A gente não quer só comida Capítulo 3

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Acabara de ler um livro e me dirigi a cozinha a fim de preparar um café Enquanto preparava, pensava no que lera

O  bicho da seda constrói seu lindo casulo,mas não pode sair dele e acaba por ficar lá dentro.

Já estava anoitecendo,com certeza seria uma noite fria.Era agosto.,

A campainha toca, Abro a porta. Do lado de fora meninos e meninas negros não tendo mais que oito ou dez anos .

-Tia, tem pão pra dar

Preparei sanduíches e sentei na porta com eles.

-Onde estão as mães de vocês?

-Somos irmãos, responde a maior. Meu nome e Andreia, tenho doze anos.

A conversa seestendeu por ai. Começamos a nos ver todos os diasHojesou educadora de rua na vila onde eles moram

Creio ser meu melhor material de trabalho ,a afetividade, a gratuidade do meu amor, mas os cemitérios estão cheios de crianças que só tiveram amor na infância.

 Por maior que seja esse sentimento, ele não é tudo, pois não enche barriga, não cura dor física e a mortalidade infantil continua crescendo a cada dia.

Me incomoda saber que existe por ai tanta gente morrendo de fome, tanta gente desperdiçando comida, comida se estragando.

Na vila, os problemas são muitos. O problema da criança não e isolado, por trás existe uma população oprimida e castigada por salários e condições de vida desumano.

Acredito que antes de trabalharmos com a criança nas ruas, e preciso trabalhar com a família da criança , com a comunidade a qual pertence.

Crianças estão nas ruas esmolando e sendo explorada e abusadas sexualmente, fazendo pequenos trabalhos e ate mesmo furtando porque a sociedade não sabe dar lhes a imagem de uma comunidade humana.

.Aos sábados , pela manhã, visto a camiseta do movimento, no pescoço meu crucifixo vazio, um jeans surrado e um jeito nos cabelos que já passam da cintura.

Caminho em direção da Pedreira. Já conheço cada pedra, cada pedaço de chão em que piso. Começo a subir a Pedreira. Na metade do caminho, atravessando um mato e um arroio de água putrefata, encontro alguns moradores da vila.Um cumprimento aqui, um aceno de mão ali um beijo numa criança mais adiante.

O cenário é sempre o mesmo. Uma favela pingente numa pedreira desativada. Crianças semi nuas ou nuas correndo becos em minha direção.Já faço parte do cenário dessa realidade dura. A professorinha de series iniciais que não tem nada para dar de si, somente carinho e algumas lições pedagógicas sentados ao chão, ali no beco mesmo.

Quando chego, as portas dos barracos se abrem para eu entrar. Logo surge uma cadeira,pois a subida do morro e muito cansativa e de difícil acesso pelas pedras irregulares da pedreira, e um copo de água tirada do balde para me refrescar.

Eu só preciso escutar os lamentos , os risos das crianças, e muito afago durante muitas horas.

Entre homens e mulheres, na maioria bêbados, procuro contornar desentendimentos entre as crianças e os adultos.Fiz amizade com todos. Já faço parte da realidade deles.

 Realidade, cruel, maligna e desesperadora.

Meninas de seis anos que já são abusadas  na avenida fazendo sexo oral ou masturbando seus clientes, sendo que seus primeiros abusadores foram seus próprios pais, padrastos ou irmãos.

Alguns meninos trabalham vendendo jornais nas esquinas, e outros são menores infratores que brincam como meninos mas assaltam a mão armada como homens.

Os Ninjas do BueiroOnde histórias criam vida. Descubra agora