Queimado

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Nicholas | 16 anos

Tenho um problema com a ansiedade. Não importa o horário do dia, se algo me deixa ansioso, vai transparecer. Eu mordo a tampa da caneta, passo a mão no cabelo sem parar, mordo o lábio, como muito e como pouco, rabisco meu caderno, sinto dores nas pernas, não durmo à noite, reviro na cama, estalo os dedos, roo as unhas... Isso e tantas outras coisas horríveis.

A ansiedade pela vizinhança nova, escola nova já passou. Tenho ido bem na escola, o conteúdo é novo e um pouco puxado, mas eu consigo entender e fazer o que devo. Mas não consigo entender minha ansiedade.

A semana passou rapidamente, poucas coisas me aconteceram. Certo, ainda é tudo novo e eu estou impressionado por tudo isso, mas passei pela semana com sucesso. Sobrevivi cem por cento dos meus dias ruins até agora, estou indo bem.

Tive minha mesma rotina de sempre, olhei para meu café da manhã, meu café da manhã olhou para mim e fui de estômago vazio para a escola.

Entretanto, no carro, a ida para escola parecia durar milênios.

-Anda, caralho! – meu pai berrou, buzinando. Ótimo, já acorda ouvindo berros.

-Pai...

-Anda, merda!

Bufei, rolando os olhos e coloquei meus fones de ouvido no máximo. Escolho o aleatório e então me vem uma música calma, tão calma. Fechei meus olhos e me coloquei num lugar totalmente longe dali. Imagino uma pequena colina de flores, cheirosa e colorida. De longe avisto uma silhueta. Ando em direção à silhueta e vejo... Christopher? Estranho. Segurava algumas flores amarelas muito bonitas e olhava para elas como se fossem as coisas mais mágicas do mundo.

-Para você – corou – toda cheia de detalhes, delicada e bela também, na cor do Sol. – ia me envolvendo em seus braços – Você significa o mundo para mim, Ni...

-... Cholas! – meu pai berrou, me acordando – Vai sair desse carro ou não?!

Imediatamente corri para dentro da escola, a primeira aula seria de Química e por sorte a professora gosta de mim, então não vai ficar tão brava por me ver atrasado.

-Demorou, hein? – Saphira me cutucou. Virei os olhos e ela percebeu – Ave Maria, que tu tem?

-Querida, deixa o menino – Dara pediu para a outra, cruzando os braços na mesa, virando para mim – ignora ela, Nico.

Saphira fez bico e logo Dara deu um beijo em seus lábios. Maior casal lésbico que você respeita.

Fui para o meu lugar, passando por Oliver que estava concentrado num desenho muito bonito, retratando uma linda árvore de ipês, estava lindo, porém ele não parecia feliz com o trabalho. Elogiei o desenho e ele agradeceu, dando um sorriso, logo ficando mais satisfeito com o que fez. Então fui para meu lugar finalmente, tirando as coisas da mochila e me organizando.

-Ei, Nico. – Christopher chamou, atrás de mim.

-Sim?

-Pode me emprestar seu trabalho de Química? É bem rápido.

-Você não fez?

-Só preciso conferir uma coisa, juro que te devolvo rapidinho.

-Certo – suspirei – corre, ela já está ali na porta.

Virei para o lado, olhando para ele e rapidamente abriu o caderno, olhando algumas coisas e lendo outras, suspirando aliviado. A professora estava chegando na nossa fileira quando vi Pedro pegar meu caderno. Fiquei confuso e logo ouvi um barulho de páginas sendo rasgadas. Arqueei uma sobrancelha e olhei para Christopher que colocou as mãos sobre o rosto, bufando. Recebi meu caderno de volta, com as páginas do trabalho rasgadas. Assim como as páginas do trabalho, meu coração foi rasgado. Eu demorei muito pra fazer esse trabalho.

No Ordinary LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora