Meus óculos pendurados na gola da camisa batiam no peito enquanto eu descia rapidamente a escada.
- Você demoro, já estava subindo lá. – Ela apontou para uma cadeira ao seu lado da mesa enquanto passava manteiga no pão.
A escada dava em frente a cozinha, que tinha uma mesa pra 4 lugares quadrada, a pia, muitas plantas ficavam em vasos, camomila, babosa, boldo, guaco, gengibre, entre outras... muitas delas medicinais, e minha mãe sempre gostou, o ar dentro de casa era tão puro, eu me sentia muito bem naquele ambiente, desde cedo já sabia várias plantas e seus tipos.
Tinha um fogão aonde a encanação de gás saia por fora no corredor onde o gás estava, um micro-ondas, uma geladeira e só, era o suficiente.
Meu irmão estava na cadeira em frente a da minha, sorrindo como sempre e já de uniforme para irmos a escola, seus cabelos eram louros também, da cor dos meus e ele era extremamente alto, tinha 1,90 de altura, mas o médico que passamos esses dias nos disse que ele não cresceria mais que aquilo, ainda bem. Seu corpo era forte, não tão musculoso, mas suficiente para chamar atenção das meninas da escola e gerar ciúmes nos namorados delas. Lembrei do horário e olhei para o relógio, era 6 e 50, já que entrávamos 7h, eu tinha 5 minutos para comer, sempre chegávamos atrasados, ele chegava atrasado por minha culpa, e eu, bem, por minha culpa mesmo.
- Come logo que eu não vou te esperar não. – ele disse rindo.
Até parece que não ia me esperar, todo dia falava aquilo, mas sempre esperava, pra ele, o quanto mais ficasse em casa, melhor.
Eu olhei pro meu prato, tinha dois omeletes deliciosos esperando para serem engolidos por mim, e também um copo de suco.
- Brigado mãe. – eu agradeci pegando o garfo e a faca, algo que eu não gostava muito também de usar.
Ela sorriu enquanto mastigava.
Eu sabia que ela gostava de me ver feliz, por mais que morássemos numa casa simples, ela sempre trabalhou e nunca deixou faltar nada de comida em casa, eu era bebe quando ela me adotou junto com meu irmão, isso à 12 anos atrás, ta certo que ainda sou uma criança, eu sei isso, mas nunca pedi brinquedos ou nada, e também nem precisava, meu irmão inventava algumas mágicas e brincadeiras e nos divertíamos o dia todo no quintal, ficávamos todos sujos de barro.
Plantávamos feijões para ajudar minha mãe, muito do que comíamos era plantado por nós mesmos, menos o arroz e a carne. Verduras era o que mais tinha, minha mãe trabalhava como feirante, e nossa horta atrás da casa era suficientemente grande para gerar a venda do dia e sobrevivermos. Para ir até a horta existia uma porta na cozinha que dava direto pra lá, minha mãe sempre recebia elogios pelas frutas e verduras vendidas, e ela agradecia a mim e meu irmão, pois cuidávamos muito bem de tudo aquilo.
Terminei de comer e meu irmão já estava pronto na sala assistindo tv.
- Vamos Jerry, que demora viu? – eu o provoquei enquanto ia com as mochilas nas costas e os óculos nos olhos até a porta de entrada, eles até que eram estilosos.
- Seu muleque! – ele agarrou meu pescoço e começou a bagunçar meu cabelo mais do que já estava.
- Tchau meninos, boa aula! – disse minha mãe enquanto dávamos um beijo e um abraço nela, cada um.
- Brigado mãe. – agradecemos em conjunto e fomos correndo.
Não tivemos tempo nem para conversar, a escola ficava a dois quarteirões da nossa casa.
- Bom dia seu William! – disse Jerry enquanto paramos na entrada do portão, que já estava fechado. – tem como o senhor abrir para nós?
O segurança da escola sempre ficava alguns minutos na entrada antes de ir fazer sua outra função na escola, exatamente para esperar nós dois e abrir o portão novamente.
- Vocês não mudam nunca né. – ele levantou de seu banco de bar com seu jornal e destrancou o cadeado. – vão lá, boa aula meninos.
Ele era muito legal.
E então nós dois entramos, andamos pouco até nos separarmos. Meu irmão já estava no terceiro ano do ensino médio, ele tinha 17 anos, eu ainda estava na sexta série do ensino fundamental.
Minha sala ficava no primeiro andar, a escola a partir da entrada, existia uma escada para o segundo andar, e no segundo andar existia outra para o terceiro, onde só tinha o terraço e aonde as tias da limpeza ficavam fofocando. No primeiro andar, ficava o ensino fundamental, e no segundo o ensino médio, porém o intervalo juntava todos e todo mundo se misturava nos 3 andares.
- Com licença professora. – eu bati na porta e esperei a autorização para entrar na sala, mas isso demorou e eu entendi o porquê.
- De novo professora? – ela me encarava segurando os óculos um pouco abaixo do nariz. – ah que droga.
E então eu abri a mochila, tirei os óculos escuros e os guardei na mochila, mostrando a todos meus olhos verde e cinza.
A sala ficou em silêncio e era possível escutar todos cochichando sobre mim.
- Você sabe que isso atrapalha você na aula. – ela me disse enquanto eu passava e ia me sentar na cadeira de frente pra dela. – será que toda vez vou ter que te falar isso?
- Isso não me atrapalha em nada para enxergar professora. – eu retruquei emburrado. – você não usa, quem usa sou eu! Quer que eu fique sem eles para que todos possam me zoar? – eu percebi tarde de mais que estava falando mais alto do que devia, e a sala toda começou a rir.
A professora com pena pediu para que todos ficassem quietos, eles respeitaram, mas os cochichos ainda eram escutados.
- não vou avisar de novo. – a professora pegou o livro. – se fizer isso de novo, você vai pra diretoria. Enquanto isso, peguem o livro de história e leiam da página 56 a 70, vou pedir um resumo desse assunto.
Todos rapidamente pegaram os livros e começaram a estudar, enquanto eu abria o livro e lia em silêncio, até o fim da aula.
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Elemental
AdventureNão posso dizer exatamente toda a história do meu livro porque já escrevi um e quem também já escreveu sabe, a cada 10 palavras pensadas, 30 são escritas. Mas posso lhes dar uma ideia de que esse livro vai te gerar muitas emoções. Quando bebê, seu...