O Mundo dos Sonhos

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O Mundo dos Sonhos

A noite avançava e eu permanecia acordado. Deitado em minha cama macia com lençóis leves e perfumados, continuava com os olhos bem abertos olhando fixamente em direção ao teto, mas eu preferia não ter tanto conforto, ao menos por aqueles dias. Não pensem que a falta de sono era meu problema, ao contrário, meu medo era dormir e sonhar. Minha luta era para resistir ao sono. Já havia bebido dezenas de xícaras de café e energéticos e passado a última noite caminhando pelas ruas da cidade, mas já estava perdendo aquela luta contra meus instintos. Meus olhos já estavam fundos e meu rosto nao conseguia esconder um cansaço terrível.

Nos últimos dias tive pesadelos terríveis. Sonhava com parentes e amigos falecidos, que estavam vivendo em lugares estranhos. Aquela visão me dava uma sensação de insegurança e pavor. Pareciam tão reais estes sonhos, que me preenchiam com uma sensação de também estar naquele lugar bizarro junto a eles, mas nao conseguia falar nada e nem entender o que eles me diziam. Tal qual um sonambulo não me percebia acordado no meio da noite, mas ao acordar lembrava-me claramente de ter estado em um lugar desconhecido, cercado por uma vegetação e climas diferentes ao da cidade em que vivo. Algo ainda pior me incomodava. Nesses sonhos não encontrava com nenhuma das pessoas com quem convivo no dia a dia e ao acordar por diversas vezes percebi marcas de arranhoes em meu corpo e cortes em meus braços.

Alguns diriam que gostariam de ter os mesmos sonhos que tenho tido e ter a sensação de ter em sua presença alguém que já se foi, mas não era meu caso. Tinha medo e já não suportava mais sofrer por isso. Certa vez procurei duas dessas mulheres que dizem interpretar os sonhos. Não deveria ter ido. A primeira me disse que se tratava de um momento de transição em minha vida. Nada acrescentou. Procurei outra e ela me causou mais pavor, disse-me que aqueles sonhos indicavam a aproximação de minha morte, que eu estava sendo influenciado por pessoas malignas e deveria me preparar para enfrentar grandes tribulações.

Não consegui resistir. Minha última lembrança era do relogio marcando três horas na madrugada.

Ao amanhecer o sol soberano me convidava a sair, mas eu estava exausto. Passava os dias sentindo dores pelo corpo devido ao cansaço e ao estresse, por estar tanto tempo desperto e isso me prejudicava em meu trabalho e meus relacionamentos. Há tempos buscava uma solução, mas não conseguia ter sucesso. Procurei por um neurologista para me ajudar a eliminar meus sonhos ou ao menos me fazer sonhar com coisas do dia a dia. Por alguns dias, para tentar evitar esses sonhos, seguindo a orientação medica totalmente que contrariava à automedicação que eu estava seguindo, tomei vários comprimidos para estimular o sono, pensando que isso me faria ter um sono tão pesado que seria incapaz, no dia seguinte, de recordar o que sonhei. Funcionou por algumas noites, mas em algumas vezes acontecia um efeito colateral que me induzia a ter alucinações que me faziam ver e sentir coisas que um homem em seu estado natural jamais seria capaz. Pode parecer estranho para você que lê esse meu relato, mas por varios dias, naqueles momentos de insanidade, eu recebia uma visita corriqueira e gostava muito de conversar com uma alma que se apresentava em meu quarto sempre a noite, pouco antes de eu dormir.

Lembro-me que nessas alucinações eu me via sentado em uma poltrona tão macia que me sentia abraçado. Cercado de meus três felinos, me relaxava ao máximo para beber um legitimo vinho chileno e me sentir entorpecido. Gostava de segurar os gatos no colo e sentir suas gargantas vibrarem quando ronronavam. Aquele som sempre me soava como um tranquilizante. Eu fechava os olhos e me sentia em um transe tão profundo, em um estado tão aconchegante, que poderia me imaginar ainda no ventre de minha mãe, estando completamente protegido do mundo exterior. E entre uma taça e outra aquela Alma perdida em nosso mundo que pertencera a uma mulher de nome Angelina, conforme ela mesmo me disse, surgia e sentava-se ao meu lado contando suas histórias e recordações. Sua luz era clara e sua feição macia e branca como nuvem. Quando se aproximava de mim ofuscava minha visão como se eu tivesse olhando diretamente para o sol o que contrastava com as paredes escuras do meu quarto, mas em seguida sua luz diminuía de intensidade e mostrava sua forma humana. Uma mulher de pele branca e cabelos negros e longos, seios fartos, vestido vermelho e salto alto que destacava ainda mais suas pernas torneadas. Não, de forma alguma eu sentia qualquer medo, ao contrário, a maneira como ela flutuava no ar me trazia paz. Parecia uma pluma sendo levada pelas mãos leves do vento, lentamente e em total silencio. Era ela que completava o cenario perfeito daqueles momentos de puro prazer.

Contos - Amores e DesamoresOnde histórias criam vida. Descubra agora