Capítulo 6

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James Morais

— Tem certeza de que não quer que eu leve vocês? — perguntei novamente.

— Não se incomode James — falou pegando as coisas da menina no banco de trás do carro. — A casa fica logo ali, virando aquela esquina. — Apontou sem muita vontade. — Assim que entregá-la, pegarei um ônibus e irei direto para a academia.

Tirei dinheiro da carteira e lhe ofereci.

— Pegue um táxi. — Ela olhou o dinheiro com expressão feia. — Por favor, Emily. Eu só quero ajudar. Ônibus sempre costuma atrasar.

Relutantemente ela pegou o dinheiro. Voltei os olhos para Aninha que me olhava com semblante triste. Curvei-me e beijei sua testa docemente.

— Logo estaremos juntos novamente — murmurei vendo seus olhos amendoados brilharem.

— Nós três?

Emily coçou a garganta fazendo-me encará-la. Sua expressão estava inquieta e preocupada. Ignorei-a e voltei a dar atenção a menina.

— Você, eu e a mana — respondi sendo surpreendido com seu abraço. Ergui-a em meus braços adorando a sua risada infantil no meu ouvido. — Agora vai, e seja uma boa menina.

Soltei-a e ergui os olhos para a Emily. Seu sorriso era contido.

— Até depois James — falou virando-se e caminhando com a filha.

Retornei ao carro e acelerei em direção à academia.

Mais uma semana que se iniciava, mas a cada novo amanhecer eu sentia-me renovado e disposto a lutar por um novo propósito.

Emily Soares

Enquanto caminhava com Aninha, sentia que estava levando-a para o purgatório. Aquela sensação queimava em meu peito a ponto de me faltar o ar. Ao menos se James estivesse comigo... Droga! Odiava aquelas minhas contradições!

— Vou ficar na mamãe agora, mana?

A voz meiga da Ana chamou minha atenção. Disfarcei e com a ponta dos dedos, enxuguei algumas lágrimas teimosas, encarando-a com um sorriso.

— Por pouco tempo amor. Você quer morar comigo? — O sorriso enorme que ela deu, aqueceu meu coração.

— Quero.

— Vou lutar por isso. Vamos ficar juntas de novo. — Prometi convicta. James alimentava minhas esperanças todos os dias. — Confia em mim? — Ela concordou com a cabeça.

Apertei sua mão e continuamos o trajeto. Quando enxerguei a casa da minha mãe, minhas pernas começaram a fraquejar. As lembranças de um passado não muito distante me encheram de rancor e uma sensação de sufocamento.

Abri o portão e o mesmo rangeu chamando a atenção de quem quer que estivesse no interior da casa. Não demorei para notar a presença da minha mãe.

— Oi querida. — Eu fechava o portão enquanto ela falava com Aninha. Até tentava acreditar que ela a amava, mas no fundo, sabia que no coração dela só havia espaço para uma pessoa na face da terra. — Sentiu saudades da mãe?

Revirei os olhos diante de suas palavras. Ela parecia ter prazer em me machucar, sabia o quanto me doía não poder chamar Ana por minha filha.

— Quero conversar com a senhora mãe...

Seu olhar me encontrou e vi quando bufou audivelmente, como se minha presença a desagradasse.

— Entra — resmungou, virando-se de costas. — Estou faxinando a casa.

Eu sou Dela (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora