16 - O Baile (parte 2)

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- E aí, como me saí?

- Bem demais até - dei-lhe um abraço bem forte. Você tá bem?

- Estou sim...

O coordenador voltou ao microfone para anunciar a primeira atração enquanto os garçons iam servindo as mesas. "Venham, vamos sentar ali". E então sentamos juntas numa mesa próxima ao palco.

- Quem vocês acham que foram os indicados pra coroa? - Benny questionou

- Não sei, mas com certeza eu não fui.

- Será que os meninos trouxeram bebida? - Nat olhava em volta

- Não posso beber, estou dirigindo.

- Não sei, mas quero muito. Beber refri e drink sem álcool a noite toda não tem graça! - Benny falava de boca cheia

Nat estava meio pra baixo - Hey, o que ele disse pra você?

- Me pediu desculpas por ter sido um babaca, mas eu não caí na dele...

- Você é inteligente!

- Mas sabe, eu não sei... Olha lá, já está se esfregando naquela vadia! Babaca...

- Finja que não dá a mínima e ele vai parar de provocar, Nat.

- Queria dizer que não me importo, mas no fundo eu tô me mordendo. Sabe, algo que era seu ser cortado desse jeito da sua vida é uma puta dificuldade. Mesmo que ele seja um idiota e mesmo que eu nunca tenha gostado de verdade dele, tínhamos algo, e dói lá no fundo ver ele fazer esse tipo de coisa...

- Sim, é complicado mas você vai esquecer logo logo. Ele não fazia na sua frente, mas por trás devia ser a mesma coisa desde sempre. Talvez você se negasse a ver porque sentia algo no fundo, ou... não sei.

- É...

- Ihhhh, gente! Vamos parar de falar de homem aqui nessa mesa né, pelo amor de Deus. Quero beber e dançar loucamente! - berrava Benny

- Olha lá no palco! - aplausos e mais aplausos vindo da galera

-  Bem, ele dispensa apresentações! - começou a diretora - É um prazer vê-lo novamente depois de alguns bons anos, não é? Temos orgulho de poder dizer que você foi nosso aluno, a banda pôde ter a honra de tê-lo como integrante e tenho certeza que depois de hoje nossos estudantes de música terão mais um incentivo! Sua presença vai abrilhantar ainda mais nosso evento, muito obrigada!

- Essa música... Me concede a honra de uma dança? - Benny levantou e estendeu a mão

- Eu? Tá todo mundo olhando - estava morta de vergonha

- Sim, a mais bela desse salão! - ela fez reverência - A senhorita Natalie também, claro! - Nat ria

- Okay, então - respondi a referência. Mas não sei dançar!

Ela me puxou para o meio do salão e, surpreendentemente, ninguém estava nos observando. No palco tocava um música lenta, a voz daquele Fernando era sem dúvidas encantadora. Ela segurou a minha mão e eu pus a outra em seu ombro. Que sensação boa era aquela? Era engraçada a maneira que eu olhava para os pés dela tentando acompanhar enquanto ela ria e dizia "assim, não, é assim, para lá e agora para cá". Nat observava da mesa e lançava alguns olhares, na minha cabeça eles diziam "isso, vai em frente, não há nada de errado em tentar", é claro que não era o que eles significavam, mas eu pensava assim. Será? Eu não sei de mais nada. Eu tenho que parar de imaginar coisas demais. Talvez não valha a pena esperar assim. Por que não?

- Por que me chamou pra dançar? - falei em seu ouvido

- Ah, não sei. Não queria?

- Não, pelo contrário! - eu estava nervosa

- Ah, sim... Eu gosto dessa música, ela foi feita para ser dançada a dois.

- Eu sou bem desajeitada, desculpa.

- Mas você aprende rápido! - eu ri - Com certeza aquelas vagabundas estão falando da gente, não olhe agora - dei uma pequena espiada. Viu? Elas vão encher nosso saco, mas eu tô pouco me fodendo.

