6- A Casa

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6:38

- ANNE! - senti um beliscão

- aiii...

- Acorda garota! Eu hein..

- Nat? Que horas são?

- Tarde, bem tarde! Faz meia hora que tô aqui tentando te acordar e nada, credo. Tive que partir pra agressão.

- Doeu... - ainda estava drog de sono - Como? Você... cadê a mamãe?

- Está lá na cozinha tomando café. Você disse que acordaria cedo e blá blá blá... SABIA! Te conheço, cara.

- Por que você tá de pijama ainda? - eu ri

- Talvez porque sua mãe desistiu de tentar te tirar desse coma que você chama de sono, olha, isso não é normal ta? Tô dizendo... Aí eu mandei 50 mensagens pra saber se você estava acordada e resolvi vir aqui.

- Que dia é hoje?

- Caralho, Anne. Tu bebeu? Hoje é sábado, vamos sair, lembra?!

- Puta merda... - dei um pulo da cama

- É puta merda mesmo, não que estejamos atrasados, mas você tem que se arrumar sabe...

- Vou tomar banho, calma, fica aí!

Não existe maneira melhor de acordar do que sua amiga vir na sua casa te beliscar. Amo muito... Sou horrível pra lembrar das coisas, sempre acabo esquecendo algo importante. O banheiro é dentro do meu quarto, tenho mania de espalhar as roupas pelo chão, gosto da ideia de não precisar sair de toalha pela casa, não enquanto eu ainda morar com alguém, aí eu até assistiria TV pelada. Fiquei constrangida de tirar a roupa com a Nat ali me olhando com aquela cara sarcástica.

- Por que tá me olhando?

- Nada ué, ah, já entendi... já entendi... tô saindo baby, não demora tá?

Ela deu um tchauzinho e fechou a porta. Como lidar? Coloquei "You know i'm no good" da Amy Winehouse pra tocar e abri o chuveiro. Aquela música deixava o banho mais interessante. Entrei no ritmo e comecei a dançar enquanto a água caía, fiz da escova microfone e cantei junto. Quando eu peguei a toalha pra sair...

- Hey! Que susto, Natalie! - ela riu

- Adorei! Você canta tão bem, cara.

- Ai para, está aí a quanto tempo?

- Tempo suficiente pra perceber o quanto você é uma vadia. Sempre dizendo "ai eu não sei dançar". Vai a merda.

- QUE VERGONHA, MEU! O que você estava fazendo aqui?

- Esqueci meu celular na cama, não pense que sou uma tarada - ela jogou uma calcinha em mim e saiu.

7:25

- Oi, mãe!

- Vocês estão prontas crianças?

- Estamos capitão! - Érick e eu cantamos em coro

- Eu não ouvi direito? - e todos demos risada daquilo

Semprei adorei Bob Esponja, minha mãe passou a cantar pra mim a abertura toda vez que íamos ao dentista, quando eu era menor tinha muito medo e isso me ajudava a ficar mais tranquila. Ela pegou as chaves de casa e trancou tudo antes de sairmos.

- Bom dia! - O Seu Beto acenou de dentro do carro

- Bom dia, tio.

- Uau, que menina linda - disse Nat

- Obrigada.

- Eu falava de mim mas você está gata também.

- Me erra... - ela riu

- Oi Érick! Meu amorzinho.

- Vamos?! - exclamou D. Clô

Todos entramos no carro e devagar o Seu Beto foi dando ré. Ele dirige muito rápido! Eu na janela sentia meus olhos virando balões de tanto vento batendo no meu rosto. Érick comendo uma maçã e minha mãe cochilando no banco dos fundos. Natalie não parava de falar um segundo sequer, estava contando o quanto ela desejava provar os burritos do Chicaritos (rede de comida mexicana), ela é simplesmente viciada em burritos e eu também.

A paisagem verde foi se transformando aos poucos em asfalto e prédios altos, agora estávamos bem longe de casa. Érick estava totalmente encantado com tanto concreto. Passamos pela praia e os parques e praças estavam vazios, haviam apenas algumas pessoas caminhando em torno. A mamãe dava as coordenadas do banco de trás e o Seu Beto ia seguindo. Passamos por um coreto coberto de plantas e flores, devia estar ali a uns cem anos, era muito bonito e aquela praça cheirava a café fresco. Que aroma delicioso. Cruzamos uma esquina, mais outra, uma loja de bugigangas e um pet shop. Chegamos ao endereço por volta das 9:10 da manhã e um carro já esperava na garagem. Essa era a vista em frente a casa: um espaço bem verde com uma árvore enorme no centro, estava toda florida, e uma rua passava em cada extremidade do campo. Dava pra ver o pet shop na esquina e uma lojinha de chás no final daquele campo. É meio que uma praça, mas sem bancos, apenas a árvore no centro cortando a visão das casas que ficavam atrás e um balanço, parecia um quadrado verde. Só grama e ladrilhos. A rua estava cheia de folhas secas e haviam crianças atravessando a rua para chegar até o balanço no imenso quadro esverdeado.

- Olá, posso ajudar? - a voz vinha de dentro da casa e era uma voz velha

- Olá, estamos à procura da Senhora Laura Campelo.

- Ah sim... as meninas. É um prazer, eu sou a Laura. Você deve ser o Roberto. Vou mostrar a casa para vocês, por favor fiquem a vontade.
Essa aqui é a garagem, comporta 1 carro apenas e a frente, como podem ver, é aberta. A vizinhança é agradável e a segurança aqui é ótima. Querem tomar café?

- Não, agradecidos.

- Posso fazer uma pergunta? - levantei o dedo -
Aquele anão de jardim ali, com o chapéu engraçado, tá incluso?

Ela olhou para a grama e lá estava o pequeno homenzinho de gesso no chão, era visível que o tempo e a chuva havia deformado sua tintura e aquele gorro não era originalmente dele, eu gostei daquele boneco.

- Ah, sim. Ele está ali desde que eu posso me lembrar. Já levaram algumas vezes mas de uma forma misteriosa ele sempre voltou pra casa. Vamos conhecer o interior da casa?

A porta fazia um barulho engraçado, eu gosto de observar tudo. Pra mim estava tudo bem até ali. Natalie passou na frente e entrou primeiro, sentou no sofá e deu alguns pulinhos, a cara dela era de aprovação. A casa era limpa e apesar dos móveis serem antigos tudo estava perfeitamente conservado, parece que a única peça que não lembrava o século 20 era a televisão lcd, nos lembraria que não tínhamos viajado no tempo, que ainda estávamos no presente. A cozinha podia ser vista da sala ao fim do corredor, andando um pouco tinha um quarto do lado esquerdo e uma banheiro logo em frente.

- Olha a piscina, amei! - berrou Nat

A porta da cozinha levava ao quintal, a piscina não era muito grande e haviam dois chuveiros na parede. A casa era perto da praia, boa localização pra quem quer passar as férias. O quarto da parte de cima era praticamente a mesma coisa, uma sacada dava pra a visão da rua e aos fundos outro banheiro com uma mesinha no centro em frente a sacada dos fundos. Tudo okay, nós cruzamos olhares a cada cômodo pra confirmar que ambas estavam gostando dos detalhes. Só faltava confirmar preços e prazos e sair para conhecer a universidade.

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