"A satisfação está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita." - Mahatma Gandhi
Se passaram dois dias desde que a irmã Norma me trancou no porão, a cada novo amanhecer meus olhos ardiam em contato com a luz que passava numa fresta da parede. A irmã Gemma diz que por isso eu era pálida devido a tanto tempo trancada aqui... Talvez seja minha culpa mesmo, eu que sou descuidada só caio em ciladas, elas tem mesmo que me castigar, não é?
Durante o tempo que fiquei presa no porão eu pudia ouvir todo dia, os passos das irmãs em cima do piso de madeira podre, as crianças correndo e rindo pelo chão acima de mim. Eu desejava o tempo todo, no decorrer dos anos esse desejo ficou cada vez mais forte, como queria trocar de lugar com elas. Mas eu sabia que mesmo se eu pudesse, não iria colocar elas no meu lugar passando por essa situação. Elas não mereciam...
No terceiro dia, quando a tarde já estava caindo, ouvi meu estômago roncar mais alto do que o dia anterior, percebi que eu estava faminta a tanto tempo que já estava insuportável. Mais já havia passado fome por mais tempo, meu máximo havia sido 9 dias, nesses dias claro que tive desmaios mas ninguém estava no porão para ver...
Acabo sendo interrompida de meus pensamentos por um ruído... Era o trinco da porta finalmente sendo destrancado, me levantei da cama rapidamente encarado a sombra que a luz produzia na parede da escada, o silêncio se fez quase insuportável e fiquei com medo de ser a irmã Norma ter voltado pra me castigar como ela tinha dito e prometido... Quando a figura finalmente se mostrou eu fiquei aliviada, levantei da cama correndo até a irmã Gemma a abraçando.- Ah, Irmã! Que bom que veio me ver. Eu não aguentava mais ficar trancada aqui sozinha. Estava inquieta devido a solidão. - Falo aliviada.
Gemma olhou pra cima, verificando o corredor e vendo se alguém vinha pra depois se virar pra falar comigo.
- Irmã Norma ficou todos esses dias enchendo a cabeça de Delfín para te castigar com coisa pior. Imagine filha, elas queria te trancar naquele maldito baú dos pecados, é assim que ela o chama. - Gemma balança a cabeça em desaprovação.
Meus olhos se arregalaram com a possibilidade de ficar trancada lá, aquele lugar era horrível, cheio de agulhas no fundo e era apertado demais. Eu entrei em pânico, quer dizer que eu ia parar lá? Oh deus, como irmã Norma poderia ser tão má assim? Que ele a perdoe.
- Por favor Gemma, por favor diga que não vou pra lá. Você não vai deixar elas me trancarem lá de novo, eu vou morrer lá dentro. - Digo em desespero.
Sim, eu já havia ido lá uma vez, esse " Baú dos pecados " é a casinha do pensamento que havia comentado com as crianças, na mente delas você só fica presa algumas horas numa casinha de madeira como essas de bonecas mas não é bem assim, eu sei. Eu tinha oito anos, foi os piores dias da minha vida, lá não tem ar você simplesmente fica sufocada, a cada movimento que você faz pra se mexer uma agulha te espeta ou machuca sua mão, você não come, não bebe, não dorme direito.
Quando saí de lá da última vez fiquei com fraqueza, muito doente... As irmãs queriam me colocar na rua porque eu estava sendo imprestável nos deveres do orfanato, por sorte irmã Gemma interviu, me deu medicamentos e por um milagre no dia seguinte eu já consegui fazer algumas tarefas mesmo estando mal ainda mas aquele lugar era o pesadelo de todas as crianças no orfanato e eu não podia voltar pra lá, não mesmo.- Não eu não deixei. Mais essa ideia ainda está na mente de Delfín, a qualquer momento ela pode ir pela ideia maluca da Norma, que Deus a perdoe por esse pecado a uma criança como você menina.
Gemma me abraçou beijando minha cabeça, eu me senti fraca pois aquele gesto me fez por tudo pra fora, eu comecei a chorar incontrolavelmente. Irmã Gemma me consolou por alguns minutos.
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Série Era uma vez - Tocada Pela Lua #1
De TodoNo ano de 1471 na antiga Transilvânia durante a ameaça de guerra e instabilidade entre os turcos, uma jovem chamada Loretta se encontra presa em um orfanato desde seu primeiro ano de vida, as freiras dizem que sua mãe a abandonou e que não havia ras...