O Príncipe: Bolinhos, lágrimas e princesas fujonas

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     Enquanto morria lentamente de tédio, comecei a contar mentalmente todos os acontecimentos que haviam me levado até essa tortura.

     Minha mãe, a rainha do trono mais poderoso dos 7 mundos, finalmente percebeu, no penúltimo dia, que seu filho mais velho estava prestes a deixar a segurança de seu ninho para estudar em uma escola que fica, literalmente, em outro planeta.

     Após despencar na realidade, ela implorou aos prantos que meu pai me proibisse de ir. Meu pai então, como sempre cheio de paciência a explicou que isso era algo necessário, que faria de mim um homem, além de me tornar um rei melhor no futuro.Você deveria estar muito orgulhosa de seu filho, acrescentou ele.

    Eu sabia o porquê de eu estar sendo enviado. No ano em que completariam 15 anos, todos os jovens de todos os mundos deveriam ser enviados ao Oitavo Mundo, um lugar onde nada, nem mesmo grama crescia, nada nascia, mas também nada morria. Ninguém jamais poderia morar lá, pois após passar um ano nesse Mundo estéril, a pessoa se transformava lenta e irreversivelmente em pedra.

     Apesar de não parecer, existem bons motivos para se fazer uma escola em um Mundo assim: Ninguém morria lá, então é um bom lugar para treinar os jovens a lutar contra as criaturas que se escondem na escuridão além das barreiras de nossas cidades.Lá também é o único lugar onde não existem monstros, o que garante a nossa segurança.

      Normalmente, herdeiros de posições importantes são isentos de ir para esse lugar, pois quando crescerem não irão lutar contra monstros,mas sim governar. O motivo do herdeiro mais poderoso dos Mundos estar sendo enviado é que o rei quer que os súditos sintam-se seguros em enviar seus filhos. Os plebeus estão receosos de enviar seus filhos nos últimos anos, para mostrar que não há o que temer, decidiu servir de exemplo e enviar seu próprio filho. Um rei, ele sempre me disse, precisa tomar a frente nas batalhas, se quiser que seu povo o siga.

      Não é como se o povo não tivesse motivos para ficar apreensivo.Era uma vida difícil fora dos limites das cidades,onde um viajante podia a qualquer momento ser atacado e morto pelas criaturas.Algumas vezes,enquanto eu espiava os relatórios do meu pai, eu lia sobre uma ou duas propriedades rurais em alguma cidadezinha de certo mundo,que havia sido atacada por monstros de alguma maneira que nenhum oficial conseguia explicar. Eram situações delicadas,que eu percebia estar se tornando mais frequentes ,lidar com elas havia roubado alguns anos do meu pai, de modo que ele aparentava ter bem mais do que seus 36 anos.Eu precisava crescer rápido para substituí-lo, caso contrário eu não sabia quanto tempo mais ele iria durar.

       Me enviar era um consolo para o povo e uma preocupação a menos para o meu pai.Eu sinceramente concordava com ele, mas minha mãe e os funcionários do palácio me olhavam como se eu fosse um mártir.

        Voltando para a discussão dos meus pais, minha mãe que dificilmente se dava por vencida, ainda reclamava para o meu pai.O rei então, que conhece bem a sua mulher, disse que se ela parasse de chorar e aceitasse a minha partida, poderia planejar uma festa de despedida particular para mim. Observei incrédulo a rapidez com que ela se consolou e saiu animada com suas damas de companhia, praticamente correndo para seu escritório para fazer planos com suas amigas.Não pude deixar de me sentir um pouco traído,mas ela era assim mesmo, minha doce e mimada mãe.

      - Oh, Will! Meu pobre menino! - fui arrancado do meu devaneio pela rainha.Apesar de ter feito a festa exatamente como ela desejava, um pomposo café da manhã na Ala de Cristal do castelo, repleto de flores,chás e bolinhos,ter convidado cada nobre e cada dama de companhia da cidade e estar repleta de bajuladores a adorando, lá estava ela,novamente encharcada de lágrimas - Você pode contar para sua mãe, você está odiando isso não é? Ir embora do palácio...

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