Faz dois meses que eu acordei de um coma. No primeiro mês minha mãe não falou comigo e meu pai se tornou protetor demais.
Era como se estivesse na família errada, não eram as pessoas que me criaram, eram pessoas melhores. Queria acreditar que eles mudaram, mas é difícil. E eu estava certo, eles não mudaram.
No segundo mês meu pai começou a me bater, e eu voltei a escutar a risada da minha mãe. Tudo voltou ao normal. Até hoje...
- Alô. - atendo o telefone. Meus pais saíram para jantar então estou sozinho, como sempre.
- Luke? - uma voz feminina e insegura me chamou do outro lado da linha.
- Quem é?
- Desculpa, será como posso ir na sua casa pra brincar? - a menina sussurra.
- Quem é? - repito a pergunta.
- A irmã da Katherina... - a voz dela soa mais baixo ainda.
- K-kath? Claro... - ela suspira. - Quantos anos você tem mesmo?
- 12...
- Quer brincar? - indago.
- Por favor, Luke... - não sei porque, mas seu tom de voz está me deixando preocupado.
- Claro.
- Obrigada. - ela desliga o telefone.
Se não me engano, seu nome é Kelly... A irmã mais nova de Katherina. Como será ela?
•••
Tudo acontece quando você menos espera, quando você está tão perto do seu final feliz que acaba relaxando. A sensação de ter feito de tudo, mas nada importa, porque no fim não há um "final feliz". Não há esperança, não há nada que possa ser feito. O destino é cruel, mas são as pessoas que o fazem assim. As escolhas erradas, palavras não ditas, gestos de amor esquecidos, tudo tem uma consequência, e nem sempre somos os únicos afetados.
Depois de um tempo vivendo, não consigo imaginar como uma pessoa se mantém feliz, como ela consegue sorrir com vigor. Meu sorriso é seguido por lágrimas, que me obrigo a segurar.
Desaprendi o que é felicidade, não sei como é sentir seu coração bater tão forte que você não consegue aquentar. Não sei como é ver alguém e sentir alivio e compreensão. Acho que vivi tempo demais na escuridão...
Eu era assim, não sentia nada além de solidão. Até reencontra-la, e ver a luz de novo. Mas então voltamos ao primeiro ponto. Ao ponto de que o destino sempre da um jeito de te mostrar quem você realmente é, de ser cruel te dizendo que você não pode fugir do que fez, de quem foi.
Por mais que tente, por mais que se dedique a esquecer, a tentar mudar, sempre vai ter aquela pequena parte do seu coração que está quebrada, que te incomoda cada vez que vê uma foto de família ou olha seu reflexo, tão semelhante ao do seu pai...
Esses pequenos momentos se tornam incômodos com o tempo. Não importa quanta luz há em sua vida, os demônios continuaram a viver nas sombras de seu coração.
Sei que não sou o único se sente assim, mas para mim parece que minha alma é a única que está desaparecendo. Vejo todos com o rosto brilhante, cheio de vida e luz, mas para mim é tudo tão vazio.
••
- Olá pequena! - digo, tentando alegrar a menina triste assentada nos degraus da minha porta.
- Não precisa disso, você sabe que não. - sua voz é fria.
- Me desculpe, mas eu perdi a memória... - os olhos dela ficaram mais tristes.
- Eu fiquei sabendo, sinto muito. - ela faz um negócio engraçado com os pés. - Posso entrar?
- C-claro... - ela entra, seguindo para a cozinha. - Você é a irmã da Kath?
- Sim, já te falei isso pelo telefone. - a irritação é clara na sua voz.
- Desculpa. Por que a raiva? - me sentei atrás do balção da pia.
- Ela é uma ridícula, que foge na primeira oportunidade que tem. Ela não foi capaz nem de ficar com você... - ela vem para ao meu lado segurando um picolé.
- Eu não acho que ela seja rídicula... - dou uma mordida no picolé dela.
- EIII! - começo a correr e ela vem atrás de mim.
- Cuidado, você pode se machucar. - começo a rir na situação. - Por que veio me ver? Desculpe a pergunta. - para perto das escadas que levam para o segundo andar.
- Você costumava conversar comigo, sobre nossos pais... - ela abaixa a cabeça e assenta subitamente no chão.
- E por que isso? - me junto a ela.
- Minha mãe não é muito gentil, mas acho que você substitui bem.
- Substituo? - seguro uma risada. - Sinto muito pela sua mãe.
- É, você é sempre carinhoso, apesar de parecer sempre estar escondendo algo.
- Qualquer que seja essa coisa que eu escondo, posso te garantir que não faço ideia do que seja. - ela ri.
Ficamos conversando no chão gelado. Falando sobre as coisas de que não lembro, sobre escola e pais. Para uma criança ela já sofreu muito, o que faz com que me lembre muito Kath. O telefone toca.
- É seu pai. Ele quer que você volte pra casa. - digo a ela. - O motorista já está lá fora.
- Tudo bem... - Kelly se levanta lentamente, batendo levemente na roupa.
- Foi bom te ver. - caminho com ela até a porta. - Espero que volte mais vezes. - ela me olha e seus olhos brilham.
- Obrigada! - seu abraço é carinhoso. - Até mais, Luke!
••
Sinto que estou em um mundo muito familiar, mas que não consigo reconhecer. As coisas parecem as mesmas, mas estão muito mudadas. Isso me assusta.
Queria poder lembrar para entender, mas ao mesmo tempo tenho medo do que vou encontrar. Não gosto de ter medo. Essa sensação de sufoco me preenche, tenho que me controlar para não entrar em desespero.
Um grito fica preso em minha garganta. Pego uma mala, jogo todas minhas coisas dentro dela. Corro para o escritório do meu pai, vasculho as gavetas procurando meus documentos e dinheiro. Guardo tudo que acho.
Estão surtando, definitivamente surtando, mas ficar aqui só me deixa pior. É como se estivessem enfiando um pino de boliche na minha garganta sem que eu pudesse tira-lo.
Fecho a mala, desço as escadas correndo, sinto o suor escorrer pela minha testa. Pego a chave do carro e me apresso para a garagem.
Não para até não ver mais minha casa. Minha mente está a 220V tentando decidir para onde ir, algum lugar onde eles não me achem. Uma repentina dor de cabeça me ataca, fazendo com que eu perca o controle do volante por alguns segundos, fazendo com que alguns carros buzinem para mim.
Talvez essa não tenha sido minha melhor ideia, mas não posso voltar atras agora!
•••
AAAAA faz muito tempo que eu não escrevo ent pf me corrijam se alguma coisa estiver errada kkk szszsz
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Bitter
Teen FictionForam os piores 5 anos da minha vida. Fiquei longe da pessoa que eu amo. e fiquei preso com cães raivosos e sem cérebro. Trabalho ganhou um novo significado e a vida perdeu o seu. Dizem que depois da tempestade vem o sol, mas nesse caso, a tempestad...