A Professorinha Capítulo 1

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Terminara o curso de pedagogia Séries Iniciais. Era o momento de iniciar o meu estágio. Tudo perfeito escolhi uma quarta série do ensino fundamental numa escola Estadual no turno da manhã.

Mal conhecera as crianças estoura a greve dos professores Estaduais. Parou tudo. Um mês se passou e a universidade exigiu que as estagiárias fossem transferidas para as escolas Municipais para que não perdêssemos o semestre. Todas as minhas colegas de curso conseguiram vaga nas escolas Municipais, menos eu. Foi então que sugeri que me colocassem na alfabetização de adultos à noite.

Encontramos uma escola Municipal num bairro afastado do centro da cidade.

Não tinha experiência nenhuma em alfabetização de adultos, mas a idéia me animava.

Vesti minha melhor e sensual roupa, me maquiei discretamente, coloquei acessórios que combinavam com a roupa e calçado. Olhei-me no espelho e senti uma enorme saudade do meu jeans, meu tênis e minha camiseta.

A imagem no espelho brigava comigo, me censurava:

- Agora você é uma estagiária de pedagogia e não mais aquela menina maluquinha que vendia artesanato com os hippies no centro da cidade.

Eu encarnava a imagem da professorinha tradicional.

- Socorro só me falta os óculos. Não, isto não.

Troquei de roupa correndo, já estava me atrasando. Vesti meu jeans, meu tênis e uma camisa . Lavei o rosto e apliquei apenas um batom.


Ao chegar à escola fui encaminhada para a quarta série do fundamental.

Fui conduzida à sala de aula; no pátio da escola um menino negro cheirava um lenço. Meu Deus – loló.

Entrei na sala de aula. Pensei que seria uma turma de adultos operários semianalfabetos. Que nada. Era quatorze adolescentes a maioria drogados.

Senti um frio na barriga, medo e vontade de urinar. Eu precisava enfrentar aqueles monstros que impunham canivetes, bisnagas de loló, vendiam maconha no meio da aula.

Sentados pelos cantos da sala me olhavam curiosos enquanto eu me apresentava. Escrevi meu nome no quadro.  Pelas minhas costas um menino gritou:

- Aí ruivinha, na saída tu é curra.

Fui jogada numa jaula de leões e eu precisava lutar para não ser devorada.

E eu que pensava em apresentar-me bem vestida para esses canibais mirins.

Eu precisava fazer o meu estágio. Era eu ou eles, e eles sabiam disso.

Nos três primeiros dias observara a todos. Eram apenas meninos e meninas a fim de curtirem com a cara de alguém: - a minha.

Pensei em desistir do estágio, eles poderiam literalmente me matar.

No quarto dia, chegara a hora de eu ir à escola, mas estava desacreditada do meu trabalho.

Tomei uma dose de uísque. Eles não vão me fazer desistir. São apenas crianças, adolescentes, 15, 17 anos e eu com 30. Eram meninos fortes, maiores que eu, fedendo a cola de sapateiro e armados.

Outra dose de uísque, eu precisava ter coragem.

Vesti o jeans que costumava usar no calçadão quando vendia artesanato. Uma camiseta  com a estampa de uma caveira escorrendo sangue e a cabeça do demônio escrito tendência suicida.

Entrei na sala de aula com cheiro de uísque, descabelada, sem maquiagem.

Juntei quatro mesas na sala e coloquei sobre elas argila, lápis de cor, canetinhas coloridas, tesoura, cola, revistas , folhas mimeografadas com textos, exercícios de matemática e português, o gravador com uma fita dos Titãs.

Os Ninjas do BueiroOnde histórias criam vida. Descubra agora