- Estúpidas... Sabe, gostei de você ter me tirado pra dançar. Em hipótese alguma eu faria isso, de dançar com uma garota no meio do salão ou coisa do tipo. Pra falar a verdade, por dentro eu estou tremendo.

Benny silenciou por alguns instantes até soltar:
- Coragem não é fazer de conta que um medo não existe e estufar o peito, é assumir o medo e enfrentar mesmo sabendo que ele está lá.

Quão profundo isso foi? Eu fiquei até sem ter o que dizer, mas eu entendi, pelo menos acho que entendi. Ela estava lendo meus pensamentos? Foi um tiro direto no peito, fiquei mais confusa ainda.

- O que quer dizer com isso?

- Bem, eu sei o que deve estar pensando, e acho que sabe do que estou falando. Então não preciso dizer...

Agora eu que estava em silêncio, a música acabou e todos aplaudiram. Me vi entre duas linhas de raciocínio àquela hora. Ou ela está me dizendo pra fazer o que tenho que fazer, ou isso foi um convite para si mesma. Sim, eu tinha medo, ela tem razão. Então o que faço? Olhava para as duas e sentia minhas pernas presas ao chão.

- Quem diria! Anne pé de valsa! - Nat batia palmas

- Ai, para. Depois dessa eu quero ficar aqui.

- Ué, não gostou da dança? - Benny lançou um olhar tão, mas tão sarcástico, que eu nem sei explicar.

Fingi não entender - Fui humilhada por seus pés mágicos, é o bastante!

- Meninas, eles estão servindo álcool para nós!

- Sério?! - Benny esbanjava felicidade

- Alguém mandou servir nossa mesa. Parece que alguns dos garçons estão à disposição de algumas mesas digamos, especiais.

- Não quero nem entender. Esses alunos são podres.

- Aproveitem e fiquem de bico calado!

Benny me olhava feliz. Estava mais radiante do que nunca. Era visível em seus olhos verde piscina o quanto estava animada. Natalie tentava segurar o choro entre um drink e outro e eu estava entre as duas, nem animada e nem na bad. Todos esperavam pela banda dos meninos, e quando eles finalmente estavam prontos pra tocar, todos foram a loucura. Basicamente todos os mais descolados estavam ali, e é claro, a mais desejada na classe de música: Muriel. Uma descendente de índios linda, negra, alta e de cabelos longos e lisos, a famosa Pocahontas do Olímpia. É claro que ela ficava no Bloco B, parece que os melhores sempre estão lá. A voz dela é linda e manda muito bem no piano. A única do grupo de música que sempre falou comigo, nada mais que um "oi, como vão os estudos?", e diferente dos outros ela sempre me disse que eu tinha que cantar e não me importar com o que os outros dizem da minha voz. Sempre fui calada, por isso perdi a chance de ter feito amizade antes, apesar disso, ela deve saber o quanto isso fez diferença.

Logo que eles tocaram a primeira música, as duas levantaram e foram pra frente dançar. Fiquei sozinha na mesa brincando com as azeitonas do prato. Elas não se cansavam. Fui ao banheiro me esvaziar daquele barulho todo, minha cabeça estava apitando.

- Ora, ora... Foi assim que nos conhecemos!

- Sim, voltamos ao começo. Cansou de dançar?

- Um pouco. Eu...

- Estava pensando no que você me disse - ela se apoiou na pia.

- É? Quais foram as anotações finais?

- Não sei...

- Sabe, na pista de dança ela me disse algo intrigante! Natalie está um pouco bêbada mas acho que é assim que as pessoas acabam falando a verdade.

- Como assim? - gelei

- Eu perguntei sobre esse lance da amizade de vocês, e ela me disse que também tem medo de sentir o mesmo...

Certo, por dentro eu estava morta! Por fora? Enterrada!

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⏰ Última atualização: Feb 25, 2017 ⏰

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