"Tudo começara como uma página de romance. Mas agora, terminado o encanto, as coisas se apresentavam como uma realidade sombria. - Agatha Christie"
Quem via a caverna de longe, mal imaginava que no centro dela um vasto campo se estendia, como uma colina, se erguendo até o pico da caverna, era lá a antiga casa de Peter. Kenna não me falou sobre ela, passamos direto e vemos ela ao longe, gostaria de perguntar mas... Respeitava sua dor.
A plantação ficou pra trás, dando lugar a cachoeira principal, ela era tão grande cercada por rochas lisas como as outras, mas o que destacava era a água que despencava e caia na piscina de águas cristalinas.
Me lembro de quando o rei me levou daqui, bem ali. Tudo aconteceu tão rápido, pelo que eu vi as sereias não estavam na superfície, nem elas nem os bebês sereias.
Peter ia na frente cortando as folhagens, Kenna vinha logo atrás de mim com uma cesta em mãos, colhendo pequenas frutinhas e maçãs pelo caminho.- Já estamos chegando? - Perguntei impaciente, porém não me derem resposta alguma.
O facão dissipou o silêncio cortando mais um galho que atrapalhava o caminho.
- Tinha que ser um lugar que tivesse um terreno estratégico. Íngreme ... - Kenna disse despreocupada.
Certo, eu estava com muito receio de ser um desastre total, com certeza seria um desastre total, não sei como vou me sair em combate, muito menos se vou conseguir acompanhar o ritmo de Kenna que é uma grande guerreira. Enfim acabamos por chegar, Peter se sentou em um tronco acomodando-se e tirando algumas folhas do seu facão, eu pisquei encarando o bosque íngreme e com grandes pinheiros, rochas de todos os tamanhos espalhadas por entre as gigantes árvores, algumas delas afirmo, com até três metros de altura.
- As árvores, próximas e mais largas ajudam no treino assim como as rochas e o terreno, acima o topo da montanha, deixa tudo mais interessante. - Peter disse me observando e sorrindo de lado.
- Querido, depois de demonstrar tanto ânimo, comece com ela... Eu irei observar daqui.
- Eu e ele? Não sei se Peter seria um bom professor...
- Ah, ele é. Acredite...
Eu engoli em seco, ele sorriu novamente encarando o chão como se achasse graça em algo que só ele soubesse. Maldito sorriso.
- Fique tranquila vou pegar leve com você. Apenas um breve aquecimento. - Ele se aproximou e ergueu as mãos . - Vamos, tente me acertar, aqui.
Não era tão difícil, acertar a palma da mão de alguém. Eu avancei com os punhos preparados para acertar o alvo, porém Peter se esquivou dando um passo pro lado, Kenna vibrou ao longe e eu fiz uma carranca irritada, ele fiz sinal para que eu tentasse novamente, eu respirei fundo e investi em um novo golpe porém ele acabou por se mover novamente pro outro lado, eu avancei novamente e mais uma vez tentando acertar como uma criança desesperada, até que finalmente eu consigo acertar, não a sua mão mais o seu braço, eu paro e desfaço a pose sorrindo triunfante. Eu me viro e Kenna me dá uma piscadela me deixando mais confiante, assim que retorno meu olhar ao meu oponente, o mesmo balança a cabeça em reprovação, com rapidez me dá uma rasteira e me segura quando estou a pouco espaço do chão. Nossas faces a poucos centímetros, eu respirei ofegante enquanto olhos negros como a noite me encaravam.
- Lição número um, persista e não desista. Lição número dois, nunca vire as costas pro seu oponente, muito menos quando houver provocado a sua irá. Golpes seguidos são importantes.
- Certo...
Não vou mentir, aquilo me deixou com um sentimento estranho, pela primeira vez eu enxerguei o Peter de um modo muito diferente. Não só como o meu protetor, acho até que eu o achei atraente... Eu pisquei não rompendo o olhar que era depositado um no outro, seus olhos por fim agora encaravam meus lábios, eu virei o rosto. Minhas bochechas queimavam... Meu rosto todo eu poderia apostar que estava vermelho como um pimentão.
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Série Era uma vez - Tocada Pela Lua #1
RandomNo ano de 1471 na antiga Transilvânia durante a ameaça de guerra e instabilidade entre os turcos, uma jovem chamada Loretta se encontra presa em um orfanato desde seu primeiro ano de vida, as freiras dizem que sua mãe a abandonou e que não havia ras...