apenas ficava olhando para a janela e observava os shoppings, as casas, os parques, as pessoas passando.

   Enquanto eu olhava ficava imaginando o motivo do Lucas ter chegado até aquele ponto de tentar um suicídio. Imaginava o porquê que ele estava sozinho naquela madrugada. Eram centenas de perguntas que passava na minha cabeça, e eu não conseguia imaginar o que Lucas estava sentindo naquela hora, mas parecia mais tranquilo em relação o que havia acontecido mais cedo. 

   O táxi parou em frente ao prédio do Lucas, e assim que ele saiu do carro eu mandei o taxista ficar me esperando. Fui em direção dele e fiquei observando-o destrancar o portão do seu prédio. Assim que ele conseguiu destrancar, perguntei-o se queria mais alguma coisa e num tom de voz meio baixo respondeu:

  - Você pode ficar aqui. Podemos almoçar juntos, se você não estiver com pressa. 

  - Claro - respondi indo em direção ao táxi - só vou pagar o táxi.

  Fomos em direção do prédio e entramos no elevador. Lucas morava no 14° andar e assim que a porta do elevador abriu, já demos de frente com a sala de seu apartamento. Entramos e ele me mandou esperar sentado no sofá enquanto olhava se havia comida. Enquanto eu o esperava, ficava observando a janela que dava uma linda vista panorâmica  de São Paulo. Eu fiquei simplesmente encantado com aquele lugar. 

   Lucas chegou com algumas coisas para comer, eram comidas não saudáveis, do tipo industrializados. Ele sentou do meu lado e ficamos conversando sobre famílias, amigos e etc.

   Contou então que morava com os pais, que trabalhavam muito e por isso não ficavam muito em casa, e com seu irmão mais velho, que também não parava muito em casa, já que fazia faculdade de medicina e passava a maior parte do seu tempo estudando. 

  Disse também sobre seus amigos e sobre o que gostava de fazer. Naquele momento notei que Lucas era o tipo de garoto que gostava de sair para festas todos os finais de semanas, gostava de ficar com várias pessoas e só voltar depois de bêbado. Eu realmente perdi um pouco de interesse enquanto ele contava aquelas histórias, mas tentei compreendê-lo o máximo possível. 

   Percebi que Lucas era o tipo do cara oposto a mim, o cara que eu não me aproximaria, mas eu senti uma coisa diferente nele, algo mais intenso. Enquanto ele dizia todas as coisas dele, percebi um tom de frieza em sua voz e aquilo me deixava cada vez mais curioso para saber sobre a vida daquele menino que eu encontrei ''por acaso'' numa madrugada depois da balada. 

    Eu não falei muito sobre mim para ele, já que minha vida não havia nada que o interessasse.

    Ficamos em silêncio por um tempo, e pude perceber que Lucas disfarçadamente dava algumas olhadas para mim. Quando ele me olhava, eu ficava com vergonha e ao mesmo tempo feliz, fiquei com aquela famosa de sensação de ''borboletas no estômago''. 

  Então uma hora eu fiquei o encarando, e ele deu um pequeno sorriso e eu sorri de volta. Eu fiquei muito feliz naquele momento, já que era um primeiro sorriso que Lucas dava desde que o vi e naquele momento eu senti que seria o primeiro de muitos. Mas logo em seguida eu fechei meu sorriso e disfarcei olhando para a janela e pensei: será que eu estou gostando de um garoto que é totalmente oposto a mim?


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