"So shut your eyes, kiss me goodbye
And sleep, just sleep"Sleep-My Chemical Romance
Cora
Acreditava na vida depois da morte. Não acreditava que fossemos parar ao purgatório onde supostamente somos julgados para que depois seguíssemos para o céu ou para o inferno. Na verdade, depois da morte não há nada. Enquanto me faziam reanimação eu conseguia ver tudo o que estava a acontecer na ambulância, como se estivesse num canto a observar. Era assustador.
Eu estou em coma à dois dias e eu não tenho palavras para descrever o que sinto. Quero que me salvem desta agonia, mas ao mesmo tempo quero ficar aqui para sempre. Ao menos assim eu tenho paz. Eu quero abrir os olhos e dizer que estou aqui, mas eu não tenho forças e o meu corpo não permite. Ouvi a minha mãe a dizer que se eu não acordar daqui a dois meses podem desligar-me à única coisa que me mantém viva. Custa-me ouvir tudo o que toda a gente diz quando vem ao meu quarto pois não consigo reagir. Custou-me ouvir a minha mãe a mandar-me para a morte. Mas é a realidade.
Eu só queria que o Ashton estivesse aqui...Isto nunca teria acontecido se ele não tivesse ido embora.
Ashton
Eu sinto-me tão culpado por isto tudo. Eu sei que se eu não tivesse ido embora, a Crystal não me tinha ligado ontem a chorar a dizer que a Rapariga que eu amo mais que tudo, tinha tentado cometer suicídio. Eu não consigo imaginar o tamanho do sofrimento dela para fazer uma coisa destas. Passei a viagem toda a chorar que nem um bebé, mas simplesmente não consigo evitar. É a rapariga que eu amo.
A verdade é que eu não tive culpa, eu tive mesmo de voltar para Sydney. A minha mãe encontrou um trabalho muito melhor, e com a minha ajuda conseguimos sustentar a nossa família. Se eu pudesse eu tinha ficado, eu juro que sim. Mas quando temos uma família de quatro pessoas e três delas são menores não é fácil e todo o dinheiro é pouco. O meu pai abandonou-nos quando eu tinha apenas dois anos e temos de crescer rápido nestas situações.
Estou à espera da Crystal e do Michael no aeroporto, pois eles prometeram vir-me buscar. Eu quero tanto ir vê-la, estou a morrer de saudades de ver a minha bebé. Vai ser tão difícil deixa-la, nem quero pensar.
De repente, um carro preto aparece e logo vejo que é o Michael. Eles saem do carro e abraçam-me, dando-me força. Quase deito uma lágrima quando Crystal me aperta e sussurra um "vai ficar tudo bem". Michael guarda a minha bagagem na mala do carro e de seguida vem para o lado de Crystal.
"Eu não sei como isto aconteceu..."desabafo.
"Ela vai ficar bem, tu vais ver."Michael tenta confortar-me, tanto a mim quando à Crystal.
Entramos os três para o carro e eles dão as mãos. Involuntariamente, eu sorrio, um sorriso muito fraco, mas eu sorrio. Não sei se eles já namoram, mas tudo indica que sim e eu fico muito feliz por eles, eles merecem tudo de bom.
"Bem, tens fome Ashton? Podemos ir comer qualquer coisa antes de irmos para o Hospital"Crystal fala, muito calmamente.
Eu apenas assinto, apesar de não ter muita fome e preferir ir logo ver como é que ela está com os meus próprios olhos, em vez de me ir enfiar para dentro de um restaurante de comida de plástico com eles.
"Porque é que acham que ela fez uma coisa destas?"eu pergunto, a medo.
"Eu não sei, eu não falava com ela à algum tempo pois tinha que estudar bastante então eu pensava que estava tudo bem, mandei-lhe tantas mensagens e ela nunca me respondeu. Mas naquele dia senti que já era muito estranho. Não te via a ti, nem a ela. Eu fiquei tão mal quando a vi na banheira, tão frágil...tão magra e coberta de sangue"pela cara de Crystal já rolavam lágrimas "foi horrível. Eu sinto-me tão culpada por isto, juro-te Ashton. Se eu tivesse aparecido mais cedo, se eu tivesse ido mais cedo visitá-la ela não estava agora deitada naquela cama de hospital, em coma"
A minha cara também já estava molhada, depois de tudo o que Crystal me tinha contado. Eu não consigo imaginar a dor dela. Eu não a posso deixar ir, a vida é tão injusta. Ela já passou por tanto e não merecia isto.
Michael conduziu até a um restaurante do Subway e sinceramente não me apetecia mesmo comer. Enquanto eles davam dentadas enormes nas sandwiches deles eu dava umas muito pequeninas.
"Mas vocês acham que o que ela fez foi para chamar à atenção? Ou foi desespero?"Michael diz e eu juro que lhe quero partir a boca depois disto.
Fecho os meus pulsos tal como os meus olhos e respiro fundo, para não armar confusão. Estes problemas não são para chamar à atenção.
Auto-mutilação, anorexia, bulimia, depressões e tentativas de suicídio não são meras chamadas de atenção como a maior parte das pessoas pensa. São estados que as pessoas chegam facilmente, mas dificilmente vão sair de lá. E se não tiverem absolutamente ninguém para as ajudar, ficam no fundo do poço para sempre.
A situação da Cora estava estabilizada, eu consegui erguê-la e mostrar-lhe o que o mundo tem de bom, assim como ela me ajudou muito, mas eu não tive outra escolha. Ela raramente se auto-mutilava, eu tentava controlar-me ao máximo para não o fazer, porque quando começam a fazer isto, muito dificilmente se para.
É horrível, quase como um tipo de vício, que fazemos quando nos sentimos mesmo mal para aliviar alguma da nossa dor. Eu amo-a com todas as minhas forças e odeio que falem destes problemas como meras brincadeiras e ainda riam das pessoas que os têm. Se não querem ajudar, então não façam absolutamente nada. Não tornem as coisas piores, só isso.
Penso em dizer alguma coisa a Michael mas acho que o meu olhar diz tudo então ele cala-se.
Depois de eles comerem e eu guardar a minha sanduíche para comer depois, fomos para o hospital e eu e a Crystal ficamos a falar um pouco sobre tudo.
"A mãe dela disse ao médico para desligar as máquinas se ela não acordar daqui a dois meses...eu não sei como é que ela é capaz."Crystal informou-me e fiquei com um aperto no estômago só de pensar em perdê-la.
Logo depois um enfermeiro disse para eu entrar e assim o fiz. Quando a vi, deitada naquela cama de hospital, com os braços cobertos de ligaduras, cheia de fios que seguravam a vida daquela rapariga pequena, frágil mas muito bonita por quem eu me tinha apaixonado, as minhas pernas ameaçaram falhar e quando dei por mim, as lágrimas corriam pela minha cara.
Eu sorri levemente, porque apesar de tudo, ela continuava lindíssima, como no dia em que nos conhecemos no nosso jardim. Como no dia em que lhe disse que tinha de ir embora por causa da minha mãe e ela me implorava para que ficasse.
Aproximei-me dela e beijei a sua face cuidadosamente. Eu sabia que isto não era como nos contos de fadas, em que o príncipe beija a princesa e ela acorda. Mas eu precisava de a sentir. Ela estava fria e pálida, ao contrário do normal. Ela estava sempre muito quente e como ela era muito branquinha, as suas bochechas destacavam-se sempre um pouco coradas.
Peguei na sua mão e beijei-a carinhosamente, fechando os olhos e inalando o cheiro que eu tanto amava. Ela cheirava a baunilha, e sempre que eu estava com ela ficava com o seu cheiro no meu nariz.
"Eu prometo que só saio daqui quando tu vieres comigo amor. Vou estar contigo para sempre, prometo."
Fiquei mais um pouco a falar com ela, a explicar-me, não sabendo bem se ela me conseguia ouvir realmente. Depois sai e comi o resto da minha sandes, falando com o Michael sobre coisas aleatórias enquanto esperávamos pela Crystal que estava lá dentro.
De repente, enfermeiros entram no quarto a correr com o médico e foi ai que eu percebi que alguma coisa não estava bem.
Hey People,
Desculpem pela demora, mas só consegui atualizar hoje. Aconteceram uns problemas e eu também não ando com muita imaginação.
Desculpem por isto ser tudo uma porcaria.
Love You,
Mi Xx
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Your Bed [A.I]
Fanfiction"Já pensaste em simplesmente desistir de tudo? Pois eu também, Ashton"