Encontrei um livro que estava largado na rua.
Julguei-o pela capa e disse que ele era melancólico.
Pouco tempo depois, quando estava no metrô, decidi ler o estanho livro cuja capa era a foto de uma máquina copiadora.
A capa lembrou dos meus dias em geral:
Um a cópia do outro.
Quando comecei a ler, tomei um susto, as luzes do metrô piscaram; e quanto mais eu lia, mais elas se apagavam e se acendiam.
Na primeira página do livro, tinha apenas um lembrete:
"Quando terminar de ler este livro terá uma dúvida cruel."
Parti para a outra folha e fiquei surpreso de ver uma foto tirada da melhor cena de meu filme preferido. E mais abaixo estava escrito minha opinião a respeito da cena.
Me senti apavorado, pois minhas opinião nunca havia saído da minha mente.
Como é possível?
Passei a folhear livro e surgiam novas fotos e anotações.
A única coisa que me lembro da minha infância.
A foto da garota na qual dei meu primeiro beijo.
O momento em que o sol se encontrou com o mar no dia que fugi de casa e fui à praia.
A reunião que tive com meus amigos.
E no desligar e ascender das luzes fiquei me maravilhando com tudo aquilo.
Lia muito rápido; talvez seja por isso que não percebi que já estava na penúltima linha da penúltima página.
E rapidamente cheguei no último parágrafo.
Mas, antes de lê-lo, reparei que estava sozinho naquela cobra de metal.
Voltei meu foco para o livro, que estava em minhas mãos. E, no balançar do metrô, li o último parágrafo.
"Este livro ilustrou sua vida. Seus melhores momentos estão aqui; com seus pontos de vista e suas opiniões. Este é o livro da sua vida. E, agora, depois de ter visto a sua vida materializada, responda a si mesmo: Se este é o livro da sua vida, por que ele estava abandonado em uma rua qualquer?"
Já faz muito tempo desde então e eu ainda não sei responder com sinceridade a esta pergunta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Metamórfica Poesia
Poésie"Poesia é morfina pra quem sente as dores de alma." Arthur Diogo Capa do livro- Guilherme Allan