Capítulo 4 - Operação reconhecimento e o cientista

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Ouço alguns barulhos e lentamente vou acordando. Olho para os feixes de luz que invade o quarto e percebo que já tinha amanhecido...

Através da porta de madeira que estava meio corroída pelo tempo, decidi me levantar. Percebo novamente que não estou em casa, e bem no fundo do meu âmago uma sensação de tristeza invade cada célula do meu corpo. Respirei fundo e abri a porta devagar fazendo um barulho suave de madeira se mexendo, imediatamente a mãe da garota que teve compaixão de mim na noite passada surgiu pelos fundos da casa e sorriu para mim falando algumas coisas que novamente eu não entendi. Começo a andar e percebendo que ela gostaria de saber quem eu era, pois seu olhar de curiosidade era totalmente visível. Então decido falar:

-Eu... Sou... Lecce.

Falei lentamente apontando o dedo pra mim.

-Lixere!

Ela me responde exclamando sorridente.

Então eu tive que corrigi-la:

-L-E-C-C-E!

Exclamei pausadamente.

E logo ela respondeu:

-Lecce?

-SIM! ISSO!

Logo ela sorriu, e novamente aponta pra ela dizendo que seu nome era Jenny! Bem... Já é um início interessante. Agora conheço uma desconhecida. Estava progredindo. Nesse momento a porta principal da casa se abre e a garota ruiva entra olhando pra mim e com um ar de curiosidade. A Jenny apontou para a sua filha e disse que ela se chamava "Kymm" que futuramente descobri que significava "Bela" na língua deles. A Kymm carregava um grande tubo de madeira de carvalho e estava amarrado com uma corda desgastada e suja. Ela logo foi desatando o nó que havia no tubo e retirou de lá um mapa de pano enquanto a Jenny tirava alguns copos e bugigangas que havia em cima da mesa. A mesma mesa que na noite anterior tinham me servido uma sopa de legumes que tinha um gosto estranho. Então desenrolou o mapa e colocou sobre a mesa, o mapa era grande, cobria toda a mesa e as bordas ainda ficavam querendo encontrar o chão. Desse modo, a Kymm apontou para elas e depois colocou o dedo no norte do mapa que tinha o nome de Ilíria. Devia ser o nome do continente, eu imaginei. Depois ela tentou falar algumas coisas que eu entendi que ela queria saber de onde eu era. Eu disse que não pertencia a lugar nenhum daquele mapa gesticulando e fazendo uma cara duvidosa, então elas ficaram me olhando e eu quebrei o silêncio do momento que já estava começando a ficar tenso:

- B-R-A-S-I-L. Moro no Brasil. Isso aqui não é civilização, estamos nos tempo das cavernas, ou quase isso...

Disse isso revirando os olhos e dando de ombros com um ar de ironia. Então a Kymm olhou pra sua mãe e disse algo que eu não entendi (pra variar) e então tentou usar alguns sinais pra que eu pudesse entender. Então algo que eu não esperava aconteceu. Ela apontou para sua boca e para mim como se quisesse aprender meu idioma. Agora as coisas iriam ficar interessantes. Uma ruiva de olhos verde extremamente linda querendo aprender a falar minha língua. Então eu comecei a pegar alguns objetos e dizer o nome como "Colher". E ela falava: "sunig". "Faca". "Suki". E por ai fui começando a aprender alguns nomes dos objetos que tinha naquela cozinha. Até comecei a rir quando ela tentou pronunciar "cadeira" sendo que ela tinha falado "Ce-dai-ra". Logo o tempo se passou e ela sinalizou que tinha que sair. Pedi pra ir com ela e ela aceitou. Acenei para a Jenny quando estava saindo da sua casa. Nesse momento, eu ainda estava usando a roupa marrom da noite anterior e pretendia trocar assim que pudesse.

Assim que Kymm sai pela porta da frente, eu a segui e assim que saí da casa, os raios solares logo incomodaram meus olhos, poucos segundos depois, já estava começando a adaptação a nova realidade. Dei uma olhada a minha volta e o chão ainda estava molhado da chuva na noite anterior. Parecia não ser mais que dez horas da manhã A Kymm me chamou pra que eu a seguisse e andasse um pouco mais depressa, ela parecia que estava um pouco nervosa.

Enquanto eu a seguia olhava a minha volta e contemplava a arquitetura de cada casa que era bem variada, tinha casas de madeira, de pedra como a da Jenny e até mesmo algumas de um material que eu não identifiquei. Logo percebi que estava em um tempo que com certeza não era dia 1 de Janeiro de 2019. Vários camponeses caminhavam pelas ruelas daquela pequena cidade. Quanto mais eu me aproximava do centro, mais pessoas trajando roupas que eu considerava exóticas apareciam. Roupas das mais coloridas possíveis até as combinações mais improváveis. Então, na medida em que andávamos, logo vi o bar em que os "cavaleiros" foram beber na noite passada, e não muito longe dali vi comerciantes vendendo todo tipo de tralha que vocês possam imaginar. Vários objetos de madeira e de barro bem coloridos estavam expostos em "bancas" no meio da rua que cheirava mal. Pensei comigo mesmo "será que existe saneamento básico aqui?".

Não podia perder a Kymm de vista, pois se perder nessa cidade não era a melhor estratégia. Assim que íamos andando vários homens a encaravam, e eu como resposta franzia a testa e colocava aquele olhar maligno que todo mundo tem quando quer defender algo precioso. A Kymm foi bondosa comigo, e eu devia a ela e a sua mãe. Então protegê-la era o mínimo que eu podia fazer, nem que fosse com apenas um olhar.

Chegamos até uma casa. Eu estava um pouco longe da porta enquanto ela bateu e esperou. Olhou pra mim e sorriu. Então fiquei um pouco envergonhado e sorri de volta. Nesse momento, um homem velho e baixinho com um avental de pano, luvas de couro e botas de couro parecendo um açougueiro surgiu pra quebrar o clima, ele tinha um aspecto raivoso e parecia querer descontar na Kymm, mas ela não se importava, como se aquela briga fosse de costume. Ela me chamou pra que eu a seguisse novamente só que agora entrando na casa. Ela era maior que a casa da Kymm e da Jenny, ou seja, o velho tinha grana, e deve ser por isso que a Kymm estava lá.

O velho era mais baixo que eu, porém sua ignorância com certeza superava qualquer altura. Sempre franzindo as sobrancelhas e colocando uma cara de mal, a Kymm conversava com ele pedindo algo, e depois percebi que ela pedia um "emprego" pra mim. Depois de muita reclamação o velho cede e me chama até ele. Então eu me aproximo meio duvidoso e com cautela, e ele se vira me dando as costas e logo me entrega uma caixa. Quando eu olhei havia uma roupa semelhante à dele, botas de couro, o avental e as luvas, eu estranhei, pois não sabia o que a Kymm estava fazendo ali, nem do que aquele velho era capaz, até pensei em sair dali correndo se desse algo errado.

O velho então nos chama pra outro cômodo e nos mostra uma entrada para o porão. De inicio eu disse, eu não vou entrar ali... Mas quando a Kymm abriu aquela entrada e entrou lá pra baixo eu a segui instantaneamente. Quando eu desci a escada, a iluminação amarelada logo indicava que era à base de muitas velas e candeeiros, quando eu olho em volta... Eu digo:

- Só pode estar de sacanagem comigo. Esse velho é o quê? Algum tipo de cientista louco ou será que posso chamá-lo de "Mago?".

A incrível história de Lecce HawksOnde histórias criam vida. Descubra agora