4° Capítulo

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Estava em um sono bom, gostoso e bem profundo quando sou tirada bruscamente dos meus sonhos pelo barulho insuportável do despertador.
Não tem nada pior do que acordar com o despertador.
Me levanto e sento na beirada da cama e fico olhando para o nada por uns minutos.

— Olha quem acabou de levantar! – Anne diz me tirando bruscamente do meu transe, assim que entra no meu quarto, e vai logo abrir as cortinas.

— Não confunda “acabei de levantar” com “acabei de acordar” – disse com a cabeça apoiada nas mãos quase dormido denovo — Acordar, e levantar são coisas diferentes. Eu levantei, mas minha alma ainda está naquela cama. – disse bocejando .

— Bela explicação, agora trate de acordar! – ela disse pegando nos meus ombros e me sacudindo. – Hoje é seu primeiro dia de aula! Vamos nos alegrar. – ela diz com um sorriso estampado no rosto, e aparentemente muito animada.
Não entendo de onde essas pessoas tiram tanta felicidade de manhã, prontas para viver, ser feliz, ver pessoas e socializar? Não consigo, me recuso, sair da minha cama para ver pessoas.

— Não sei se quero ver adolescente idiotas fazendo coisas de adolescentes idiotas.

— Então, não fique perto de adolescentes idiotas, que só fazem coisas de adolescentes idiotas.

— Impossível! Porque se eu for para escola eu irei estar rodeada de adolescentes idiotas fazendo coisas de adolescentes idiotas.

— Tenha coragem e seja gentil menina! – ela diz piscando para mim, me fazendo lembrar do que minha mãe disse antes de morrer. Joguei a cabeça para trás e dei um suspiro longo.

— Okay, você me ganhou, to indo tomar banho!

— Isso! Quero animação!

— Não te garanto nada! – disse indo tomar um banho.

Saio do banho e escolho uma roupa para usar. Nunca tive um estilo definido, eu uso o que eu gosto e o que eu me sinto confortável, do que adianta usar uma roupa muito bonita e espalhafatosa se você não está se sentindo bem? Minha mãe sempre me dizia o seguinte: “seja você, não imite ninguém, tenha seu próprio estilo, se for necessário crie seu próprio estilo, mas seja você!”, é o que eu sigo, ou tento seguir, ser eu mesma, sem me importar com opiniões alheias, mas é sempre muito complicado, quando sua vida é sempre publica, você recebe várias críticas toda hora, e ter uma auto-estima alta se torna difícil na maioria das vezes.
Coloco uma calça com manchas em degradê e rasgada, e uma blusa de manga fina. Passo apenas um delineador e rímel, só pra não ficar com a cara limpa de quem acabou de acordar. Pego minha bolsa e desço me preparando psicologicamente para mais um longo dia.

— Bom dia Celly! – Dianne diz assim que me vê com um sorriso no rosto. Já estou acostumada com tanta felicidade nessa casa pela manhã.

— Bom dia! – disse forçando um sorriso. Não adianta, eu não acordo com um bom humor pela manhã. — Meu pai já foi trabalhar?

— Sim. – ela contrai os lábios e continua — Ele pediu desculpas por não ter ido na sua apresentação de ontem.

— Mesmo? Quanta consideração a dele! – disse irônica. Ontem foi o dia de apresentação de um trailer em que eu estava trabalhando para a feira de Ano Novo, era basicamente sobre o dia a dia de algumas pessoa, modéstia parte ficou incrível, foi um dos melhores vídeos que eu ja produzi. Sem contar que um dos produtores de cinema de Rosewood estava lá, tivemos uma conversa de 10 minutos e ele pediu meu contato dizendo que iria me ligar, não criei expectativas, eu sei que fui boa, mas será que foi o suficiente para ser patrocinada pelo George Gravil? Um dos maiores produtores de cinema? Sinceramente eu não sei, o que eu posso fazer é esperar e ver o que acontece. Meu pai, não compareceu, foi decepcionante, na verdade eu só fiz aquilo por ele, para ele ver o meu talento, mas ele não apareceu, nem mesmo se explicou. Eu já estava acostumada em com essas coisas, ultimamente ele tem colocado seu trabalho em primeiro lugar. E nem sei porque fiquei tão impressionada assim

— Não fique tão brava. Ele tentou!

— Tentou? Ele nem disse nada, ele mandou você me pedir desculpas. Ele não tentou. Ele não poderia ao menos vir pessoalmente e pedir desculpas?

— Ele queria estar lá Celly mas...-

— Para de querer defender ele Dianne, ele está errado. Okay, eu posso ate estar sendo egoísta, mas, nossa, eu trabalhei duro naquilo, pra ele. Para ele ver o meu talento e o quanto eu gosto do que eu faço e produzo. Mas ele não foi capaz nem de aparecer, nem ao menos se redimir.

— Celly, ele tem estado muito ocupado com o...-

— Sim, com o trabalho eu sei, é sempre o trabalho. Mas você acha mesmo que a prioridade é o trabalho ou a família? – ela abriu a boca e fechou diversas vezes. Eles eram iguais, os dois eram ambiciosos e pensavam em dinheiro, ela também faria a mesma coisa se não tivesse dois filhos pequenos para cuidar. – Não precisa responder. Tenho que ir senão irei me atrasar.

Ele não era assim. Ele era sempre dedicado a família, dedicado a mim. Sempre cancelou suas obrigações para dar atenção a mim. O que mudou? É porque eu cresci? Ele acha que só porque eu tenho 17 anos não mereço mais a atenção de sempre? Respiro fundo, eu preciso controlar meus pensamentos e paranóias, porque senão sinceramente vou ter uma crise de ansiedade, e a última coisa que eu preciso é isso.

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