Folhas de Outono I

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Eu tinha 6 anos da primeira vez. 12 anos da segunda. 13 da terceira. Nos três casos, foi pedofilia.
Todos os dias vejo mobilizações na internet partidas de feministas falando sobre estupro, dificilmente vejo alguém falando sobre pedofilia, por que não falam sobre isso? Por que as crianças não usam roupa curta e não ficam na Paulista mostrando os seios?
Independente de qualquer que seja sua posição política, da qual eu realmente não me importo, só quero saber uma coisa: por que as crianças não recebem tanta atenção como as mulheres? Por que existem hashtags falando sobre ""cultura do estupro"", e efeitos de facebook para isso, mas não existe nada falando sobre pedofilia? Você só vê textões sobre quando sai uma notícia sobre algo bárbaro na mídia, mas ninguém se pronuncia como no caso da tal "Cultura do Estupro" onde todos os dias milhões de novos posts são escritos.
Ninguém diz como é conviver sendo vítima de pedofilia.
Mas todo mundo diz como é conviver sendo vítima de estupro.
Por isso, para a vossa salvação, cá estou eu para dizer como realmente é sofrer um abuso sexual na infância, como é ser vítima de pedofilia e o que afeta em sua vida. Por anos, isso foi ignorado em minha mente, tudo foi escondido como se fosse uma simples brincadeira, até porquê estupro só parte de homens.
Eu tinha mais ou menos seis anos quando aconteceu da primeira vez, minhas lembranças daquela época tempestuosa de minha vida são extremamente vagas, lembro que ela tinha uns quatorze anos na época, era morena, devia ter seus 1.65, cabelos escuros e enrolados. Eu devia ter menos de 1.40, cabelos longos cor de mel, e olhos castanhos.
É a primeira vez em que faço este relato, será doloroso, peço perdão antecipadamente sei que talvez algumas coisas ficarão confusas por conta de meu nervosismo.
Ela dizia que tudo era uma brincadeira, sim, ELA. Vamos chamá-la de C. Bem, C. era vizinha desde que eu me conhecia por gente, os parentes dela moravam na rua de casa, logo, ela também. C. ia em minha casa, ficávamos em meu quarto e ela dizia "Vamos brincar de casinha" eu concordava, como toda criança no meu lugar teria feito, e então as coisas ficavam estranhas.
Normalmente ela fingia chegar do trabalho e se passava por ele, me abraçava por trás bem forte. Eu odiava aquilo. Lembro que era necessário que C. se abaixasse bastaste por conta da diferença de altura entre nós, depois ela me colocava em sua frente e me beijava. Ela me beijava de verdade, era nojento, era estúpido, era ridículo.
Tinha uma cama no quarto, a mesma cama e o mesmo colchão do qual durmo até os dias de hoje, ela me deitava ali e ficava por cima de mim. Lembro até hoje do peso de seu corpo sobre o meu, lembro das mãos dela em mim.
E depois? Bem, depois tudo vai embora, tudo vai embora como as folhas de outono.

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