Ollie ou Olivia?

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Nicholas | 16 anos

No meio da quinta aula, Oliver me chamou. Eu estou um pouco melhor, o nariz e a barriga ainda doem um pouco, mas nada que está me matando. Virei minha atenção para o loiro que parece mais ruivo.

-Ei, Nico. Quer ir pra minha casa hoje?

-Claro, você me levaria? Acho que meu pai não pode me dar uma carona hoje.

-Totalmente, meus pais não se importariam! Afinal, eles já gostam de você mesmo antes de te conhecer! Falo muito de você para eles, na verdade. – deu um sorrisinho, mostrando a língua subitamente.

-Ele fala de mim...? – sussurrei e ele aparenta ter ouvido, então apenas abafei a fala com qualquer outra coisa.

Isso acaba confundindo minha mente. Ele fala de mim? Já me sentia inseguro sobre o que eu faço e falo diariamente, agora isso se elevou em trezentos por cento. Tudo bem, calma. Foque-se em seus exercícios de Astronomia e fique de boa. Não importa o que dizem sobre você, certo? Mas ele é um amigo, não deveria me preocupar. Ah, droga. Faça os exercícios... Viro-me e olho para Christopher. Ele parece tão concentrado apesar de Pedro, Gabriel e Edward ficarem atazanando o menino. Rafael está errado, tem que estar. Eu não gosto dele e mesmo se gostasse, eu não aguentaria o que vem depois. Xingamentos, risadinhas, olhares tortos... Até mesmo agressão física, quem sabe. Pedro e Gabriel com certeza me fariam entrar em coma de tanto me baterem. Ah, o bullying. Não se apaga da minha memória. Anos atrás, quando ainda estava na minha cidade antiga, minha mãe era viva e eu era pior do que sou hoje, tudo conspirava contra mim. Tudo. Eu era o menino quieto, estranho da sala. A professora se irritava até mesmo com meus olhares, por algum motivo. Pensava em suicídio como se fosse parte da rotina. A escola, uma dor de cabeça, minha casa, uma tortura. Minha mãe sempre se preocupava comigo, algo que eu não queria que acontecesse. Não gosto quando se preocupam comigo. Não é algo ruim, é bom saber que existem pessoas que se importam, mas quando penso que alguém está ficando ansioso por minha causa, isso me abala. Ah, mãe... As coisas seriam melhores se você ainda estivesse aqui.

-Nico? Nicholas?! – ouvi Oliver me chamar, mexendo meus braços debruçados por cima da mesa – Está tudo bem, cara? Quer ir lavar o rosto?

-Lavar o rosto? – levantei, percebendo que eu era uma bagunça chorosa. Eu estava soluçando alto... Por causa do choro que nem pude perceber. Neguei a pergunta de Oliver e limpei meu rosto com as mangas da minha blusa.

Não acredito. A sala inteira deve ter ouvido meus soluços extravagantes. Eu me odeio por isso. Suspiro. Encaro meu caderno e espero o dia acabar. Talvez ir para a casa de Oliver levante meu espírito.

Assim que fomos liberados, mando mensagem para o meu pai. Ele demora a me buscar de todos os jeitos, então não teria problema. Os pais de Oliver não demoraram muito e logo estava em seu carro, indo para sua casa. Eles se apresentaram, vi as semelhanças entre eles. Oliver é a cara do pai e tem a doçura de sua mãe. São pessoas alegres e cheias de vida, colocaram música no rádio e até trocaram uma ideia sobre a necessidade do segundo turno da nossa escola. Assim que nos aproximamos da casa de Oliver, parei de entender como o menino é tão humilde de pessoa. Sua casa é enorme! Descemos do carro e eles se organizam até a cozinha.

-Sinta-se em casa! Te levo no meu quarto, vem. – disse, puxando meu braço levemente. Seu quarto fica no segundo andar, e assim que chegamos lá, ele continua – Eu já volto, sério, sinta-se em casa.

