Despertar para o novo amor
"Um rosto sem lagrimas ou sorriso, pertence a uma alma que desperdiça seu tempo." Sussurrou uma voz familiar que de repente surgiu na mente de Ramon invandindo seus pensamentos sem pedir licença.
- Pior que desperdiçar o tempo é sentir que ele não existe mais. - Respondeu a si mesmo Ramon, irritado com o pensamento.
Ele estava sentado em uma confortável poltrona num canto do seu quarto. Era noite e o vento frio assoviava batendo na janela. A cortina estava fechada e um silencio sepulcral permanecia no local. Ao seu lado estava uma mesa pequena de madeira e sobre ela uma arma clibre trinta e oitto carregada ao lado de seu copo de uísque que insistia em ficar vazio alem de uma vela que mesmo tombada e quase toda queimada, erguia sua chama em direçao aos céus.
Ramon por um longo tempo esteve aprisionado entre aquelas paredes gélidas de uma casa sem cores e povoada apenas por ele e sua mulher que se fora. As coisas haviam mudado desde então e ainda era difícil superar seus medos de enfrentar a vida e desafiar antigas promessas.
Magda, sua esposa a quem jurou amor eterno havia partido em direção aos braços de Deus há pouco tempo, menos de tres meses , consumida por uma doença degenerativa e roupas pretas ainda faziam parte da vestimenta diaria de Ramon, repleta de luto, mas não pense que a luta contra o luto era o unico conflito que afligia sua mente. O tempo se encarregou rapidamente de colocar novamente alguém em seu caminho. Ao receber consolo de algumas mulheres e amigos , Ramon percebeu-se novamente apaixonado.
Aos mãos já não conseguiam mais segurar com firmeza o copo e os moveis pareciam dançar a sua frente. As imagens se misturavam tanto que ele viu do outro lado da mesa sentado a sua frente sua propria imagem, como se houvesse um espelho diante dele. Seus sentimentos insistiam em lhe contrariar a logica.
- Suas Juras de amor eterno fircaram no passado ! Quem mal há em se entregar a um novo amor? - Perguntava sua imagem a sim mesmo.
- Não se lembra o que Magda disse em seu último discurso, ainda doente, praticamente no dia de sua morte? Lembro-me como se fosse hoje. Aqueles olhos verdes e gélidos fitavam-me profundamente enquanto ela estava deitada no leito do hospital e de seus lábios ouvi que ela deixaria sua morada entre os mortos para me visitar quando eu encontrasse outro amor. Disse com todas as letras muito bem pronuciadas que eu a pertenceria pela eternidade.
Ramon desviou seu olhar para o chão.
- Isso não deveria nos perturbar... - Disse seu reflexo.
- Mas me perturba dia e noite! Quando recebi essas palavras de sua boca isso me soou como uma maldição. Como poderia eu não dar valor a algo dito por alguem que estava nas portas do céu? Ela sempre perguntava a mim: - Se tiveres duas esposas nesta vida e amar a ambas com qual delas caminharás quando estiverem todos nós reunidos nos céus?
- Me diga voce que neste instante é puro sentimento. - Pediu-lhe sua imagem.
- Confesso que sempre temi os mistérios da vida e da morte e me jogar aos braços de outra mulher é para mim um desafio e por isso eu decidi colocar um ponto final nessa história. Estou convencido que devo me matar. Será muito simples. Apenas um tiro e tudo se resolverá. Nenhum de nós, razão e paixão, sentirá nenhuma dor e a nossa discursão terá um fim. Saberemos quem estará certo quando eu chegar ao outro lado.
- Mas por que tomar essa decisão tão drastica? Deve haver outra maneira. Pense com a razão! - Pediu a emoção.
- Se você não concorda que essa seria a melhor opcao, acompanhe meu pensamento: De que valeria declarar minha paixão àquela que havia encontrado, esse novo amor, se ao final da noite eu poderia estar morto. Levado por minha ex mulher para o além. Sabe-se lá se no céu ou inferno... a final de contas minha esposa cometia muitos pecados.