Capítulo 1

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Tudo começou quando eu tinha uns 13/14 anos, não me lembro muito bem do mês exatamente, mas me lembro dela, lembro de como sorria para mim, dizendo que tudo ia ficar bem, que ela iria voltar. Lembro de soltar sua mão e deixar os grandes homens a levarem para longe. 

O desgosto que senti naquele dia não foi normal, o gosto metálico na minha boca apareceu pela primeira vez. Foi o primeiro dia que eu realmente quis morrer.


Minha vida nunca foi perfeita, apesar do que todos pensam. Sou filho de um rico homem, com várias empresas, minha mãe vem de uma família rica de médicos. Sempre me chamaram de "filhinho de papai", mas essas pessoas não sabem o que acontece dentro da minha casa.

Aconteceu pela primeira vez quando eu tinha 4 anos, meu pai chegou tarde do trabalho, mas minha mãe estava de plantão. Lembro dele, ao receber essa noticia, de como quebrou a mesa de vidro da sala, de como me bateu com um quadro chuva e me trancou no armário, como rasgou cortinas e algumas roupas da minha mãe.

Quando ela chegou, ele a segurou pelos cabelos e disse que nunca mais queria esperar ela, que ele não era esse tipinho. Se me concentrar consigo ver seu rosto apavorado se tornando tranquilo e com um sorriso gigante no rosto, se me concentrar eu a escuto sussurrar para meu pai que era tudo minha culpa, pois desde que eu nasci ela tem que trabalhar mais para sustentar meus gastos, mas a verdade é que ela era quem gastava, ela quem comprava vestidos caros para se gabar com as amigas, e eu era quem só tinha um par de sapato, apenas um pijama.

Depois desse dia, eu apanhava toda noite. Meu pai me batia com qualquer coisa, contanto que fosse deixar uma marca, e minha mãe ficava atrás da porta, dando risadas.

Isso parou por um tempo, depois de 2 anos, quando meu pai trouxe uma amiga para passar um tempo aqui, ele parecia outra pessoa na frente dela. A amiga dele trouxe sua filha, a menina mais linda que já vi. Quando nos conhecemos parecia que algo estava errado, para nos dois.

No primeiro dia de sua estadia, ela foi para cama cedo. No segundo dia, meu pai estava um tanto irritado, talvez por não ter me batido noite passado, então me mandou para o quarto, a linda menina disse que iria para cama, mas tarde da noite ela entrou em meu quarto, eu estava deitado olhando as estrelas pela janela...

- Está tudo bem? - assento na cama, enquanto ela fecha a porta e caminha lentamente até a cama.

- Não consigo dormir... - ela sussurra.

- Qual seu nome mesmo? - seus olhos brilham como pedras preciosas.

- Katherine... - ela assenta ao meu lado.

- Eu sou Luke. - estendi minha mão para que ela apertasse, mas em vez disse ela segurou meu braço e puxou a manga da minha blusa, onde se encontrava uma enorme marca roxa, seguida de pequenos arranhões.

- O que foi isso? - ela encostou o dedo gelado sobre o machucado.

- Não foi nada. - tirei meu braço de suas mãos. - E você não devia me olhar assim! - seus olhos pararam de percorrer meu corpo.

- Desculpe. - ela diz, se repreendendo.

- N-não precisa falar assim, também. - ela colocou as mãos no colo e ficou as encarando. - Então... Por que veio aqui mesmo? - sinto seu corpo estremecer.

- Não consigo dormir...

- Tem medo do escuro? - ela olha para mim, com os olhos arregalados. - Eu também tenho. Pode ficar aqui se quiser. - volto a deitar e observar as estrelas. Ela faz o mesmo.

- Você é gentil.

- Todos merecem gentileza. -  ela ri. Me viro para ela, encostando a ponta do seu nariz no meu. - O que é engraçado? - sua feição se tornou séria.

- Você tem olhos tão bonitos, mas uma boca cheia de mentiras... - foi ai que percebi, seus olhos não eram como pedras preciosas, mas sim como estrelas.


Nos tornamos melhores amigos, eu e Katherine. Éramos inseparáveis, até que nos separaram. 

Alguns meninos idiotas a importunaram. Normalmente eu quebraria o nariz deles, mas dessa vez, eles a afogaram. O senso dela foi danificado, graças as surras da mãe, então agressão não significava agressão. E a consequência disso foi ela afogar o menino, que acabou morrendo. Os policiais disseram que foi defesa dela, apesar de saberem que não era bem isso, mas também não queriam causar muito tumulto, e o dinheiro que meu pai deu foi uma grande quantia.

Depois desse acidente, Kath não se olhava mais no espelho e sempre vinha chorando para mim, me ligava no meio da noite por causa do pesadelo, e eu ia correndo para sua casa. Até que um dia ela disse que iria para um reformatório, ficaria 5 anos longe.

De primeira me sinto abandonado, por que era o que estava acontecendo, mas depois aceitei bem, pois era o que ela queria. 

O que aconteceu nesses 5 anos é a pergunta que me ronda... Então, é melhor eu começar a falar.






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