Prólogo - Fizzie

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Fizzie

- E lá estava eu, em mais uma sessão com meu psicólogo Martin, minha mãe decidiu que eu precisava esclarecer algumas coisas e desabafar com alguém que me entendesse. Nesse caso, não era ela, mas minha mãe sempre me ajudou em tudo.
Estava na sala de espera com a minha mãe em um silêncio total, até que eu ouço uma voz familiar me chamar.

-Fizzie Campbell?! -era o psicólogo. Me levantei calmamente e pedi que a minha mãe me esperase na parte de fora.

-Boa Tarde Dr. Martin! -cumprimento ele amigavelmente e ele faz um gesto para mim entrar na sala.

Entro na sala de uma cor nude bem clara, janelas grandes mostrando a forte luz do sol, alguns quadros e fotos com família, e no meio, 2 sofás um para mim e um para ele.

-Sente-se Fizzie! - ele pede gentilmente e arruma sua postura- então, vejo que você decidiu manter sua marca escondida ainda. - ele fala observando meu pulso -

-Sim, você sabe. - e na última sessão eu expliquei pela milionésima vez oque tinha acontecido para existir essas marcas, e ele faz eu repetir a mesma história toda vez que eu volto para cá - Mesmo que eu não me importe tanto, minha mãe ia se preocupar com isso, talvez ela ache que é uma forma de me revoltar com oque aconteceu a um tempos atrás.

-Esconder essa marca é uma forma de esconder uma metade sua, uma parte da tua história. E isso vai te incomodar cada vez mais, você não se liberta de toda maneira, você guarda sentimentos importantes só para si mesma! -e ele fala praticamente a mesma coisa toda vez- ande....-ele me entrega um lenço umedecido para tirar a base do meu pulso e mostrar meus números - Conte sua história para mim de novo, o mais detalhadamente possível! - ele relaxa a postura, pega um bloco de notas e me encara.

Respiro fundo, porque contar essa história é difícil e me concentro.

-Foi dia 16 de dezembro, numa tarde, dois dias depois do meu aniversário, eu estava fazendo 6 anos de idade. - respiro fundo e fico encarando a parede- Eu fui fazer compras de natal com um dos meus irmãos mais velhos, eu tinha dois irmãos, Alexander e Henri. Fui ao shopping só com o Henri, ele queria comprar alguns presentes para nossos avós e como eu adorava ele, pedi para ir junto. Uma má ideia. Nós compramos várias coisas, até mais do que precisava, mas ele estava muito empolgado, natal era o feriado predileto dele. Nós estávamos saindo do shopping e entramos no carro, ele me arrumou no banco de trás e fechou a porta, e foi para a frente, no banco do condutor, meio óbvio. -e o flashback aconteceu, mais uma vez-

-Okay Fizz! -ele respira fundo, parecia tenso- nós vamos em um lugar rapidinho, e você tem que me prometer que não conta a mãe e o pai. -ele vira para mim, me encarando do banco da frente.

-Eu prometo mano! -dei um sorriso enorme, eu era bem fofa até! Cabelos loiros, bem claros, pele muito clara e olhos verdes, covinhas e sardas, muitas sardas...

-Okay! - ele sorri para mim, vira para frente e meche em uma sacola, ele tinha me comprado balas, minhas preferidas!- De aniversário ainda! -ele pisca para mim e vira para frente, liga o carro e começa a dirigir-

Quando nós chegamos nesse lugar que eu não conhecia direito, ele segurava minha mão o tempo todo, e me contou que ele iria fazer uma tatuagem e pediu para manter segredo. E eu o fiz.

Quando ele foi fazer a tatuagem, eu fiquei sentada em uma cadeira perto dele, nós ficávamos conversando sobre meus desenhos preferidos e oque eu queria de natal. Me senti apertada, e pedi para mim ir no banheiro, meu irmão me disse onde era, e eu fui. Eu estava bem tranquila até que comecei a ouvir barulhos de "fogos de artifício" muito perto. Ouvi passos e vi que era meu irmão, ele estava assustado.

-Fizz! -ele me abraça forte- você vai me escutar e me obedecer em tudo que eu falar. -eu assenti com a cabeça - Esse aqui é meu celular, tem o número do pai discado, quando eu sair do banheiro, você vai ligar para ele. Não saia daqui em hipótese alguma! Okay ?- disse que sim, eu estava assustada já, os barulhos eram muito altos - Eu vou ajudar meu amigos, e se eu não voltar, espere alguém chegar! Só com nossos pais ou quem? -ele me pergunta

-Policiais? -digo.

-Exato! -ele me da um beijo na testa, me abraça forte e sorri para mim- está tudo bem, só não saia daqui! -ele se levanta- eu te amo Fizzie! Não se esquece do que te falei!- sorrio para ele e ele some.

Liguei para meu pai, não me lembro direito o que disse, mas ele falou que estava a caminho. Ouvi mais barulhos altos, me sentei no chão e me encolhi, esperando alguém chegar, depois de minutos ouvi a policia, mas um moço chegou antes, achei que era policial então fui com ele.
Depois só me lembro de eu estar no colo do meu pai, no hospital, e não sabendo de nada. Ele me contou depois que foram ladrões atirando e que Henri estava mal, levou 3 tiros, um perto do coração, um na coxa e um perto do estômago se não me engano. Fui visitar ele, fiquei deitada com ele na cama chorando e pedindo para ele melhorar e passar o natal comigo. Ele disse que já estava bem, e que ia brincar comigo o dia todo. Mas dois dias depois, ele teve uma convulsão, o corpo dele não aguentou, e ele morreu. -acordo do meu transe, e sinto minhas bochechas úmidas, estava chorando- e eu vi depois um numero no meu pulso, o número 4, não sabia porque. E até agora tenho 6 números e sinto muita falta do meu irmão. -suspiro e limpo minhas lágrimas.

-Okay Fizzie, sei que é difícil, mas se acalme! -ele diz com a sua voz serena- talvez por isso você esconda suas marcas, uma "tatuagem"- ele faz ênfase - lembra seu irmão.

-Sim, sim. Entendi, vou tentar não a esconder! Prometo! -falo para ele.

-Tudo bem! - ele sorri e se levanta- seu horário terminou! Até semana que vem Fizz! -congelei quando ele falou isso, ninguém nunca mais me chamou assim depois de Henri. Martin foi se despedir de mim, me abraçou e eu fui embora.

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