01| Como é que chegámos aqui?
» 5 anos antes «
- Eu não acredito que tu vais mesmo embora. - Os seus olhos começam a ficar aguados e dentro de mim sinto que está na altura do último abraço.
- Eu vou tentar vir aos fins de semana mãe. - Aproximo o seu corpo num abraço forte.
- Estou tão orgulhosa de ti Sky e sei que vais brilhar nesta próxima etapa da tua vida. - A minha mãe limpa as lágrimas que já escorriam ao longo do seu rosto e separo o nosso aperto com um beijo na sua testa.
- Diz ao Nate que lhe mando um beijinho grande. - Sorrio e a minha mãe afirma com a cabeça. Pego nas minhas malas e olho para a minha mãe uma última vez antes de abandonar o apartamento.
- Boa sorte amor. - A morena repete o meu gesto e beija o topo da minha testa.
- Obrigada mãe. - Torno a sorrir para a minha mãe e começo a caminhar até ao elevador. Desço até ao piso da entrada e dirijo-me até veículo do meu namorado. Coloco a minha bagagem no porta-bagagens e entro para o lugar de condutor.
Hoje vou para a universidade em conjunto com o meu namorado, Thomas, e a minha melhor amiga, Vicky. Como qualquer outro clichê de adolescentes.
Encontro-me neste momento conduzir pelas ruas de Louisiana com destino à casa de Thomas, onde foi marcado o ponto de encontro.
Turismo sempre foi uma grande paixão minha, adoro línguas, adoro falar, adoro dar a conhecer o meu país e adoro Nova York, cidade onde vou estudar e futuramente trabalhar, esforcei-me muito para entrar na NYU e sei que me vou dar muito bem. A parte mais difícil é mesmo deixar a minha mãe e o meu irmão mais novo. Mas estou prestes a viver um sonho e poderei visitá-los aos fins de semana o que não é nada mau.
Estaciono o carro em frente ao prédio onde Thomas mora com os seus pais e as suas duas irmãs e saio do veículo. Durante os últimos dois anos que eu e Thomas temos estado juntos, tudo tem sido perfeito. Mais ou menos. Temos uma história complicada.
Toco à campainha e espero que me abram a porta de entrada do prédio, mas não obtenho resposta. Retiro o meu telemóvel digitando o número do meu namorado.
"Sim?" - uma voz masculina e rouca fala do outro lado, cuja não é do Thomas.
- Onde está o Thomas? - Questiono.
"Não soubeste?"
- Soube do quê Dylan? - A sua pergunta deixou-me um pouco receosa.
"Vem para o hospital Skylyn. Eu conto-te tudo quando cá chegares" - Dylan não me dá hipótese de resposta e simplesmente desliga.
Hospital? No dia em vamos para a universidade? Porque é que ninguém me ligou? E se aconteceu algo de grave? Eu falei com ele esta manhã. O que terá acontecido? Será que foi o coração? Porque é que o Dylan não me contou o que se passou por telefone? O que é que terá acontecido para que ele queira falar comigo pessoalmente?
Estas eram algumas das perguntas que me ocorreram na mente naquela tarde outonal de setembro enquanto conduzia até ao hospital da cidade. As minhas mãos tremiam e o meu coração batia cada vez mais depressa. Na minha barriga formou-se um nó e parecia que cada vez se apertava mais. Estava muito nervosa, tinha muito receio do que estava para vir, acho que até medo. Tenho um mau pressentimento, muito mau para dizer a verdade.
Este dia era para ser bom, depois de amanhã começam as aulas. E se calhar também não aconteceu nada, se calhar ainda vamos hoje para Nova Iorque, não é? Pelo menos eu queria pensar dessa forma.
Estaciono o carro no parque do hospital e ligo de novo para o número do meu namorado.
"Já chegaste?" - A sua voz continua baixa e rouca.
- Sim. Onde estás? Onde está o Thomas? - Neste momento só tenho vontade de vomitar.
"Eu vou aí fora buscar-te. Vai até à entrada."
Mais uma vez Dylan não me dá hipótese de dizer mais nada, apenas desligou o telemóvel, deixando-me com o coração nas mãos.
- Sky - O moreno alto chega ao pé de mim.
- O que aconteceu Dylan? - Olho-o nos olhos e este engole em seco.
- Foi do nada. Ele estava bem e de um momento para o outro parou, não sei. - Os deus olhos começam a brilhar demasiado.
- Onde é que ele está? Ele está bem? - Questiono tentando engolir a dor que se formara no meu peito.
- Os médicos dizem que ele teve um ataque cardíaco e que as chances que ele tem de sobreviver são muito poucas. - Dylan não contém as suas lágrimas e na minha mente isto não faz sentido nenhum. As lágrimas começam a correr pelo meu rosto.
- Onde é que ele está? Porque é que ninguém me avisou de nada? Eu quero vê-lo. - Entro no hospital e procuro pela família do meu namorado.
- Skylyn, tem calma ninguém pode estar com ele, os médicos estão a fazer mais exames e a tentar com que ele acorde. - Olho para ele e deixo o meu corpo cair de joelhos, chorando contra as minhas mãos.
- Porquê? - Choro. - Hoje era para ser um dia feliz. Porquê? - Sinto os braços de Dylan a agarrarem o meu corpo e a tentarem erguer-me do chão. - Dylan nós íamos para a universidade hoje. - Encaro os seus olhos lacrimejantes.
- Anda, vamos ter com o resto das pessoas. - Ele encaminha-me até à sala de espera.
» Presente «
- E como te sentes hoje? - A sua postura é relaxada, as suas pernas encontram-se cruzadas e um pequeno caderno está pousado no topo da sua perna direita. Olha para mim por cima dos seus óculos não muito grandes e tenta com que eu fale com ele.
- Sinto-me bem. Mais ou menos. - Profiro encarando as minhas mãos. Passaram-se 5 anos e eu ainda continuo a reviver o dia vezes e vezes sem fim. - Tenho dormido pouco nos últimos dias. - Encaro o exterior.
- Tens tomado a medicação? - Ele questiona e eu nego com a cabeça. - Queres voltar à estaca zero? Perder o teu trabalho outra vez? - Volto a negar com a cabeça. - A tua depressão vai piorar se descontinuares a medicação. Tu precisas dela Skylyn. Já se passaram 5 anos, estavas a melhorar. - O Dr. Robertson fala com um tom rígido.
- Isso tem de ser dito de outra forma. Eu sou uma fraca. Já se passaram cinco anos e eu não consigo curar a depressão. Sinto-me sozinha, não me apetece estar com ninguém, não me apetece falar com ninguém, não me apetece tomar a medicação. A minha vida está a ser sugada pela escuridão e eu estou a render-me a isso. Eu posso habituar-me bem à mudança e podia estar bem no início do mês, apartamento novo, aumento no emprego, mas ele apareceu e relembrei tudo. Não consigo dormir, não consigo parar de recordar o dia em que perdi o Thomas, não consigo simplesmente esquecer todo o sofrimento que a sua perda me causou.
- Quem é que apareceu, Skylyn?
- Dylan. O Dylan voltou
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Gravity
RomanceTodos nós precisamos da gravidade para nos mantermos sóbrios daquilo que possa ser irreal.