O Mágico: Portas,corredores e Fortalezas Mágicas

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     Acordei me sentindo dolorido e em um lugar totalmente diferente do que de onde eu havia sido trazido de volta a vida.Aquele moleque irá pagar caro por isso,eu juro a mim mesmo.

     Dei uma olhada ao meu redor,estava em um pequeno cômodo completamente cheio, mesmo que a única mobília fosse constituída por um colchonete onde eu obviamente não cabia,uma pequena cômoda com um pé quebrado e uma cadeira de metal meio enferrujada. Além de todos esses luxos,meu cubículo particular contava com seu próprio banheiro, que milagrosamente conseguia ser ainda menor que o quarto.Não consegui evitar uma gargalhada sinistra quando observei meus itens de higiene: um balde para minhas necessidades, uma torneira com uma bacia e um copo para eu me lavar e um espelho rachado.

        Analisando o quarto e pensando na minha cova,cheguei a uma conclusão: Se me perguntassem qual eu preferia, não precisaria nem pensar para responder. A cova sem sombra de dúvida era melhor.No mínimo, ela era mais ampla e limpa.

      Notei que havia um bilhete na cômoda.Dizendo que haviam roupas limpas e uma toalha para mim na cômoda e que eu deveria me limpar antes de me apresentar perante o senhor da Fortaleza e que deveria fazer isso rápido,pois iriam vir me buscar em breve.O bilhete estava endereçado ao "Querido recém não morto" então eu conclui que havia sido aquele garoto infernal que o escreveu.Decidi demorar o máximo de tempo possível no banho, apenas para irrita-lo.

     Observei com uma certa tristeza que o terno com que eu estava vestido precisaria ser jogado fora.Parecia ser um bom terno, mas eu havia sido enterrado com ele e sabe-se lá quanto tempo ele ficou na terra.Foi difícil até mesmo tira-lo,por conta da sujeira que havia entre o tecido e minha pele.

      Analisei meu reflexo após me banhar.Meu cabelo provavelmente seria ruivo depois de ser devidamente limpo,coisa impossível de ser feita com meus recursos atuais.Estranhamente, tanto ele quanto a minha barba estavam bem aparados apesar e eu ter acabado de ser desenterrado.Meu rosto era o de um homem jovem,provavelmente com uns vinte anos e meus olhos tinham um tom vermelho sangue,que eu sabia ser anti-natural.Mas o que é mais anti-natural do que um morto que volta à vida?Os olhos eram o de menos!

      Meu abdômen e meus braços estavam repletos de cicatrizes vermelhas de milhares de cortes.Eu devia ser alguém muito odiado enquanto vivo,para alguém ter decidido que eu merecia ser esfaqueado tantas vezes.Estava tão distraído em meus pensamentos que nem notei que tinha visita. Uma garota,com cabelos loiro avermelhados estava sentada no meu colchonete com cara de tédio.

- Ótimo que bom que você.... Ei o que está fazendo? - ela protestou enquanto eu a empurrava para fora do quarto.

- Eu estou me trocando!Por favor,espere ai fora.

- Mas o senhor deseja vê-lo agora!Ele odeia que o façam esperar! - respondeu-me com a voz abafada pela porta.

- Prefere que eu vá pelado?

Houve um longo momento de silêncio,como se ela estivesse refletindo - Ok - disse por fim - Pode se trocar.Irei contar até 10 e depois disso irei abrir a porta e nós iremos,não importa como você estiver!

Corri desesperado para a cômoda,tentando enfiar minhas pernas molhadas na calça jeans o mais rápido possível enquanto a moça cantarolava feliz os números.Quando ela abriu a porta,eu já estava com a calça e tinha até abotoado todos os botões da camisa,mas não tive chance de botar a gravata e nem de pegar meu paletó,pois a garota nem olhou como eu estava vestido,apenas me puxou em direção à porta.

- A propósito, como eu ia dizer antes de você tão rudemente me interromper - ela parecia magoada, então sussurrei um pedido de desculpa, que foi cruelmente ignorado - Meu nome é Joy e eu fui selecionada para te ajudar a se guiar pela Fortaleza e aprender a lidar com toda essa coisa de...você sabe né,não estar mais morto.

Do lado de fora do meu quarto, pude ter a primeira impressão da Fortaleza.Apesar do nome sugerir algo grande,tudo o que havia nela eram quatro paredes: Uma com uma grande porta de madeira nobre,repleta de belos vitrais que provavelmente dava acesso ao mundo externo, em paralelo a esta,uma parede vazia, a parede a minha frente possuía uma bela porta de madeira clara,com o nome joy cravado com esmeraldas e borboletas entalhadas,também com joias encravadas e na última parede havia a porta meio podre e mal cortada de onde havíamos saído. Era de longe a mais feia entre as portas e eu realmente queria saber o porquê.Nela,o título O Mágico havia sido toscamente escrito em giz de cera.Ao ver o que eu olhava,Joy explicou:

- Todas as portas tem o nome do dono do aposento escrito nele,para que você não se confunda e não entre no quarto errado.

- Você está brincando certo?Quer dizer, só tem três portas e quem diabos iria confundir isso - apontei para a porta dela - com essa coisa aqui - disse apontando para a minha porta.

- Três portas??? Mas o que..... - e uma onda de compreensão passou pelo rosto dela - Que guia incompetente eu sou!Me desculpe,Mágico...Eu me esqueci de te contar.

" A fortaleza é um lugar mágico que abriga qualquer monstro que precisar dela, é um lugar tão grande quanto uma dimensão.Obviamente um lugar tão grande chamaria atenção dos humanos, além do fato que abrigar tantos monstros diferentes poderia sem dúvida resultar em muitas brigas,quando inimigos se encontrassem.

Por isso, o senhor desta fortaleza, que é também o único deus sobrevivente, criou um sistema onde inicialmente quem entra aqui só é capaz de enxergar seu próprio aposento e a saída. Porém,conforme você vai conhecendo mais pessoas que moram ou estão hospedadas aqui ,mais aposentos você será capaz de ver,mas só será capaz de encontra-los se não estiver mal intencionado. As áreas comuns aos residentes da fortaleza só podem ser encontradas se um morador mostra- las pela primeira vez a você.

Como por enquanto você só me conhece, as únicas portas que você enxerga são a de saída,a minha e a sua própria porta.Outra coisa,quando você sair, vai ter a impressão de todos que vêem a Fortaleza pelo lado de fora: Apenas uma barraquinha de criança muito mal construída."

- Pronto, agora você deve ter entendido tudo! Na verdade eu não tinha entendido nada, e sinceramente estava com ainda mais dúvidas. Último deus sobrevivente? Mecanismo mágico? Monstros? Mas minha guia parecia tão empolgada e animada que eu apenas confirmei ter entendido.Talvez eu entendesse, com o tempo - Ótimo, agora vamos!

Soltei sua mão do meu braço e parei de segui-la.Aquela menina louca estava andando em direção à parede! - Anda logo! - disse batendo o pé no chão - Já estamos muito atrasados!Você não quer ser punido,quer?

- Vamos aonde?Não tem caminho nenhum!

- Você realmente não entendeu nada do que eu disse,não é mesmo? - minha guia estava vermelha de raiva - Está bem.Já que você não se mexe sozinho, deixe-me dar um empurrão - disse me empurrando para a parede.Esperei por um impacto que nunca chegou.Quando criei coragem de abrir meus olhos,Joy estava me guiando por um longo corredor.A parede não passava de uma ilusão,compreendi.Estava começando a entender a explicação.

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