✔️Cheers✔️

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Depois de uma noite e grande parte do dia seguinte no hospital, para tratar dos cortes mais profundos, a menina recebeu alta.

Rafael, seu irmão de 21 anos, 4 anos mais velho que Lua, dirigia seu recém comprado carro em direção a sua casa.

Lua passa o trajeto todo calada, olhando para fora da janela. Afinal, não há nada para se dizer. Então, por que se dar o trabalho?

Pensativa, a menina devaneia perguntando a si mesma: O que mais desejaria neste momento?

Não queria voltar para casa.

-Pare aqui... - Falou baixo, mais para si mesma do que para o irmão.

-O que?

-Ahn, me deixe aqui. -Diz, porém não com toda  convicção que gostaria.

-Ficou maluca? Eu não vou te deixar no meio do nada! - Rafael diz tentando conter sua irritação.

Ele estava preocupado com a irmã. Mais do que jamais esteve, tentava ajudar, porém ela não aceitava nenhuma ajuda.

-Não estamos no meio do nada,  Rafael! - Pronuncia fortemente o nome do irmão.

-O parque é logo ali. Eu sei o caminho de casa, não me trate como a inválida que você acha que eu sou! Eu não preciso que você fique me vigiando.

Rafael se encolhe com o peso destas palavras.

-Eu... - Não sabe o que dizer.

Lua se arrependeu do que disse no segundo em que as palavras saíram da sua boca.

-Nossa...desculpa... Merda! Desculpa, eu não quiz dizer isso...

Rafael parou o carro.

-Pode ir.

Lua não se moveu.

-Não vou te impedir de nada. Só... - Rafael abaixou a cabeça

-Só tome cuidado. Você acabou de sair do hospital, droga!

-Desculpa...

Lua abriu a porta do carro e então sem olhar para trás foi caminhando em direção ao parque. Acenou para o irmão quando ele passou com o carro perto dela buzinando.

Inspirou fundo, soltou o ar junto com todos os pensamentos que borbulhavam em sua cabeça.

Sentou na grama e puxou o seu celular do bolso da calça jeans.

"Você foi marcado em um evento."

Uma ponta de curiosidade a martelava. Quem seria que havia a marcado? Não mantinha contado com ninguém do colégio depois que as férias começaram.

Clicou para ver o evento.

"Festa hoje! Inicio: 21 horas."

Não dizia quem a havia a marcado. Ou se dizia, Lua não notou.

Agora eram por volta de  20 horas. Viu o endereço da festa, era ali perto! Pensou se deveria comparecer, mas não encontrou nenhum motivo para não ir.

Deitou a cabeça na grama. Sentiu cócegas quando a folhagem encostou em seu pescoço.

Decidiu que iria sim. Iria passar uma noite despreocupada, iria se divertir. Precisava.

Sua mente ansiava por distração. Fechou os olhos e se imaginou em um campo aberto.

Corria.

Não tinha um caminho definido. Mudava de direção a cada vez que algo lhe intrigava, mas não parava de correr. 

Desconfiava da idéia de que se descansava parado. O corpo, talvez. Mas a mente? Precisa se ocupar. Está sempre correndo. Quando para, tudo para junto. Quando para, ansiedades e medos a impedem de continuar.

Por isso, corre.

Ficou mais um pouco deitada na grama. Quando sentiu o peso do tempo passando, levantou-se. Ajeitou-lhe os cabelos, cheios de folhas, e pôs se a caminhar até o local da festa.

Não se preocupou em trocar de roupa. Estava com uma calça jeans levemente rasgada e uma regata preta, além dos velhos tênis roxos.

Não planejava ficar muito tempo na lá. Quem sabe duas ou três músicas. Porém, as vezes os acontecimentos não seguem nossos planos.

Entra na boate. Luz e música a envolvem como um manto hipnotizante.

Muitas pessoas. Muitas mesmo. A mais coisas acontecendo do que Lua pode processar. Há um cheiro forte de álcool no ar. A garota recebe sorrisos de pessoas completamente estranhas a ela.

A animação das pessoas ao seu redor a contagia, a batida da música a envenena de um jeito delicioso. Fecha os olhos por um segundo. A quanto tempo havia estado em uma festa? A música era tão alta que suas inseguranças e ansiedades não conseguem lhe alcançar.

Começa a dançar desajeitadamente junto com outras pessoas na pista de dança. A energia era incrível, acolhedora.

Todos lá queriam viver a melhor noite de suas vidas, e se não desse certo, no final de semana seguinte tentariam de novo. Todos sorrindo. Mas não necessariamente felizes.

Quem vê o sorriso, não vê o coração. Usam a euforia momentânea para esquecer os medos do dia a dia. O álcool, para esquecer os problemas. Mas eles não somem.

IncógnitaOnde histórias criam vida. Descubra agora