Capítulo 4

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Duas semanas se passaram tão rapidamente que Augustus até se surpreendeu ao olhar o calendário e perceber que o grande dia finalmente tinha chegado. Há dois anos vinham negociando com importantes empresários chineses as ações de uma companhia de tecnologia de ponta. Depois de cláusulas, telefonemas e barganhas, os chineses finalmente decidiram conceder uma reunião apropriada, desbravando-se até o Reino Unido para tratarem dos negócios pessoalmente. Todos na Whistler's Company estavam vibrando. Era um grande dia.

E Augustus não poderia estar mais desanimado.

Não conseguia entender o porquê de estar tão abatido e indiferente àquela negociação. Tinha plena consciência de que tinha sido o maior responsável pela façanha – investira tempo, dinheiro, lábia e todo o seu mandarim. Há meses essa negociação era a única pauta na W.C, Augustus estava animado, achou que estaria empolgado... Até não estar mais.

Porém, com todo seu desânimo nada característico – não pelo menos quando o assunto era trabalho – ainda assim, lá estava ele. Engravatado e alinhado pontualmente às 8h no seu escritório na W.C. Como era de se esperar, no aclamado dia do encontro, a empresa estava um caos, as pessoas não conseguiam se concentrar, os cochichos pressurosos ecoavam pelos corredores ansiosos de expectativas.

Era muito óbvia a explicação para todo esse fervor – se conseguissem essas ações lucrariam tanto que todos os funcionários receberiam generosas bonificações no final do ano. O natal seria mais feliz em todas as famílias de empregados da Whistler's Company. Tudo estava sendo milimetricamente programado. Ainda assim, no entanto, algumas pessoas pareciam alheias a esse fato, a exemplo de Norah e Elle, que não davam sossego em suas implicâncias nem mesmo em um dia como aquele.

A única pessoa que parecia não estar se importando tanto com essa negociação era justamente aquela que deveria estar mais empolgada – Augustus. Perdera as contas de quantas mãos apertara lhe desejando boa sorte naquela manhã. Não sentia como se precisasse de sorte, estava tudo sob controle. De fato, estava tão calmo, tão impassível que até se assustava. "Eu deveria estar ansioso" – mas não estava. Na verdade, se tinha uma coisa que Gus estava sentindo naquela manhã, esta coisa era tédio. O mais profundo tédio.

Seu tédio e desinteresse, no entanto, foram interpretados erroneamente por Edmund como autoconfiança. Isso foi o suficiente para deixar o CEO orgulhoso, ou pelo menos, foi o que pareceu quando ele entrou no escritório em algum momento naquela manhã.

- Gus, meu querido, os chineses chegaram – Edmund disse exaltado chamando atenção do seu genro que estava distraído folheando as páginas de um livro velho e surrado.

Folhear o livro de sonhos de Nicole Butler tinha se tornado um hábito no decorrer daquelas duas semanas.

Por nenhum motivo em especial, ou pelo menos era o que Augustus gostava de dizer para si mesmo.

- Ah, que ótimo – Gus disse em um sorriso sem emoção fechando o livro e voltando sua atenção para Sr. Whistler.

- Ânimo meu jovem! Hoje vamos ficar ainda mais ricos! E com sorte, no fim deste dia, você será o presidente dessa empresa! – Edmund disse dando tapas fortes encorajadores nas costas de Gus, que murchou seu sorriso sem emoção.

Havia outro grande motivo para aquele dia ser um grande dia. Com o fechamento daquele contrato, Augustus Hughes se tornaria também o novo CEO da Whistler's Company.

Aquele era o sonho dos seus pais, aquela era sua vida, era o seu grande objetivo, não era? Não era? Por que, então, estava daquela forma? Por que, então, tudo o que ele mais queria era sair correndo e desaparecer no mundo? Por que, por que estar na Whistler's Company, sua empresa, seu lar, estava parecendo tão monótono logo em um dia tão importante quanto aquele?

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