11- Mas como assim?

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- Filha, que cara é essa? E por que você está toda molhada?

- A Natalie tá puta comigo, mãe. E isso aqui foi um acidente com a mangueira da vizinha.

- Nossa, mas por que? Vocês são tão amigas, não podem ficar brigadas justo agora, né? Vocês em menos de 3 semamas estarão morando juntas. Ó, vê isso aí tá? Conversa com ela e acertem as coisas, independente do que tenha acontecido.

- Ah, valeu mãe, me ajudou muito... Vou pro meu quarto.

Por alguns dias eu fiquei recuada, isolada em meu quarto ouvindo P!ATD e Sia, pensei no que fazer, eu sabia que apenas desculpas não adiantariam. Primeiro eu contaria tudo pra minha mãe, desde o fato de eu ser lésbica até a confusão que aconteceu, por mais difícil que fosse era o certo a se fazer de início. Depois eu pensaria num jeito de contar pra Natalie também. Claro, eu estava recusando as chamadas da Benny e as mensagens ficaram mofando, sem falar que ficava na sala nos intervalos a fim de evitar encontrá-la, então eu teria que falar com ela, não tinha porque me afastar dela se o que eu deveria ter feito era falar a verdade pra Nat.

Peguei o telefone na sexta pra mandar mensagem, faltava apenas 1 semana pro baile.

Hey, desculpa ter feito isso com você, mas esses dias tive problemas com a Natalie e eu fui idiota em pensar que poderia descontar em você. Se quiser, não precisa responder, mas a minha vontade ainda é de ser sua amiga. Não espero que entenda, fui babaca mesmo, mas quero que você possa me perdoar...

Segunda a gente conversa melhor...

Ela também deveria estar chateada, óbvio Anne, óbvio que ela está chateada, eu também estaria. Parece que a única coisa que sei fazer é machucar as pessoas que amo, porra!

- Mãe, podemos ter uma conversa? - ela estava sentada no chão da sala ajudando meu irmão a montar um quebra-cabeças

- Oi, decidiu deixar o esconderijo?

- Vem cá...

- Tudo bem, eu volto já filho.

- Senta aí - ela sentou na cama. É... eu tenho algo pra contar, talvez você fique brava comigo mas por favor, me entenda.

- Não acredito, Anne. Tu... tu tá grávida? É isso? Meu Deus...

- Que?! Não, não! Mãe, de onde você tira essas coisas? Eu hein...

- Sei lá, você vem me dizendo que tem algo pra me contar, o que queria que eu pensasse? Fala logo, está me deixando nervosa!

- É que... - segurei aos mãos dela

- Sim?!

- Eu sou lésbica, mãe...

- Como assim?!

- Eu gosto de garotas, mãe!

- Eu sei o que significa, só fiquei chocada. Anne, como é que você me esconde uma coisa dessas? Minha vontade é dar na sua cara agora!

- Eu sei que somos de épocas totalmente diferentes e...

- Não, está tudo bem.

- Que? Assim, fácil?

- Você continuaria sendo minha filha até se pintasse o cabelo de branco e virasse uma traficante, o que eu poderia fazer? Não tem por que eu te odiar só pelo fato de você ter um gosto diferente do de algumas pessoas. Todos temos nossas diferenças, eu vou te amar independente de qualquer coisa. Eu sou velha mas é só fisicamente, minha mente é muito aberta e moderna, tá? Vem cá - ela me deu um abraço.

- Obrigada, mãe. Você e o Érick são as coisas mais preciosas que tenho. Achei que fosse gritar comigo e me humilhar...

- As pessoas deveriam aprender a amar mais. Só fico chateada de você pensar isso de mim, eu que sempre disse que você poderia me contar tudo que quisesse. Poxa...

- Desculpa... você está certa. Mas viu o que aconteceu com aquele garoto na Tv, ele foi morto pelo próprio pai, fiquei com receio de contar depois disso. Mas aí eu vi que não dava pra adiar mais.

Ela me abraçou de novo - É por isso que você se escondeu desse jeito?

- Na verdade, eu... eu gosto da Natalie, mãe - ela ficou surpresa. Aquele Ron ele não presta, ele me ameaçou e disse coisas horríveis. Não contei pra ela e deu no que deu, ela ficou puta e me ignorou... Me ajuda!

- Sério? Esse menino não tem mãe não? Se eu ver ele na rua eu juro que arrebento a cara dele, tá pensando o que? A minha filha tem mãe. Você é tão forte, vai se deixar abater por um moleque qualquer?

- Não sei, nunca gostei dele, mas sabe como é... Eu só preciso contar pra ela, mas não sei como. Ela só vai ficar mais zangada do que já está... O que deixou ela assim foi saber que eu saí com a Benny aquele dia quando eu não estava falando com ela.

- Bom, não sei... Não posso me meter nisso, você abriu a ferida agora trate de fechar.
Mas essa tal de Benny aí, algum... sabe como é... lance?

- Mãe - fiquei sem graça, claro que não.

- Ah bem, foi só por curiosidade - ela riu.

- Obrigada por entender, te amo.

- Também te amo. Agora sai desse quarto, ou será que terei que usar a força?

- Ok, ok...

Na segunda, Natalie me olhava do outro lado da sala, ela não me esperava mais pra pegar o ônibus e procurava sentar longe de mim, doía demais. De vez em quando ela virava o pescoço e eu também, quando percebia virava o rosto de novo. O nojento do Ron sentava atrás dela e sorria, argh... No intervalo eu fui até a quadra ficar sozinha.

- Sabia que te encontraria aqui.

- Oi, desculpa...

- Xi xi xi... não fala nada não. Eu te desculpo, tá tudo bem. Fiquei boladona, mas agora tá okay. Como você está, tá bem?

- Depende do que é estar bem... ainda amigas?

- Claro! Olha o que eu trouxe.

- Donuts! - eu sorri

- E com cobertura extra, mandei Teenie caprichar pra você.

- Poxa, Benny... eu não mereço.

- Eu sei, mas chocolate sempre faz bem - ela riu.

- Obrigada.

- Posso passar na sua casa sábado?

- Sério isso?

- É ué, quero que você vá comigo.

- Tá... pode ser. Mas e a garota?

- Ela já aceitou...

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