Wire 5

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Como ela pode deixar isto acontecer? Ultimamente ela estava muito distraída, o que não era habitual. Normalmente ela não deixaria tão precioso objeto em proteção alguma como tinha acontecido. Onde ela estava com a cabeça?

Não era nenhuma novata no ramo das super heroínas para cometer tamanho erro. Várias imagens passaram por sua cabeça à medida que voava na direção do seu apartamento. Talvez ela estivesse a exagerar. Talvez não tivesse acontecido nada. Mas ainda que se quisesse enganar com tais pensamentos, uma vozinha bem no fundo do seu ser dizia que as coisas não iriam correr como queria.

Finalmente tinha chegado. Foi com pressa e uma certa atrapalhação que abriu a porta. De facto foi necessário três tentativas para o conseguir, e ao ter uma vista lá para dentro, desejou que antes não o tivesse feito. Todos os seus pertences estavam espalhados no chão. As gavetas completamente abertas e alguns estilhaços de vidro brilhavam sobre a luz ténue do por do sol.

Automaticamente moveu-se para o lugar onde guardara as informações dadas por Olliver. Não estava lá nada! Uma certa pontada de medo apertou o seu coração. Decidiu procurar em outros lugares. Recusava-se a acreditar que eles tinham desaparecido. Não podiam! Essa não era uma opção! Percorreu todo o lugar com a maior das atenções, tinha que se acalmar. Infelizmente foi tudo em vão, eles realmente tinham desaparecido. Momentaneamente sentiu os seus olhos turvos pela vontade de chorar.

Mas a sua atenção foi atraída pelo som de uma corrente de ar ao entrar pela janela aberta. Havia algo estranho! O apartamento situava-se no sexto andar e a porta estava completamente trancada quando chegou. Decididamente uma pessoa normal não conseguiria tamanha proeza. E como se um interruptor se tivesse ligado, todo o enigma tinha sido desvendado. Na verdade não havia mistério nenhum, apenas uma pessoa teria sido capaz de o conseguir e roubar o que roubou.

— Brick! — Sim, só poderia ter sido ele. — Eu vou definitivamente, lhe matar!

Com a raiva transbordando por cada um dos seus poros, não demorou a saltar pela janela, em procura do seu ladrão. Assim que o encontrasse, certificar-se-ia que ele nunca mais saberia quem era ou de onde vinha. Sentiu-se estúpida! Estava mais que óbvio que ele não iria colaborar com ela, e mesmo assim tinha permitido que esta situação acontecesse. Já havia poucos raios de sol iluminando a cidade, diminuindo as suas poucas hipóteses de o encontrar. A esta hora ele já teria fugido para bem longe e começado pensar no que fazer.

Enquanto a luz se desvanecia, dando lugar ao céu escuro ausente de estrelas, os seus pensamentos tornavam-se igualmente turvos e cada vez mais desesperantes. Deu tudo de si para o encontrar até finalmente de dar por derrotada. O caminho para casa foi uma longa estrada sombria que ela teve de aceitar. Tudo tinha acontecido por não estar um passo à frente e mesmo ela sabendo disso, não conseguia evitar sentir raiva e ódio de Brick.

Voltou a entrar pela janela, onde direcionou todos os seus sentimentos frustrantes para a mobília que já estava completamente desorganizada. Ela se sentiu mover intuitivamente em direção à escrivaninha e num momento de fúria lançar todos os seus objetos diretamente para o chão. A razão já a tinha abandonado, e agora a única coisa que a confortava era o som alto das coisas caindo brutalmente no chão.

Os seus gritos de raiva foram gradualmente diminuindo dando lugar a um sentimento desconfortável de desespero. Ao se olhar ao espelho não conseguiu reconhecer o seu reflexo. A sua íris vibrava num tom quase vermelho, enquanto a sua expressão a tornava nitidamente mais tenebrosa. Todas as lágrimas que tinha segurado até agora corriam livremente pela sua face.

Blossom finalmente tinha-se apercebido que era bem mais fraca do que aparentava. Tentara parecer forte estando contaminada com um estranho soro, que não fazia a menor ideia do que poderia ser. Tentara parecer forte tentando arranjar uma solução sozinha. Na verdade era orgulhosa demais para pedir ajuda. Ela sabia que as suas irmãs iriam compreender, que não a iriam repreender por ter falhado e que a iriam ter ajudado, mas decidiu não o fazer iludindo-se com uma força que sabia ainda não ter.

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