2. Even my dad does sometimes

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Tudo começou com uma ideia, um tanto besta, que Sherlock provavelmente iria recusar se John não tivesse insistido tanto naquilo.

— Eu comprei essa mini câmera, que você pode colocá-la escondida no seu cachecol. - explicou, mostrando o pequeno aparelho. Era tão minúsculo que parecia algum brinquedo que fazia parte de uma coleção. - Isso vai filmar tudo o que eles fazem com você. Isso vai te ajudar.

— Eu não quero usar isso. - resmungou irritado, olhando para todos os lados menos para o garoto loiro em sua frente.

Watson suspirou. O jovem colocou gentilmente suas pequenas mãos no rosto do cacheado, levando seu rosto para mais perto do mesmo. Ah, aí está, novamente. Aquele estranho sentimento no estômago, como se tivessem aberto um pote repleto de borbotas ali mesmo. Sherlock estremeceu.

O garoto de cabelos encaracolados observava o amigo, calmamente, com a boca entreaberta, como se estivesse prestes a falar algo importante. Noutro lado, John percorria o olhos por cada traço do amigo, como se estivesse cara a cara com um dos melhores quadros já pintado em toda Europa. Watson levava, gentilmente, seu dedo até a boca do moreno, pedindo por um minuto de silêncio.

— Você já está tão machucado, e ainda tenta recusar minha ajuda? - sussurrou baixinho, com os olhos fechados. Não queria ver a cara de tristeza que o melhor amigo provavelmente estava fazendo. - Quantos xingamentos será preciso para você aceitar, Sherlock? Quantos– Quantos cortes, e quanto sangue no seu edredom será preciso? Sherlock, eu me importo tanto com você. Você é mais do que um melhor amigo, muito mais do que isso. Então, por favor.

— Isso é um confissão de amor? - perguntou, também baixo, notando o loiro abrir os olhos calmamente e formar um pequeno sorriso em seu rosto. - Me responda, John. Talvez se você me responder eu posso pensar melhor sobre o assunto.

— Não pergunte coisas das quais você já sabe a resposta. - respondeu, entregando a mini câmera para o cacheado. Suas mãos tocaram por cinco curto segundos, e Watson conseguiu ver de relance algumas das cicatrizes avermelhadas que estavam se formando no pulso do mais alto. - Use isso. As coisas vão melhorar, eu prometo.

John poderia ter respondido que sim na hora. Ele podia ter dito que o amava, mais do que melhores amigos se amavam. Era extremamente diferente do que um amor entre amigos, ou entre irmãos. Era um amor puro, e doce, que ambos desenvolveram depois de passar por muita coisas juntos.

Eles podiam admitir isso em voz alta. Podiam contar para os pais, não seria um problema. Podiam andar de mãos dadas, trocar beijos e carícias, e deitarem juntos na grama verde e fresca do jardim, em uma noite fria de lua cheia. Eles podiam fazer tudo, se quisessem, mas não iriam.

Sherlock aceitou a câmera e, com um suspiro desanimado, levantou-se da cadeira em que estava e deitou-se em sua cama. As cobertas azuis estavam bagunçadas, dando a leve impressão de que Holmes estava sendo devorado por um vasto mar. Sherlock ficou parado, em silêncio, antes de se levantar e pegar seu cachecol azul que estava largado na cama, colocando a câmera ali. John sorriu.

— Você pode deixá-la ligado o tempo inteiro. Não emite nenhum som nem luz. - assegurou, imaginando que o amigo ainda estava preocupado em ser descoberto usando o objeto. - Vai ficar tudo bem. Se eles te machucarem de novo, eu vou saber depois. Ou quando eu entrar por algum computador.

Sherlock não respondeu. Apenas continuou olhando para o minúsculo objeto, incerto do que fazer. John sabia o melhor a ser feito no momento; o cacheado deveria, de todas as maneiras possíveis, escutar o amigo. Ele deveria, e iria, mas por que estava tão inseguro com isso? Tão assustado?

Não foi preciso esperar nem um dia para ver se a câmera funcionava. Logo quando ambos amigos foram para escola, depois de algumas aulas, Sherlock já encontrou com Moriarty. O garoto de cabelos escuros, delicadamente arrumados, com um excelente terno da marca Westwood era um dos maiores problemas do cacheado. Era uma das coisas que mais lhe irritava, e lhe causava medo ao mesmo tempo.

A boy like him・ShortficOnde histórias criam vida. Descubra agora