Queria gritar mas não tinha voz, ou pior, tinha mas não era ouvida. Ignorada, despercebida. Queria gritar mas não tinha fôlego, ja estava cansada, abatida, pronta pra cair. Queria gritar mas pra quê? Por que? Por ela mesma. Por sua liberdade, felicidade. Será que só os outros mereciam? Não era suficiente.
Será que valia a pena lutar? Será que a luta valeria o esforço? Não tinha fôlego, portanto não poderia gritar.
Lua acorda suada, um pesadelo? Não. A realidade. Levanta tonta da cama, esbarra na prateleira e derruba os livros no chão. Sai do quarto, sente que as paredes estão se fechando. Chega na base da escada.
Não vai conseguir, pensa. Senta e encosta na parede, está presa, sem ar, diria até que está tendo uma crise. Começa a chorar, soluços desesperados escapam de seus lábios. Precisa sair, é mais que um apelo, é uma necessidade.
Não consegue levantar, engatinha degrau por degrau com medo de olhar para trás por que sente as sombras a envolvendo como um carinhoso manto.
Chega na porta de casa, os dedos tremem ao tocar no metal frio da chave e um calafrio percorre a espinha ao girá-la e ouvir o chaveiro tilintar.
Sai correndo pela a escuridão da noite. Sente o cimento por baixo de seus pés descalços. Vai para o último lugar em que esteve em paz, o parque.
Que horas deveriam ser? 3 da manhã talvez? Não sabia. Não de preocupava em saber. Quando chega em seu destino continua correndo, pois não sabia o que faria se parasse. Correr era sua única certeza agora. Agarrava-se nela para não cair.
Subitamente seu corpo bate violentamente contra outro. Levanta o queixo para ver o rosto da pessoa claramente mais alta que ela. Era o menino do dia anterior.
Lágrimas desesperadas molham seu rosto e seu coração bate acelerado. Seus olhos se encontram, ela desaba em seus braços.
-Ai meu deus... - Balbucia o garoto.
Ele segura-a fortemente para não deixá-la cair, ajoelha na grama e apoia o corpo de Lua no chão envolto de delicadas flores brancas.
Ela involuntariamente deita em seu colo e ele acaricia seus cabelos protetoramente.
-Shhh... Tudo bem... - A conforta.
Ficaram assim durante um tempo, ela complemente perdida, e ele, sendo seu mapa. Dois estranhos mas fortemente unidos naquele momento. O garoto não disse mais nada, apenas ficou massageando a cabeça de lua e limpando as lágrimas de sua bochecha. Ele não precisava fazer isso, mas não poderia deixa-la, Lua, completamente submissa ao momento nunca de sentiu tão protegida, segura.
Quando o coração acalma e a mente volta, ela levanta. Abraça o pescoço do estranho e em seguir enxuga as lágrimas com a manga da sua camisola
Sente a dor dos seus pés cortados por ter corrido descalça sobre as pedras.
-Está machucada? - O garoto pergunta gentilmente sem se levantar do chão.
-Ah, não foi nada, obrigada, de verdade.
-Quer alguma ajuda? -Seus olhos mostram profunda preocupação.
-Está tudo bem agora, eu acho.
O garoto levanta e estende a mão para ajudar Lua a fazer o mesmo.
-Vamos dar uma volta?
Lua sorri suavemente e aceita o convite. Começa a andar e sem perceber o seu corpo treme com o frio da noite.
O rapaz tira o casaco de flanela e usa-o para cobrir Lua, a seguir passa o braço por cima dos ombros da garota.
-Sou Matt.
-Lua.
-Que lindo nome.
Lua cora.
-Então Lua, quer conversar sobre o que houve agora há pouco?
A expressão dela se fecha, memórias sombrias voltam a tona, o corpo estremece.
Matt abraça-a com mais intensidade.
-Não precisa me contar se não quiser..
-Não, tudo bem...
Os dois sentam num banco e Lua conta ao Matt toda a história. Em determinado momento ela deita a cabeça em seu ombro.
Quando termina sua fala Lua espera o julgamento e a reprovação mas o que vem a seguir foi um carinhoso:
-Você está bem?
"Você está bem?" Tais palavras tão doces, demonstram tanto. Lua raramente conhecia pessoas que realmente se importassem. Matt era um farol. Iluminando a escuridão.
-Agora sim, mais uma vez, obrigada por tudo o que você está fazendo. Sei que não precisava ter se importado.
Enquanto fala, o olhar de Lua abaixa para os pés envergonhadamente, não tem coragem de o olhar nos olhos após ela ter se exposto tanto, não depois de tudo que ele fez.
Matt delicadamente segura o queixo de lua e o puxa para si obrigando-a a olha-lo e sorri.
-Ei, eu fico feliz em ajudar.
Lua sorri também.
Ficam conversando deitados na grama e observando as estrelas.
-Por que estava caminhando no parque a essa hora? -Lua pergunta sem tirar os olhos das constelações.
-Não consegui dormir, além do mais não queria encarar meu pai, se ficasse em casa. -Matt respondeu sinceramente
-Quando você quer ir embora? -Ele pergunta vagamente virando o rosto e encarando Lua admirando seus profundos olhos castanhos.
-Nunca.
-Eu também...
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Incógnita
General FictionPerdida, quebrada, sozinha. Como uma viciada, Lua ficou em abstinência. Era uma incógnita. Estas, que servem para serem desvendadas. Só que as vezes, é preciso se perder para se descobrir. E sobre estar perdida, de pensamento e de alma, Lua era p...