14- Sai, mãe...

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- Pronto, vê se você gosta - eu virei a cadeira.

- É... dá pro gasto.

- É o que? Tá bem melhor do que antes, todo repicado - cruzei os braços.

- Calma, tava brincando. Está maravilhoso, amei! Valeu.

- E aí, o que temos pra comer aqui?

- Pode abrir a geladeira, se você encontrar algo pode comer. Ou melhor, se você encontrar me avisa, porque né... - eu ria enquanto procurava um petisco

- Acho melhor eu tomar um banho pra tirar esse tanto de cabelo.

- Verdade - disse de boca cheia

- O que é isso que você achou aí?

- Um sanduíche, espero que não seja do seu pai.

- Não é do meu pai, é de frango, legumes...

- Nossa, ri muito.

- Você está realmente linda assim, acho que esse corte te valorizou muito mais.

- Sério?

- Aham... Você vai arrasar nessa festa, acredite em mim!

- Magina... - estava sem graça

- E... olha, quero te dar uma coisa - ela foi até o quarto.

- O que? - ela trouxe uma caixinha de madeira e me deu

- Espero que goste...

Olhei para ela e para a caixa - Nossa, que lindo... Não posso aceitar!

- Claro que pode, eu que não aceito um não. Já que você aceitou ir comigo, achei justo te presentear com algo legal. Eu até ia usar, mas... Sacomé, né - ela riu.

- Poxa, obrigada - a abracei.

- É pra usar no dia, hein!

- Pode deixar! - sorri

Ela havia me dado uma caixinha de madeira e dentro tinha uma flor que cabia na palma da minha mão. Um branco pérola, quase bege, era linda e atrás vinha com um broche. Precisava retribuir aquilo. Esperei ela terminar o banho sentada no sofá com a caixa na mão.

- Me ajuda a escolher um blazer? - ela passou de toalha

- Okay, você ainda vai comprar?

- Vou sim.

- Então, se quiser ir de bike... - eu ri

- Tem garupa?

- Tem sim!

- Então vamos.

- Ou a gente faz assim, eu te levo até lá em casa de bike e a gente pega o carro.

- Pode ser - ela olhou engraçado.

- Tô imaginando a cara da minha mãe quando ver meu cabelo, socorro!

- Ih, relaxa! Me espera trocar de roupa, tá?

Ela fechou as portas, pegou a carteira e a gente saiu. Ela era grande demais para aquela bike, cansei fácil de pedalar. Na primeira rua a gente trocou de papéis, ela ia pedalando e eu fui atrás. Ela soltava as mãos e eu gritava, adorava me deixar apavorada. Cuidado pra não derrubar a caixinha, viada!

- Mãe, posso pegar o carro pra ir ao centro?

- Anne Lorenzzo, o que... - ela pegou meu cabelo

- Curtiu?

- O que você fez no cabelo, guria?! - disse rindo

Benny cobria a boca com a mão tentando segurar a risada - Então, né... quis mudar um pouco.

- Você tá linda!

- Sério? - olhei pra Benny

- Sim, só vai levar um tempo pra acostumar, achei até que uma estranha tinha entrado aqui.

- Então?

- Ah, sim. Pode pegar, mas toma cuidado e não demora! - dei um beijinho na bochecha dela

Na loja...

Aquela loja esbanjava luxo, não era para nós. A cada passo um olhar era atirado contra nós, talvez pelo fato da Benny estar usando uma calça rasgada e um blusão em meio a tantas saias em tons pastéis, ela não era muito o estilo da clientela. Ela se debruçou no balcão e disse para a moça que estava atrás dele: eu quero olhar os blazers, por favor. A mulher olhava meio que sem entender. Moça, não queira entender, apenas nos mostre os blazers, e sim, é para mim, e ela mostrou a carteira.

- Elas tão achando que viemos levar de graça? Odeio isso...

- Relaxa, não liga pra isso - sentei no banquinho apalpando-o para sentir a maciez

- Temos esses aqui - disse a moça. O que acham?

- Rosas demais. Não tem nada cinza ou branco?

- Ah, sim... Esses aqui, pode ser?

- Gostei.

- Fiquem a vontade!

- E aí, Anne?

- Nossa, você tá uma merda, cara!

- Também achei - ela riu

E depois de várias provas e polegares para cima e para baico, ela acabou levando um look completo. Uma calça preta meio rasgadinha nas coxas e uma blusa listrada. Ela seria destaque em meio a um mar de vestidos reluzentes e coroas de plástico. Ela pagou e fomos embora.

- Será que vai ficar bom mesmo?

- Claro que vai. Eu amei!

- Se você gostou, então eu sei que está bom. Amém!

Na porta da casa dela...

- Valeu por me acompanhar, odeio entrar nessas lojas sozinhas.

- Nada... - sorri

- Até amanhã!

- Até, Benny! - ela beijou minha bochecha e abaixou a cabeça pra me observar enquanto eu dava ré.

                           ...

Enquanto eu guardava o carro, vi uma moça encostada na porta, a sombra escondia o rosto.

- Mãe?

- Buuu!

- Que susto! O que foi? - ela olhava sorrindo

- Eu dou o maaaior apoio, viu?

- Que? Mãe!

- Ué, gente. É bonita, parece ser inteligente e tá na cara que ela gosta de ti, só você não tá vendo isso, tá querida?

- Mãe, é só amizade, claro que não...

- Escreve o que eu tô te dizendo. E olha, é melhor do que ficar aí sofrendo por alguém que não te dá nenhuma certeza. Odeio ver filho meu assim...

- Natalie? Fizemos as pazes... E, qual a certeza que eu tenho com a Benny? Eu gosto dela, mas sei lá...

- É sapatão?

- Mãe!

- Fala logo! Pra quem eu contaria?

- Sim, é. Finge que não sabe, por favor... E não, eu não quero nada com ela, já tô com vergonha de trazer ela aqui.

- Tá bom, não está mais aqui quem falou.

- Sai, mãe.

- Continuo apoiando! - a voz dela fazia eco da cozinha

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