O Príncipe

Horrores

    Três da manhã. No quarto de hóspedes, rei Filipe começa a abrir os olhos lentamente. Depois, se levanta um pouco da cama e olha em volta. Sua esposa Aurora e sua nora, Lucinda, estão sentadas em cadeiras muito próximas uma da outra; Aurora com a cabeça encostada na mãe dormindo. Mais ao fundo, seu pai Humberto e seu sogro,rei Estêvão, dormindo cada um em uma ponta de um divã. Ele se levantou da cama cuidadosamente e vestiu um robe azul que estava próximo a ele graças à luz da lua que entrava pelas janelas. Mas não estava se sentindo bem: sentia como se alguém o estivesse observando prestes a atacá-lo fazendo-o ter palpitações. Saiu do quarto e andou em silêncio pelo grande salão olhando as cadeiras em que se sentaria por muito tempo com sua rainha.Subiu as escadas e virou o corredor para o lado de seu quarto e do de seu filho. Abriu a porta do quarto do filho, mas não viu ninguém. Estava vazio. Então, foi até seu quarto, mas só  encontrou a fada Flora ainda inconsciente na cama. Curioso que as fadas, mesmo aparentando estarem mortas, exalam um aspecto de magia sem fim. Saiu do quarto e ficou parado fitando o vazio tentando entender o que estava acontecendo. Então foi para um outro quarto onde estava a Esfera Mágica que, coincidentemente, estava "acesa" como se já soubesse que alguém viria.

Rei Filipe, sabia que viria me procurar, disse a Esfera na mente dele.

- O que está havendo, Esfera? Onde está meu filho? – Indagou rei Filipe com a voz baixa se aproximando do objeto mágico aos poucos.

Ele está em um baile, rei Filipe, respondeu a Esfera, num reino que fica do outro lado da Floresta Sombria.

Rei Filipe franziu um pouco a testa fitando o vazio tentando se lembrar de quem era o reino.   

- O que ele faz no reino de Branca de Neve? Não o apresentamos a ela. - Disse rei Filipe olhando rapidamente de volta para a Esfera se lembrando.

Eu lhe disse sobre seu filho, rei Filipe, falou a Esfera, disse que ele seria diferente dos outros e que cabe ao senhor descobrir.

Rei Filipe piscou algumas vezes concatenando as idéias. Até que foi tomado por um sentimento ruim e destrutivo: o sentimento de traição. Estaria Branca de Neve, amiga de sua esposa, armando um pacto com seu próprio filho para tirá-lo do poder? E como sua rainha pôde deixar isso acontecer? Teria ela concordado?

As coisas não são o que parecem, rei Filipe, disse a Esfera esquadrinhando os pensamentos dele. Ninguém o traiu e nem vai tirá-lo do poder. Contudo, conscientizei-o sobre a lei de retorno pelo que fez, lembra-se?

Rei Filipe assumiu expressão de pura revolta ao ouvir aquilo e se aproximou a passos duros da Esfera até ficar de frente para ela.

- Diga-me o que ele foi fazer lá. – Disse rei Filipe entre dentes. – Diga- me ou eu a espatifarei contra a parede.

Sabe o que pode acontecer se o fizer, rei Filipe, disse a Esfera sem se alterar com a ameaça. É por minha causa que seu reino ainda está protegido contra o mal. Destrua-me e verá as portas de um inferno inimaginável se abrir contra você.

Rei Filipe ficou assombrado com as palavras que ouviu e foi se afastando rapidamente até chegar à porta.

- Eu o trarei de volta para cá, Esfera. – Disse rei Filipe ainda entre dentes. - Ele vai se casar com quem eu escolher e seguirá a tradição real. Quando isso acontecer, eu juro: te destruirei e banirei aquelas três fadas daqui para sempre. – Completou fechando a porta com força.

Ao sair, rei Filipe estava respirando depressa por causa da raiva que sentia. Quando levantou os olhos, viu um vulto no escuro e sua raiva transformou-se em pânico.

- O que... você quer de mim? – Indagou Filipe com a voz trêmula.

O vulto deu uma risada de escárnio e saiu da penumbra bem devagar. Aqueles olhos negros e brilhantes... Ao reconhecer quem era, Filipe teve uma vontade enorme de descer as escadas correndo, mas não conseguia. Decidiu arriscar.