1. Art was supposed to make us feel something

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Sherlock sorriu, por um breve período de tempo.

— Você deveria sorrir mais, - disse John, um tanto tristonho com a falta do maravilhoso e radiante sorriso que o melhor amigo possuía. Era como se aquele sorriso tímido, pequeno, pudesse espantar todos os males. - combina com a sua aparência. Com seus cabelos negros encaracolados, e sua pele branca igual à uma boneca de porcelana, delicada e frágil. Combina com sua aparência única.

E Sherlock riu, como se aquilo fosse uma piada que John retirou de algum livro. O cacheado riu porque sentia que aquilo fosse uma piada; que tudo em sua volta fosse um tremenda piada, e nada fosse verdadeiro, ou verídico.

Todos e tudo eram completamente falsos, como as frases que proferia falando que tudo iria ficar bem, ou suas promessas de que nunca mais iria se machucar. Menos John Watson. John não era falso como tais frases, nem como cílios postiços e a forte maquiagem de garotas que querem crescer rápido de mais, enganando-as a si mesmas. John era tão verdadeiro quanto a luz do luar em uma noite fria, na qual Sherlock gostava de bebericar um chá. Ele era tão verdadeiro quanto as lágrimas que o cacheado derrubava, depois de um longo e cansativo dia. Ele simplesmente era a coisa mais verdadeira e real que Sherlock já conseguiu imaginar; era tão verdadeiro que até parecia uma mentira, algum conto de fada.

— Pare de rir! - disse em um tom manhoso, balançando os ombros largos e firmes do moreno. A cada balanço Sherlock diminuía seu riso, e aumentava cada vez mais um sorriso, timidamente. - É sério, você deveria sorrir mais. Olhe como você fica bonito desse jeito. Seus olhos cristalinos se enchem de vida, e suas bochechas ficam com um tom tão rosado, é adorável.

— Você realmente me acha bonito? - perguntou sem um pingo de vergonha. Seu sorriso desapareceu quando fez tal questão, já que era algo sério. Era algo que ele precisa escutar, palavra por palavra, sílaba por sílaba, calmamente e gentilmente.

— Sim. - respondeu, envergonhado, levando suas mãos para tocar o rosto do garoto. Sentia que as maçãs do rosto do mesmo poderiam cortar sua mão à qualquer segundo. - Eu te acho a pessoa mais bonita quando está sorrindo, alegre e animado com algo. Até mesmo quando você está triste, com aqueles cortes encharcados com seu próprio sangue, misturando-se com suas lágrimas salgadas e cheia de angústia. Quando você está me chamando pelo nome, contente por causa de alguma experimento, ou quando você está me ligando às duas da madrugada reclamando o quanto as palavras machucam mais do que os cortes recém-criados. Você é simplesmente a definição de uma bela e assustadora obra de arte que os artistas pintam quando estão com a cabeça cheia de palavras, sentimentos, dúvidas e inseguranças.

Sherlock não sorriu, ou riu desta vez. O garoto de cabelos extremamente cacheados continuou ali, parado, sentindo as mãos um tanto delicadas e macias do garoto loiro que continuava o encarando.

Suas testas estavam juntas, como se fossem iniciar um beijo igual casais apaixonados faziam quando estavam sentados em um banco de madeira, na beira de um rio com a água cristalina, de baixo do escaldante sol de verão.

Eles poderiam ter se beijado, se quisessem. Estavam tão próximos um do outro que podiam sentir o hálito gelado, os batimentos cardíacos e o medo que pairava no ar em um boleta negra, como se fosse um morcego sobrevoando o local onde se encontravam.

Sherlock já conseguia sentir os lábios levemente rosados do amigo no seu, em uma perfeita sincronia. Já imaginara isso há muito tempo atrás; talvez desde que o conhecera, provavelmente. Não se lembrava mais.

Entretanto, nenhum movimento importante era feito. Seus batimentos cardíacos já não estavam uma bagunça como antes, e ambos garotos se acalmavam, lentamente, como se nada tivesse acontecido. Porque eles não precisavam se beijar, ou fazer qualquer outra demonstração de afeto total. Eles apenas precisavam estar ali, com os rostos próximos, como se fossem realmente um casal de verdade, envergonhados por quererem algo à mais.

— De todas as obras de artes que eu já pude apreciar, sendo elas abstratas ou não, você definitivamente é a minha favorita. - sussurrou tão baixo quanto o vento, que silenciosamente passava pela cortina bege da janela, chegando até os cachos do moreno. - Seus traços me intrigam mais do que deveriam. Eles são tão delicados, e adoráveis, como os de um bebê rindo dos pais.

Sherlock às vezes pensava que John o via somente como uma criança, assustada com tudo em sua volta. Às vezes o mesmo se sentia como uma criança, desamparada, completamente sozinha e solitária neste vasto mundo tão cheio de vida e alegria. Lutava para não se sentir assim, mas vinha de repente, como uma chuva de verão.

O cacheado gostava de escutar tais palavras vindas do loiro. Elas eram doces, tranquilas e seguras, com uma pitada de malícia envolvida; mas isso não importava. Escutar tais frases o arrepiava, deixando-o vermelho de orelha a orelha, como uma adolescente presenciando o amor pela primeira vez. Deixava-o calmo, sem preocupação alguma, e tinha vontade de guardar tais palavras apenas para si, para sempre. Não queria dividi-las com ninguém, de forma alguma.

Porém, mesmo com isso, nada o impediu de tomar esses remédios estranhos, que o causaram tontura no exato instante. Quando sentiu os comprimidos descendo pela sua garganta, sabia que estava na hora; havia sido fraco demais e, por isso, não iria sobreviver. As palavras do melhor amigo agora não importavam mais, quando Sherlock continuava caído no azulejo branco do banheiro, perdendo seus sentidos, um por um.

Quando sua mãe chegou em casa, com as mãos cheias de sacolas lotadas com compras feitas no supermercado, logo notou a falta da presença do filho mais novo, que não respondia seus gritos preocupados. Vê-lo daquele jeito, com os olhos fechados e a boca entreaberta, e a respiração já desregular; o arrependimento lhe causou um frio na espinha.

Tentou acordar o garoto, o seu garotinho de cachos negros como a noite, mas nada parecia adiantar. Ligou desesperada para a emergência, quase deixando seu celular cair de encontro ao chão por conta de suas mãos trêmulas e fracas. Precisou ligar para John em seguida, gaguejando e não conseguindo segurar aquele choro descontrolado e assustado.

John escutou cada palavra proferida pela mulher, sem conseguir responder nada em volta. Seus olhos estavam marejados, e a única coisa que conseguia fazer era abrir e fechar sua boca desesperadamente, em um fracassado ato de tentar respondê-la. Agora estava tudo mais claro; não havia tentando o suficiente, e seu melhor amigo iria morrer por sua culpa.

Se ao menos John tivesse colocado mais sorrisos no rosto do cacheado, e talvez tivesse o beijado. Tudo se resumia na palavra se, tornando as coisas mais complicadas.

Se ele tivesse feito alguma coisa a mais, isso teria ajudado o amigo agora inconsciente?


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oie gente, só queria avisar aqui que essa shortfic pode ficar um pouco confusa depois do segundo capítulo. por que? porque eu não vou ter uma ordem exata para escrever as coisas, tipo, eu posso tanto escrever sobre o passado (das coisas que o sherlock sofria) quanto o futuro (sobre o sherlock em coma e o john triste). eu também não vou ter uma ordem pra escrever isso, eu posso escrever dois capítulos do passado em seguida, ou um capítulo do passado depois do futuro e por aí vai. só espero que não fiquei muito confuso na leitura!! beijos. 💙

A boy like him・ShortficOnde histórias criam vida. Descubra agora