Dormindo com o céu

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Páginas de um diário que pertenceu um dos membros do grupo de resistência ao império.

[...]ele demora uma ampulheta para seu almoço, acho que deve ser tempo suficiente para eu conseguir o que eu quero. Uma armadura real seria muito útil para transitar dentro da cidade, não precisarei de subir em telhados.

Feito, eu o eliminei hoje e consegui obter aquela armadura, agradeço aos deuses por me dar cabelos negros como o da minha mãe, ainda há poucos elfos nas cidades e somos observados a todo momento por causa da inquisição.[...]

Engraçado, hoje parece que eu vi ele, o herói das historias da antiga floresta oeste daqui, me lembrou de casa onde vivi durante 56 anos até a guerra começar e nos tirar de lá, estranho a repentina vontade de falar sobre os anos que não voltam mais, isso é um relatório, mas sou meu próprio superior acho que não há problema. Os humanos sempre tiveram algo dentro deles que foi intrigante para nós elfos, para quem estiver lendo isso( não sei se seria algo muito positivo para a nossa causa se isso acontecer) saiba que a Grande Guerra aconteceu por ganancia dos humanos, eles queriam expandir em direção as nossas florestas e nós pedimos que não fizessem isso pois podíamos trocar o que precisassem, mas como disse antes os humanos tem algo dentro deles, derrubaram a muralha e entraram em nossas terras, queimaram tudo que podiam, bibliotecas, templos, monumentos e fazendas. Eu tinha 60 anos quando fui alistado para ajudar o Reino Verde, vi e vivi coisas que gostaria de ter esquecido ou nunca presenciado, nessa guerra eu aprendi algo que me deixou triste, sabe aquilo que os humanos tem? Parece que os elfos aprenderam a ter aquilo também, descobri isso numa noite horrível.

Uma vila humana era nosso alvo, as ordens eram de matar os alvos militares e prender os homens aptos a batalha, porém durante o ataque nosso superior foi morto e outra pessoa assumiu o comando, quando o ataque tinha terminado crianças, idosos e mulheres estavam reunidos na praça da vila e já sabíamos que era pra poupar a vida deles, porém o nosso novo superior ordenou a morte deles, dizia que para cada humano vivo era uma afronta a nossa vida.

Ele executou eles, eu executei eles, mas eu sentia algo diferente, talvez aquilo que os humanos tem...

[...]incrível, é o herói das historias porém ele vive bebendo e caído na cidade afora, talvez só em livros eles tem finais felizes, já passei ao lado dele e ele está sempre sujo e destruído por bebida.[...]

[...]ele foi preso hoje por atrapalhar a ordem imperial, fui ter uma conversa com ele e foi incrível ver como um simples sentimento pode destruir uma pessoa, humanos são conhecidos por serem mais fracos emocionalmente mas tem vida curta para compensar isso. Não ele, esse humano é especial, ele é imortal por magia elfica dos espíritos, muito poucos humanos conhecem essa lenda, quando falei para ele sobre nossa ordem ele recusou sua identidade, disse que não é mais o que pensa.

Ele saiu da prisão e veio me procurar aqui na floresta, cortou os cabelos longos mas não aparou a barba, uma armadura de couro antiga que suspeito ser da Grande Guerra e uma espada imperial, nada como tinha imaginado lhe confesso. Lhe apresentei a nossa ordem, Tendryl quase me matou por trazer um humano até nossa "caverna", vou precisar trabalhar isso ainda.

Está sendo muito difícil lidar com esse grupo, as brigas internas estão sendo desgastante, a unica coisa que pedi a ele foi que fizesse uma ronda, ele foi beber e não voltou e Tendryl está quase rasgando suas orelhas com as próprias mãos, hoje vamos para a pequena vila ao leste da Cidade Central, parece que onde o mago Drakmha destruiu nasce algo novamente.

Impressionante ver isso pessoalmente, os contos diziam sobre um floresta que foi roubada de Demeria, mas Drakmha fez algo extraordinário para um mortal, ele transformou uma floresta inteira em deserto e agora cresce uma pequena vila aqui, mas os imperiais já estão aqui. Pedi para que o Tendryl e o Fogo(ele ainda não nos contou seu nome) pudessem achar algo que ajudasse a libertar essa vila.

[...] na noite de hoje algo aconteceu na vila, luzes nas ruas como se alguém estivesse balançando uma tocha cheguei a pensar que podia ser eles, mas combinamos de não fazer sinais tão óbvios.

Inadmissível o que aconteceu, as luzes ontem a noite era ele, Fogo, ele matou todos os guardas da cidade e mandou todos os humanos embora, não é por isso que lutamos, já tentei conversar com eles sobre ontem a noite, Tendryl tende a não dar opinião e aquele bêbado estupido nunca faz o que é pedido.

Hoje recebi uma mensagem das águias a oeste de acordo com ela o império esta mandando um grupo de soldados para guarnecer essa vila, se eles mostraram interesse aqui não posso deixar que consigam dominar.  

Esses relatos foram achados em paginas separadas do diário original.

[...]tudo que lutei, tudo que acreditei, foi jogado fora, meus próprios irmãos me traíram por ouro, por ouro...

Não vi para onde levaram o resto do grupo mas eu vi o que fizeram com Anabel, pelos deuses eu achava que ainda tinha esperança nos humanos, eles a estupraram e jogaram seu corpo no deserto como se não fosse nada, eu convenci ela a lutar com nós, eu matei a pessoa que eu amava.

Luz luz luz luz Luz ... o dia queima e a noite também, eu sou um só com o deserto, já faz tanto tempo, acho que foram 5 ou 6 anos não posso confirmar, aquele humano me deu uma folha, ele talvez seja diferente deles ... luz luz luz luz luz ... Anabel me desculpe meu amor.

Seria isso uma maldição? Por que nós temos tantos anos de vida? Eu quero ver ela de volta, por favor me matem, ME MATEM!! Não posso tirar minha própria vida, Lewe não leva aqueles que não valorizam a própria vida, eu perdi noção do tempo já foram mais de 10 anos sem dúvida a pior parte disso tudo não é estar preso ... é não lembrar como era o rosto dela mais.

Luz é saída disso, meu plano para sair daqui finalmente está completo, se meus cálculos estiverem certo amanhã será o Dia do Chaos, só preciso do sangue daquele humano, magia de sangue é estritamente proibido para o nosso povo, eu não tenho mais povo, não tenho mais vida seque sei se ainda existe algo la fora além de luz.

A pagina a seguir foi encontrada escrita em sangue em um pedaço queimado de papiro na antiga cidade de Drakmha.

me desculpe pelo o que fiz Lewe, fugi do seu caminho ... mas você me abandono quando mais precisei ... seu irmão me ouviu e me ajudou ... aquele maldito humano me acertou com sua lâmina ... luz ... fazia tanto tempo que eu não via o céu ... irei morrer sem duvida mas pelo menos tirei a duvida que sempre tive. Agora eu sei aquilo que os humanos tem de tão especial, chama ódio ... daria minha alma a qualquer deus pela oportunidade de tirar a vida de um humano de novo ... jamais irei ver o rosto dela novamente, não depois do que fiz , morro aqui hoje mas o que fiz ira ecoar nas eras seguintes.

Quando a noite não acabar, quando o frio do deserto congelar sua alma, quando um deus cair outro irá nascer, e dos ossos do caído os mortos vão respirar, as areias desse deserto voaram oeste, para concluir o que ele não terminou.




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