Sei o que estás sentindo, pois eu também sinto

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Nicholas | 16 anos

Rafael e Guilhermo saíram da sala para resolver umas coisas na coordenação, junto com o professor. Não demorou até que os alunos tornassem a sala em um inferno.

-Ei, Nico – ouvi Christopher me chamar – você vai dar conta de fazer o que ainda resta do trabalho hoje? Por que se não, eu posso...

-Eu dou conta, pode ficar tranquilo. Você também precisa treinar e fazer suas coisas. – sorri e ele sorriu de volta, passando a mão rapidamente em meus cabelos, o que me deixou meio avermelhado.

-Ih, olha lá! – Edward sussurrou, rindo. Chris o fuzilou com os olhos e ele fez careta.

É normal um menino de sua idade fazer sua cabeça virar de cabeça para baixo só com o sorriso? E o toque desse menino simplesmente te colocar nas nuvens? Alcancei um vermelho nas bochechas que nunca achei que fosse alcançar. A voz dele é tão calma, eu gosto tanto da presença dele e... Ah – eu suspiro – eu quero tanto me decidir. Eu me lembro da minha última paixão, doeu quando eu percebi que não era recíproco e eu me lembro de "gostar" de outro menino da minha sala da outra escola. Eu falei sobre essas coisas com Oliver e ele se preocupou comigo, afinal, ele deve saber o histórico de Chris; mas o pior não é esse – sei que Chris é uma boa pessoa – ele sabe que os "amigos" dele podem me machucar. Ou pelo menos tentar.

O sinal bate e agora nós faríamos prova de História. Quando terminamos, podemos sair da sala e esperar o resto da sala também terminar, então depois tendo o resto da aula livre, até que outro sinal bata. E eu saí deveras cedo.

Christopher ficou comigo durante o intervalo todo, conversando e sendo um amorzinho em geral, me deixando ainda mais entregado – se é que eu posso colocar assim – para esse sentimento. O grupo de babacas nos atazanou, mas eu consegui nos defender e Chris disse que estava orgulhoso de mim. Até mesmo me levou para outros lugares da escola que Oliver não havia me mostrado, como o sexto andar do prédio e ficamos por lá.

-Dizem que aqui era um laboratório.

-Hm? – virei minha atenção para ele, parando de ver a vista que tínhamos daquela altura.

-É uma lenda um pouco antiga da escola, eu nem estava no segundo fundamental e essa história já rolava pelos corredores.

-Nossa, história de terror! Conte-me mais. – virei de costas para a sacada, olhando para ele.

-Dizem que aqui era um laboratório, mas um experimento deu errado e alguém acabou morrendo por causa das substâncias venenosas que ficaram no ar da sala – apontou para a sala enumerada "6D". – e desde então, o espírito dessa pessoa ronda por aqui e umas pessoas vêm aqui para tentar expulsar o espírito. Só que nunca dá certo. Bu! – me chacoalhou, tentando me dar um susto.

-Socorro, fantasma! – ri.

Ele continuou a falar sobre espíritos e significado da vida ou algo assim e tudo que eu podia pensar era como ele ficava bonitinho dizendo sobre um assunto que ele gosta. Gostar. Eu gosto dele. Eu gosto de Christopher.

Christopher | 16 anos

Recebi uma mensagem de Pedro me pedindo para eu descer do sexto andar porque ele queria falar comigo. "É urgente". Urgente uma vírgula, sei muito bem o discurso que ele vai fazer. Eu só queria um amigo que me aceitasse ou então que pelo menos me ouvisse. Pelo menos ouvisse o que eu tenho para dizer e dizer que eu gosto do Nicholas. Eu gosto de ouvir ele, gosto de falar com ele e vê-lo corando... Ele é uma obra de arte.

Chego à presença de Pedro e ele me arrasta até um canto, quase me esfaqueando com o olhar. Respiro fundo e ele começa a falar.

-Qual é a tua, hein? Tá esquisito demais! Fica andando com esse menino novo aí, fica todo retardado quando olha e fala com ele! Nem parece o Christopher de meses atrás!

