Capítulo 4

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- Ele vai ficar bem, papa? 

- Sim, querida. Mas não sabemos quando vai acordar. - ele coloca a mão sobre o ombro de Emily. - Foi bastante corajoso da parte dele não desistir.

- Ele é corajoso! - ela afirma, e se distancia de seu pai.

- Sinto muito, senhor. - digo, abaixando a cabeça.

- Não, vocês pegaram a maleta, isso é tudo que im... - ele para quando Em se vira para ele, com um olhar medonho. - Bem, não vamos falar disso agora. - um de seus seguradas toca em seu ombro e sussurra algo. - Tenho que ir, até logo. - ele sai da sala, nos deixando sozinhos.

- Não há necessidade de se preocupar tanto... - me levanto da cadeira onde estou há uma hora e meia e me forço a ir abraça-la. Para minha surpresa, ela retribui.

- Eu sei... Mas sinto como se fosse minha culpa, sabe? - seu coração bate rápido e sua respiração começa a acelerar. - Eu gosto bastante dele, se ele não conseguir, se não acordar... Não me imagino sem ele...  - e então, ela começa a chorar.

Já vi muitas pessoas chorando, implorando, mas nunca vi Em chorar. Nunca vi uma só lágrima cair. Sempre achei que as únicas coisas que ela sentia eram diversão e raiva, mas ela está chorando agora, em meus braços.

Não sei como reagir, apenas abraço-a mais forte. Ela continua a chorar, até começar a soluçar. 

- Droga... Eu não devia... - ela se afasta de mim, secando as lágrimas. Mas eu seguro seu rosto, impedindo ela.

- Não, você fica bonita quando chora. - suas bochechas ficam vermelhas, mas ela não tenta esconder, nem diz algo sarcástico, só fica parada, me olhando, e eu a olhando de volta.

De repente, estou a beijando. Seus mãos estão em minha nuca, me puxando pra perto. Sua boca está com um gosto salgado, por causa das lágrimas, mas também é quente e macia. 

- Com licença... - alguém bate na porta. Emily se distancia de mim, e seca o rosto ainda molhando.

- Sim. - diz, em um to indiferente. Um médico entra no quarto, com um olhar vago.

- O jovem acordou. - o médico diz, mas ao invés de nos deixar sair, ele fecha a porta atrás dele.

- Como ele está? - pergunto.

- Bem... Acontece que ele sofre de amnésia. O carro bateu com força nele, é difícil dizer como ele ainda está vivo, mas claro que ficou com uma "marca", vamos dizer assim, do acidente.

- Como sabe disso? Como sabe que ele não está apenas confuso? - Emily vai na direção do homem, como se fosse arrancar sua cabeça se ele continuasse com as más noticias.

- Bem, os pais dele estavam por perto na hora, e confirmamos que a última coisa que ele se lembra é ter se despedido de uma garota que ia para um reformatório. Ele disse que não se lembra que como foi para aqui.

- Então temos que ir ve-lo, e ajudar.

- Sinto muito, senhorita. Mas os pais do garoto falaram com o seu pai, e a pedido da mãe, o menino vai manter distancia de vocês dois.

- O que?! - Emily grita, e sai da sala, batendo a porta.

- Obrigado, doutor. - digo, e depois saio atrás dela.

- Emily, espera! - seguro seu braço e a empurro para dentro do banheiro.

- Me solta! Eu tenho que falar com meu papa! 

- Fica quieta! - berro de volta. Ela se cala, e fica me encarando. - Não é você que vai decidir alguma coisa aqui. - ela bufa em reprovação. - E já não acha que foi bastante risco para Luke quase morrer nesse acidente? Imagina se algo assim acontece novamente? E se da próxima vez for minha culpa? Ou sua? Você conseguiria viver com isso? Pois eu não conseguiria viver com você me odiando! - ela me abraça. Me aperta com força contra seu peito, mas dessa vez não chora, fica apenas agarrada a mim.

- Você tem razão... Obrigada! - ela me solta, ainda com os braços em volta do meu pescoço. - E eu nunca te odiaria.


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