00| Who are we without gravity?

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00| Quem somos nós sem a gravidade?


Se formos a reparar, quem somos nós sem um objetivo, sonho ou motivo de vida?

A resposta é simples: andamos perdidos. Somos apenas almas sem rumo, sem gravidade para nos podermos manter de pé.

Para algumas pessoas o seu motivo de vida é o trabalho. Agarram-se à sua profissão de forma a poderem manter-se acordados daquilo que poderá ser a ilusão e, por vezes, acabam por esquecer-se daquilo que realmente nos faz sentir vivos: o amor.

Evitar o amor pode ser a consequência de muitas situações, entre elas está o famoso desgosto amoroso. Eu já passei por vários nos meus 24 anos de existência. É óbvio, uns piores que outros, mas todos eles fazem de mim a pessoa forte que sou hoje.

O amor é uma ciência curiosa que nos pode deixar para lá de felizes e no entanto é algo que nos pode provocar uma dor tão árdua que não cura rapidamente.

Porém, a vida é assim. Feita de quedas e feridas ambas causadas pela gravidade que nos puxa de novo para a realidade e nos faz perceber que a partir do momento em que nos apaixonamos começamos a subir um prédio chamado ilusão e quando chegamos ao topo, aí é que se sabe. Será que caio? Será que não? A maior parte das vezes acabamos mesmo por cair. Ou então... não, se vivêmos tanto tempo na ilusão não há outra opção sem ser a queda. Porque quando algo é realmente genuíno a ilusão acaba por não ter efeito.

No horizonte observo o sol nascer. O céu a esta hora ganha uma beleza inspiradora, e relaxante.

      Pego na chávena de café que preparei à pouco e levo-a à boca, saboreando o sabor intenso da cafeína.

Um suspiro trespassa os meus lábios e fecho os olhos sentindo o vento gélido das 7h25 da manhã em contacto com a minha pele. Aperto contra o meu peito o casaco desportivo negro que enverguei esta madrugada. As isónias são algo que me tem atingido em demasia nestas últimas semanas e a varanda é a única fuga que consigo encontrar para tentar relaxar. Aqui encontro-me alto o suficiente para conseguir observar a manhã a chegar a Manhattan e só esse vislumbre é capaz de me refugiar do stress do dia a dia.

A tensão no hotel tem aumentado demasiado e, graças a Deus, hoje estou de folga. Finalmente chegou aquele adorado dia da semana, no qual poderei pôr em dia a consequência da insónia: o sono. Se conseguir. É complicado ter de trabalhar e cuidar de uma casa. Perfeccionista como sou, arranjo sempre algo que melhorar no meu pequeno apartamento. Seja limpar, seja redecorar, não interessa. Sou uma pessoa que se adapta muito, não, demasiado bem à mudança. A rotina é algo que me aborrece.

Decido voltar para o interior e a diferença térmica é notória. Dirijo-me à cozinha e coloco a chávena vazia no lava-loiças, voltando à sala. Encaro a grande janela perante mim e sou pantenteada com a mesma paisagem de à pouco.

Gosto muito de viver sozinha, consegui adaptar-me melhor do que eu estava à espera.

Deito-me no sofá e cerro os meus olhos cansados, tentando adormecer.

Sinto o meu gato a subir para cima do meu corpo fatigado e a deitar-se em cima das minhas costas.

- Felix, vá lá! - Resmungo com o gato gordo em cima de mim e este apenas mia.

Estou tão exausta que acabo por nem me mexer, apenas me deixo ficar e acabo por adormecer.





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