-Eu não sou aquele Christopher. "Aquele Christopher" nunca foi eu! Eu nunca quis embarcar nessa merda de "nossa, somos os melhores por que jogamos futebol, olha pra nós, queremos atenção" – fiz uma voz idiota – eu nunca quis machucar o menino do ano passado, olha o que vocês fizeram com ele!

-Cala a boca! Eu vou virar a mão em você!

-Então vira, vira para que você prove o quão mísero e mesquinho você é! É por isso que as meninas não gostam mais de você! Vem, vem e cala a minha boca! Eu não estou errado, nós dois sabemos disso! – drama overload.

-Escuta aqui – ele agarrou meu rosto e meu pescoço com as mãos e falou baixo, para que só eu ouvisse – se você continuar com essa tua "viadagem", eu vou te delatar pros seus pais. Eu vou te tirar do time de futebol, vou machucar seu novo namoradinho! – ele me solta, indo embora.

Vejo Oliver passando perto e corro para ele. Eu preciso colocar isso para fora!

-Oliver, pelo amor de Deus, cara!

-Mas o quê? O que aconteceu, Christopher?

Puxei-o pela manga de sua blusa até outro lugar mais afastado e falei que estava sentindo algo por Nicholas. Algo forte, algo que mora aqui onde bate o coração.

-Você deve estar brincando comigo. Cadê as câmeras, o pessoal berrando "it's just a prank, bro!"?

-Não, eu estou te dizendo a verdade. Eu gosto do Nicholas. E eu não sei o que fazer. – coloco as mãos na cabeça, pensando – Pedro acabou de me ameaçar antes que eu pudesse falar algo sobre gostar do Nicholas. Disse que vai machucá-lo se eu não me afastar. E eu não quero me afastar. O que eu faço?

Ele pede para que eu respire fundo e fala algumas coisas sobre proteger o Nicholas, até que o sinal bateu. Passo o resto do dia com Oliver, longe de Pedro e Gabriel, tentando desvendar esse quebra-cabeça do que fazer em relação aos ditos cujos. Só parei de falar com ele quando o último sinal bateu e eu percebi que era hora do treino. E eu odeio que estou com medo de ir pra lá. Respirei fundo dez vezes e contei até cem. Até duzentos, trezentos, acho que contei cem vezes até o número cem. Acabei me perdendo.

Fizemos o aquecimento e então o professor passou dicas, nos mostrou passes e nos fez jogar duas partidas. Só joguei em uma e quando me dei conta, o treino tinha acabado. Nesse meio tempo, havia recebido uma mensagem de Nicholas, pedindo que eu corresse até nosso lugarzinho de fazer o trabalho, se possível fosse. E eu corri até lá, para encontrar tudo caído no chão.

-Socorro. Esse vento está quase acabando com tudo que nós fizemos. – ele me olhou, do chão.

Ajoelhei-me e comecei a juntar o que estava no chão, borracha, lápis, folhas, anotações, até mesmo dois cadernos. Estava indo pegar a borracha quando minha mão se encontrou com a de Nicholas. Senti a emoção passar pelas minhas veias, estou vivendo um clichê no momento, mas não me importo. Ele tenta disfarçar o corado de suas bochechas olhando para o lado, mas eu entrelaço seus dedos nos meus e o puxo para um beijo. Ele cai sobre mim, ainda me beijando com todo o sentimento que também guardo aqui dentro, posso até mesmo sentir seu corpo tremendo, derretendo, se tornando um com o meu. Ele nos separou num susto, voltando à realidade onde isso é "proibido".

-Christopher, me perdoa! – saiu de cima de mim – Eu ouvi o que o Pedro disse sobre nós dois. Eu não quero que ele te machuque, sei que você gosta de jogar, não sei como é sua família direito para saber se você realmente não tem medo de sair do armário e essas coisas.

Mandei-o calar a boca com outro beijo, mais suave. Ele encostou a testa na minha, sussurrando "me desculpa". Eu sei como ele se sente e eu sinto o mesmo, no aspecto de amor... E medo.

No Ordinary LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora