7. But for how long?

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Seis semanas. Passaram-se seis semanas inteiras e Sherlock ainda estava no mesmo estado; sem esperança, praticamente um corpo morto. À cada dia que passava ficava mais magro, e sem uma cor definida. Antes de tudo já era branquinho, como a neve - e, quando criança, John gostava de chamá-lo de branca de neve, pois saiba que aquilo provocaria o garotinho. -, mas agora estava tão sem cor. Exatamente como o mundo em que Watson vivia agora.

Continuava visitando o amigo, é claro. Talvez porque se sentia culpado - isso ele tinha certeza. Ou, talvez, ele ainda tivesse um pingo de esperança, no meio de tantos avisos para desistir logo antes que machuque mais do que o necessário.

Sua vida consistia em ir para a escola, e para o hospital. Dormir em uma cama macia, e depois em uma cadeira desconfortável. Ter que aturar pessoas curiosas querendo saber do estado do amigo, e ficar sozinho em um quarto de hospital. Sua vida não era mais sua vida, ela não se resumia mais nas coisas de antes; sua vida agora se resumia no amigo quase-que-morto. E em mais e mais preocupações.

John começou a matar aula. Já fazia isso antes, para ficar com o cacheado, mas agora acontecia com mais frequência. Fazia isso para que pudesse passar a manhã no hospital, observando o amigo.

Agora, John já não ia mais para a escola, e sua mãe nem reclama. Deve ser uma fase complicada, ela pensava toda manhã, quando passava pelo quarto do filho para encontrar o mesmo dormindo desajeitado na cama, e às vezes até mesmo na cadeira, com a cabeça apoiada na escrivaninha.

Watson passava horas naquele hospital, até mais do que a família do cacheado. De vez em quando via Violet e o irmão mais velho, Mycroft. Sempre os cumprimentava com um sorriso enorme, porém isso não enganava o irmão de Sherlock.

— Ele está deprimido. - sussurrou um dia desses, enquanto a mãe pegava um café para o garoto loiro.

— Não seja tolo, Mycroft. - respondeu. - John só está... triste. Ele não acredita que o Sherlock possa morrer.

— E você acredita? - ousou perguntar, fazendo a mãe parar no meio do caminho.

— Eu... Não faça esse tipo de pergunta, filho. - riu fraco, coçando a nuca. - Seu irmão vai melhorar. Eu acho.

— Mãe, o John está deprimido, vocês tem que fazer alguma coisa sobre isso! - mudou completamente de assunto. - Ele anda faltando nas aulas, não se alimenta direito, vive dentro daquele quarto e pelo amor de Deus, como você acredita que aquele sorriso que ele faz sempre que nós vê possa ser verdadeiro? Ele está deprimido. Vocês querem que ele acabe fazendo a mesma coisa que o estúpido do Sherlock fez?

— Seu irmão não é estúpido! - exclamou um tanto alto demais. - Pare de piorar as coisas Mycroft, tudo anda sendo difícil para todos, principalmente para o John. Ele está triste. Provavelmente sem rumo e esperança. Mas ele não vai fazer a mesma coisa que o Sherlock fez, porque...

— Porque seria muito clichê e o Sherlock não gosta de clichês. - uma voz fraca disse, seguida de uma risada silenciosa. John havia acabado de acordar, e ainda estava com os fios loiros bagunçados. - Não se preocupem comigo, eu não estou deprimido. Eu estou bem. E Sherlock vai ficar bem.

Mycroft o analisou dos pés à cabeça, na esperança de tentar encontrar alguma coisa, alguma falha; mas foi em vão. Não conseguia observar nada pois John não oferecia nada para observar. O garoto literalmente era um peso morto, sem sentimentos.

— Pare de me analisar, Mycroft. - pediu baixo, sorrindo. - Sherlock não gostava disso. Desse dom. Não faça isso aqui.

Watson pegou o café nas mãos de Violet, e agradeceu a senhora antes de entrar no quarto do amigo novamente - provavelmente para passar o resto do dia trancado lá.

Sra Holmes suspirou, cansada. Tudo estava uma completa bagunça.

— Definitivamente deprimido. - a mulher disse, do nada, olhando para o filho mais velho com os olhos marejados.

— É. - concordou. - Deprimido. Como eu disse.

— O quê nós vamos fazer? - chorou, abraçando o filho, que fazia de tudo para parecer forte.

— Cuidar dele. Não deixar ele pensar da mesma forma que o Sherlock. - sussurrou, abraçando mais forte a mãe. - Quando o Sherlock melhorar o John vai melhorar também. Se o Sherlock viver, o John vai viver.

— E se ele não viver?!

— Temo em dizer que não existe um mundo sem Sherlock Holmes na mente do John. - mordeu o lábio inferior, segurando as lágrimas. - Temo em dizer que... a vida não faz sentido para o John sem o Sherlock. Eles precisam estar juntos, porque eles se amam. Você nunca reparou nisso?

— É claro que eu reparei. Eu sou uma mãe. Sei quando meus filhos estão apaixonados. - sorriu por milésimos de segundos. - É por isso que eu tenho tanto medo que aconteça algo ruim. Tenho medo do que ele possa fazer.

Em fato, todos tinham medo. A mãe de John até ligou para o psicólogo da escola, mas não teve coragem de continuar com a ligação.A mulher não tinha forças o suficiente para dizer ao filho que ele precisava de ajuda imediatamente.

Mas Watson não se importava com isso. Ele gostava de ficar sozinho com o amigo, conversando e rindo - complementa sozinho. Ele gostava de assistir desenhos animados com o cacheado, e gostava principalmente de ler livros, mesmo sabendo que o amigo não podia escutar uma palavra sequer - ou talvez pudesse, ele não tinha certeza.

John gostava de ficar sozinho com Sherlock. Ele gostava de ter a companhia do cacheado, mesmo que o mesmo não retrucasse suas frases com algo sarcástico ou risse de suas piadas sem graça.

John só precisava disso, por enquanto. Mas por quanto tempo ele vai aguentar todo aquele silêncio?

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mehhh

A boy like him・ShortficOnde histórias criam vida. Descubra agora