E desceu as escadas novamente. É tudo tão bem decorado, seu quarto tem várias fotografias. Olho cada uma delas, fotografias de família, de paisagens de uma praia, fotos de infância e até mesmo... Hm? Uma foto fora do retrato? Oliver e Philip. Vejo a data, qualquer dia de qualquer mês do ano passado. Eles parecem tão felizes, chega até ser triste.

-Ah, esqueci essa foto aí em cima. Ela deveria estar dentro da gaveta.

-Desculpe me intrometer! – me assustei. Ele surgiu atrás de mim. Deu um sorrisinho.

-Não tem problema, eu gosto dessa foto.

-Gosta dele também? – inclinei minha cabeça para o lado.

-Não é meu ponto. Ah, eu sei que sou uma pessoa ruim por ter terminado com ele por um motivo tão imbecil. Eu sou um imbecil.

-Você não é...

-Meninos, o jantar está pronto! – a mãe de Oliver nos apressou. Concordamos em continuar a conversa depois e descemos.

O cheiro era maravilhoso, nos servimos e então conversamos um pouco. Falei um pouco sobre a escola e sobre minha adaptação à nova rotina. São ótimos ouvintes, gostam de conversar. Acho que não precisei falar muito, eles devem saber tudo que Oliver sabe sobre mim. Contei sobre minha mãe, meu pai e minha irmãzinha. Ficaram sabendo também da minha capacidade de interpretação de texto e lógica. Demos algumas risadas, é bom saber que os pais de Oliver são pessoas são boas. Queria que o meu pai fosse um pouco mais desse jeito. Mas tento não pensar muito nisso. Assim que o jantar acabou, subi com Oliver até seu quarto. Ollie nos seguiu.

Pego a foto e mostro para ele. O mesmo suspira e fica cabisbaixo. Coloco minha mão sobre seu ombro e lhe dou um sorriso.

-Tudo bem se você não quiser falar sobre. Você não é um imbecil. Você estava fazendo seu melhor para proteger quem você ama. – acalmei-o. Recebo um sorriso em troca.

Ollie queria atenção. Subiu na cama de Oliver e virou a barriga para cima. Sua barriga era redonda e branca, mostrando um pouco de rosa claro por causa de sua pele. Passo minha mão sobre a carência em forma de gato e percebo... Algo. Arregalo meus olhos e Oliver percebe minha tensão.

-Oliver, você já parou pra considerar que seu gato pode estar... Grávido...? – questionei, com uma grande interrogação na minha face.

-Como é que é? Você tá bem, Nicholas?

-Estou! Você deveria perguntar isso ao seu gato grávido!

-Gato grávido, menino, meu Deus. – passou a mão na barriga do aclamado e sentiu o mesmo que eu senti. – Erm... Quê?! – berrou.

-Teu gato não é gordo... Acho que ele é uma menina e está prenha. – segurei para não dar uma gargalhada alta. Acho que ele ficou traumatizado.

-Ollie! Meu Deus do céu, montanhas! – exclamou – Que doideira é essa? Ollie, tu é... Olivia? – o menino estava mais confuso que eu nas provas de matemática.

Oliver pegou a gata e desceu voando as escadas. Acompanhei-o e ele tentou explicar a situação toda para seu pai. O homem ouviu tudo, confuso, mas tentou entender. Acredite pai de Oliver, você não é o único confuso aqui. A mãe também entrou na doideira e quase deu a luz para um irmão de Oliver quando soube. Eles decidiram levar a gata até o veterinário e nos deixaram sozinhos na casa deles. Subimos novamente e decidimos jogar 'Uno!' para desfazer os nós de nossas cabeças com mentes explodidas. Ganhei duas vezes e ele uma, até que na terceira rodada, recebo uma chamada de Christopher.

Espere, Christopher?!

No Ordinary LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora