Daniel, meu novo amigo

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Gostando ou não, era necessário ir a escola, porque eu precisava aprender pra me tornar botânico, algo que sempre sonhei desde criança. Eu me sinto bem com as plantas, parece que elas fazem parte de mim.
A professora era a mesma o dia inteiro, tínhamos aula de história, matemática, ciências, português, geografia... eu gostava muito de geografia, principalmente quando falava da floresta amazônica, com todas aquelas plantas e animais perigosos.
- Jack. - eu estava desenhando no caderno alguns carros, adorava carros também. - venha até aqui.
Só fui perceber depois que era a professora me chamando, como eu já tinha terminado a lição, fui fazer algo pra passar o tempo.
- pra que quer que eu vá ai? - perguntei desinteressado na professora.
Não é porque devo estudar, que eu devia gostar dela, não gostava de ninguém de lá.
- venha logo, quero que apresente pra sala o trabalho que me entregou. - ela disse na minha frente.
E era bem aula de geografia, não seria uma apresentação desagradável.
- tudo bem vai... - então fechei meu desenho e fui até a frente da sala e comecei a ler os papéis que a professora devolveu que era meu trabalho.
"O homem desmata o mundo, o mundo ataca o homem, numa guerra de gigante e formiga, a formiga de verdade é atacada no campo de batalha, o homem é advertido com a nossa falta d'água e comete o mesmo erro da semana passada. O homem desmata o mundo, destruindo seu futuro, a folha que ele tira, é o papel do caderno da sua filha, é o ninho de um passarinho, é o braço da árvore, é uma vida."
E então continuei com a minha apresentação e depois de alguns minutos ela teve fim, eu já sabia que tinha tirado 10 porque estava na folha, só não entendi porque a professora queria que somente eu apresentasse.
Todos ficaram em silencio, ninguém ousou dizer algo, a professora ficou e olhando com um olhar esperançoso, meio que tentando me dizer algo sem mexer os lábios, pra ver se eu tinha percebido, e então eu percebi.
Todos me respeitaram naquele momento, porque eu deixei de lado a inquietez, me aproximei deles de uma forma que eu gosto, que eu sei, e sem precisar de cochicho algum, alguns sorriram para mim, até Gabriela, a menina que chamava atenção de todos, olhou e sorriu para mim ao tirar uma mecha de cabelo preto dos olhos.
- você é encantador Jack. - a professora quem disse, e não iniciou-se nenhum som de negação ou risadas. - só basta ser você mesmo, sem medo de dizer o que quer ou o que pensa, seus olhos são lindos do jeito que são Jack, não se sinta, não se isole da maneira como costuma, se inturme e será alguém respeitado.
Foi essa a lição que a professora quis passar a todos, e até a ele.
Todos começaram a gritar, sorrir, alguns até cantaram.
E então tudo passou, um menino de cabelos brancos que nem a neve e os olhos azuis escuro apareceu na porta, pelo jeito era aluno novo.
- com licença. - a voz estava suave, calma. - me encaminharam pra cá lá da diretoria.
Todos começaram a conversar novamente, sem dar muita atenção ao menino.
- olá, pode entrar. - a professora estava do meu lado em frente a sua mesa quando o menino entrou lentamente carregando sua bolsa azul marinho.
Já que ele era novo na escola, não tinha uniforme ainda, estava vestindo uma blusa de lã cinza e uma calça jeans com um tênis all-star com alguns rasgos. Seu cabelo era de um arrepiado estranho, todo desgrenhado. Tinha aproximadamente 1,60 de altura.
- eu sou novo aqui, acho que a senhora já percebeu. - esse é meu encaminhamento.
Como eu estava ao lado da professora, ele me cumprimentou também e eu pude ler: "Daniel se mudou recentemente para nossa cidade, mora com seus pais e precisava de entrar em alguma turma da sexta série, como essa já estava com alguns alunos a menos que as outras, o encaminhei para cá".
- tudo bem Daniel. - ela apontou para a carteira atrás de mim. - senta naquela cadeira ali, eu sou a professora Gisele, espero que goste do meu modo de ensino, seja bem vindo.
E então ele foi em direção a carteira, eu fui logo em seguida.
- você veio de onde cara? - eu perguntei, era minha chance de começar um novo jeito de ser visto.
Ele sorriu ao responder
- eu vim de longe. - Ele começou à abrir a mochila tirando duas adagas diferentes da mochila, elas eram curvas. - e você, é daqui mesmo? Qual seu nome?
Eu respondi mas não consegui tirar os olhos daquelas facas, será que esse cara era louco?
- sim, desde pequeno moro aqui com minha mãe e meu irmão. - eu olhei ao redor para ver se alguém enxergava também aquelas coisas, se alguém visse poderia dar errado alguma coisa. - porque está com essas facas na mochila?
- São adagas. - ele respondeu secamente. - É porque eu gosto muito delas, são herança do meu avô, é como eu ainda me lembro dele.
Estava um pouco explicado, mas mesmo assim...
- fora isso, você as usa para algo?
Ele começou a rir.
- ah, ela é super útil. - ele as guardou novamente. - uso ela pra caçar rãs algumas vezes, pombos, roubar algumas pessoas, matar pessoas.
Ele continuou olhando seriamente para mim, tentando ver minha expressão. E pôde ver que ela estava de alguém assustado.
- eu to brincando. - Ele começou uma gargalhada que chamou atenção de todos da sala, e logo parou. - eu nunca feri algo ou alguém com elas, mas muitos foram amedrontados por elas, pelo fato que estou sempre me mudando, muitos meninos das escolas novas me provocam, então eu os assusto e logo em seguida me deixam em paz.
Realmente, agora essa resposta fazia sentido.
- muito inteligente. - o sinal do intervalo tocou. - venha, é intervalo, vamos encontrar meu irmão.

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