Prólogo: O mágico

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        -... Eu, o Senhor da Fortaleza, Herdeiro do Reino dos Mortos, Príncipe da Escuridão,A Estrela Guia dos Monstros e o Último e Supremo Deus, ordeno que a escuridão abandone este corpo e que o mesmo se levante como meu servo.

     Foram as primeiras coisas que eu ouvi e que me fizeram me perguntar: Estou vivo? Tentei respirar e o ar foi sugado ruidosamente pelos meus pulmões, queimando todo o caminho, do nariz até eles.Essa é uma dor que todos já sentiram ao nascer, mas que rapidamente se esqueceram, a doce dor de começar a viver.Tentei abrir meus olhos e, para minha surpresa, consegui.Primeiro só havia a luz,pálida e ofuscante,dolorosamente brilhante,mas com o tempo, o mundo começou a tomar forma e se delinear à minha frente.

     Ao meu redor havia um chão e quatro paredes de terra.Uma cova! Então era isso,eu realmente estava morto,mas agora algo,ou quem sabe alguém tinha me trazido de volta.

     Fora da cova, um céu completamente branco me encarava e em total contraste com ele estava um garoto vestido com um terno completamente preto,a pele muito branca em contraste com seu cabelo carvão.Mas sem dúvida,o traço mais marcante do garoto eram seus olhos de um forte tom violeta.

    Ele sorriu e me ofereceu a mão para me ajudar a sair do chão.Fora do meu túmulo,pude analisar bem a paisagem,não que tivesse muito a ser analisado.Não havia nada,apenas uma terra amarelada,que mostrava que aquele local estava em processo de desertificação.E era isso: apenas eu, o garoto,minha cova e aquela imensidão de terra pobre.

   - Seja bem vindo ao time dos vivos, meu caro recém não cadáver - tagarelou o garoto.Era um rapaz alto e esguio,que não devia ter mais que quinze anos - Como você está se sentindo?

    Meu corpo respondeu por mim.Me dobrei para frente e acabei vomitando no sapato do garoto que, aliás, era a única peça branca de seu vestuário.

  - Droga, eles eram novinhos! - ele parecia mais divertido do que zangado,então conclui que meu pequeno acidente seria perdoado - Venha John, vamos pra casa.

    John...o nome me deu uma sensação nostálgica.Então era aquele o meu nome?Busquei dentro de mim quem eu era e não consegui me lembrar de nada,como se tudo sobre mim tivesse sido apagado deixando um vazio e aquele nome fosse um único fio que me conectava ao passado.Me prendi a esse fio,tentando muito conseguir ter acesso a mais partes de mim.

    Algo na aura do rapaz me tirou de meus pensamentos.Sua expressão simpática e brincalhona havia ido embora e aqueles terríveis olhos violeta penetravam minha alma.Era quase como se ele pudesse ler a minha mente, e parecia que não tinha gostado do que viu.

  - Parece que eu fui precipitado em lhe chamar pelo seu nome... - disse com uma voz fria e calculista - Não se preocupe, não cometerei esse erro novamente.Só é uma pena eu precisar desliga-lo justo agora, quando você finalmente retornou depois de tanto tempo.

    E tudo ficou escuro novamente.  

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