Dia 0

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- Não é o melhor momento para dizer isso. - Não era mesmo. - Mas eu gosto de você, Jason.

Essas palavras ainda ecoavam na mente do loiro, que encarava o teto do quarto sem saber o que fazer. Afinal, o que se faz quando seu melhor amigo se declara para você pouco tempo depois que seu namoro termina?

Bom, Jason correu. Voou, praticamente, para o apartamento e se trancou no quarto.

Como, pelo amor de Deus, Leo havia tido coragem de dizer aquilo?! Digo, ele nem ao menos conseguia olhar para a cara da Calipso antes de ela pedir para saírem. Ele só podia estar...

Brincando!, pensou animadamente e aliviado.

Claro que tudo aquilo era uma brincadeira. Leo nunca iria se declarar para alguém, menos ainda para ele. Naquele mesmo instante, um som estridente começou a soar pelo quarto. Jason pegou o celular que estava sobre a cômoda e sorriu ao ver a foto do amigo fazendo careta.

- Leo, que bom que ligou. Desculpe ter saído daquele jeito, cara. Não tinha notado que era uma brincadeira - despejou sem dar tempo de o outro dizer algo.

- Não era brincadeira, Jay- respondeu após um breve silêncio.

- Como? - O sorriso foi morrendo, dando lugar a uma expressão de surpresa.

- Tem como você descer? Preciso te falar algo.

Mais?!

- Por que não sobe? - Leo riu do outro lado da linha.

- Eu vi o carro do seu pai entrar agora, então é melhor não.

- Desço em um minuto - respondeu e encerrou a chamada.

Jason enrolou um pouco calçando os tênis e procurando as chaves - que estavam no criado mudo. Ficou parado em frente ao elevador, respirando pesado pela ansiedade.

Quando as portas de metal se abriram, um homem alto e bem vestido saiu de lá. Estava carrancudo, como em quase toda ocasião.

- Seu amiguinho está lá embaixo - disse desgostoso.

- Eu sei. - Foi uma resposta simples, mas cheia de rancor. - Boa noite, pai - disse entrando no elevador.

Por algum motivo, seu pai não gostava de Leo e isso incomodava demais. Então esse detalhe, somado ao fato de que o homem havia abandonado a ele e a irmã nas mãos de uma mãe problemática, fazia Jason detesta-lo.

Assim que colocou os pés para fora do edifício, o loiro avistou uma figura magricela escorado na parede.

Leo estava com a mesma roupa de mais cedo - camiseta e bermuda jeans. Parecia brincar com algum material metálico, algo normal vindo dele. Pigarreou, chamando atenção do mais baixo.

- Grace - cumprimentou sorrindo de lado. Algo que o deixava com aspecto travesso.

- Valdez - disse Jason também sorrindo.

- O que acha de dar uma volta? - perguntou e emendou: - Isso se seu pai não se incomodar, afinal estará com um marginal durante a noite.

Jason bufou, Leo riu e puxou o loiro pelo braço. Ficaram caminhando silenciosamente - o que era atípico de Leo -, o mais alto quase se esquecendo do motivo que o havia levado até lá.

- Então... - Leo começou meio incerto, remexendo no bolso da bermuda.

- Sim - disse levemente desconfortável. - Você realmente não estava tirando onda? - Quis confirmar.

- Não - respondeu prontamente. - Eu realmente gosto de você, Jason.

- Não é só como amigo? - Deixou uma pontinha de esperança soar em sua voz.

Leo o encarou, remexendo ainda mais no bolso, e balançou a cabeça negativamente.

- Sei que deve ser estranho, ouvir isso de um cara...

- Não! Quero dizer, mais ou menos. - Suspirou. - Eu não ligo se você gosta de garotos ou de garotas-

- "E"- interrompeu. - Garotos e garotas.

- Ok, não ligo pra isso. É só que... Você é meu melhor amigo - falou.

- Reyna também era sua amiga - rebateu, Jason fez uma careta ao ouvir o nome da ex.

- Isso é diferente.

- Por quê? - indagou levemente irritado. - Esquece, eu não vim para discutir isso.

Leo parou de andar de repente, quase fazendo uma mulher apressada trombar nele. Jason também parou quando o amigo o segurou pelo braço.

- Saía comigo - pediu com rosto levemente corado.

- Oi?! - Surpreendeu-se com o pedido.

- É, me dê... Sete dias! - disse apressado. - Saía comigo por uma semana, como em um encontro.

- Leo, isso é loucura! - Jason soltou-se do agarre do amigo com delicadeza. - Reyna acabou de terminar comigo e-

- Ela me deu carta verde. - Voltou a interromper. Vendo a cara confusa do amigo, explicou: - A gente conversou, ela me disse que eu podia fazer isso.

Jason, como se fosse capaz, ficou ainda mais surpreso. Porém, logo começou a se irritar.

- Mas isso não tem a ver com ela autorizar - cuspiu a palavra. - Sou eu quem decide isso, não ela. Nem você.

E começou a se afastar, voltando apressado pelo caminho feito. As sobrancelhas claras se franzindo, o tornando idêntico ao pai.

- Espera, Jason! - Leo gritou. - Por favor! - pediu ofegante, conseguindo alcançar o amigo após uma corrida.

Ele parou e se virou, encarando o mais baixo - que ainda tentava recuperar o fôlego.

- Eu preciso começar a fazer exercício - brincou, mas Jason continuou a olha-lo seriamente. Pigarreou tomando postura. - Me desculpa, eu não deveria ter falado sobre isso com ela.

- Não mesmo - concordou ríspido, o que fez Leo encolher os ombros, envergonhado. - Só isso? - Dessa vez tentou soar menos bravo, não gostando de ter intimidado o amigo.

- Me dê uma chance - pediu mais uma vez. - Somente uma e, eu juro, eu nunca mais toco no assunto.

Jason ponderou um pouco. Será que deveria aceitar? Leo era seu melhor amigo, sabia que era somente isso que sentia ele. Além disso, Jason era hétero.

- Eu não sei...

Leo o encarou, fazendo uma ridícula imitação de cão abandonado. Não resistindo, Jason riu.

- Tudo bem - concordou. - Mas apenas sete dias.

O moreno sorriu grande e comemorou dando um murro no ar.

- Começamos amanhã mesmo - falou, recebendo um aceno de confirmação. - Você vai ver, até o final da semana irei te converter para o "Team Leo" - gabou-se fazendo pose.

Depois disso, eles se despediram. Leo tinha que voltar para casa, pois estava ficando realmente tarde.

O latino então saiu correndo para o ponto de ônibus, gritando que ligaria depois para decidirem os detalhes. Jason riu e balançou a cabeça, inconformado com a animação do outro.

No caminho de volta para o apartamento, ele se perguntou se havia feito a escolha certa.

Não vai mudar em nada, então não será um problema. Foi o que concluiu certo de que a amizade deles não seria abalada.

Sete dias com LeoOnde histórias criam vida. Descubra agora