Prólogo - Jimin

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Jimin

Foi aqui que tudo começou.

Eram exatamente quatro da tarde, o sinal para a saída das aulas de judô (as quais eu era obrigado a fazer pelos meus pais) havia acabado de bater. Mais um dia cansativo, eu tinha apenas seis anos mas era mal humorado como um adulto, era muito tímido e não costumava me aproximar das pessoas. Sempre perguntavam aos meus pais o motivo de eu ser uma criança tão séria, eles apenas sorriam e davam uma resposta simples tentando fugir do assunto.

Fiz uma caminhada de mais ou menos 20 minutos até avistar minha casa.

Assim que abro a porta dou de cara com minha mãe, o que me faz colocar a mão no peito e engolir em seco...porque ela está me esperando na porta de casa?

- Jimin, venha conhecer os novos vizinhos. -ela dá um sorriso acolhedor o que me faz relaxar os músculos e ficar mais calmo...pelo menos não fiz nada de errado. - tente ser simpático, e coloque um sorriso bonito em seus lábios, huh?

Apenas afirmo com a cabeça jogando minha mochila em um canto e sigo minha mãe até a sala de estar, me escondo atrás da mesma ao perceber estranhos no cômodo.

- Deixe sua timidez de lado filho. -meu pai me repreende- agora você terá um amiguinho para brincar.

Tombei minha cabeça para o lado na esperança de espiar as pessoas às quais não conhecia, o que não foi tão sucedido pois minha mãe me puxou para frente, assim me revelando para os estranhos que agora eram nossos novos vizinhos.

Não sei porque todos do bairro tem essa simpatia por vizinhos novos, o que muda? Daqui a um mês teremos novos vizinhos...e sabe o que acontecerá com esses? Serão esquecidos, do que vale lhes preparar bolos, doces e bebidas? Perguntas que talvez tenham respostas, mas que não são dignas a mim saber.

- Olá, eu sou o Jorge...seu novo amigo. -um garoto que parecia ter mais ou menos doze anos se aproxima de mim com um sorriso não tão simpático no rosto...um sorriso um tanto quanto forçado.

- não seja grosso, vá brincar com seu amigo. -minha mãe tira as mãos dos meus ombros, o que me faz sentir uma sensação estranha, como se agora eu estivesse desprotegido.

O garoto agarrou meu pulso com força e literalmente me puxou até a porta a mesma que poucos minutos antes entrei.

- vamos brincar. -ele virou sua cabeça pra trás me encarando com seus olhos arregalados e seu sorriso amarelado, ele usava aparelho e Argh...eu podia sentir o seu bafo a uma grande distância.

- Me solte! -exclamei puxando meu pulso na esperança de me soltar do aperto do garoto.

- Fique quieto, vamos brincar...sou seu amigo. -ele soltou meu pulso aos poucos e desfez seu sorriso.

Não pude decifrar sua expressão, ele parecia triste...mas ao mesmo tempo pude notar uma
falsidade estranha em seu olhar. Não sabia o que fazer então apenas aceitei brincar com ele...afinal, somos crianças e nada de ruim irá acontecer.

- vamos para aquela floresta, parece ser divertido brincar por lá. -ele apontou em direção à floresta escura que ficava ao lado de minha casa.

Pra falar a verdade, sempre tive curiosidade em conhecer aquela floresta, ela ficava de frente para a janela de meu quarto, às vezes eu passava a tarde inteira encarando as árvores de lá, encarando o vazio, encarando o escuro que de lá vinha.

- Hey! Vamos logo...-ele resmungou já começando a se aproximar da entrada da floresta.

- Me espere. -soltei um suspiro baixo e estufei o peito, a coragem me possuiu nesse momento.

Não sei o que ele estava achando dessa floresta, mas a cada passo que eu dava para frente desejava dar dez para trás. Era assustadora, quando entramos nela o céu estava claro, agora ele está em um tom escuro, muito escuro. Ruídos e barulhos de galhos secos sendo partidos me assustavam, me fazendo olhar para os lados a cada instante.

- você disse que iríamos brincar, mas eu não estou me divertindo aqui. -encarei o garoto que tinha um sorriso matreiro nos lábios.

- Ora, eu estou, não acha divertido encarar o escuro? Não te traz uma paz interior? -ele arqueava suas sobrancelhas alternadamente me provocando e voltando a dar aquele sorriso amarelado que me causava nojo.

- Só é brincadeira quando as duas partes estão se divertindo. -encarei o garoto seriamente e comecei a dar alguns passos pra trás ao ver o mesmo se aproximar mais e mais de mim.

- Escutou isso? -a feição nojenta dele foi substituída por uma expressão séria e preocupada...poderia dizer até amedrontada.

- Não, não escutei nada. -cruzei os braços tentando parecer um garoto corajoso e sem medo, na realidade eu escutei sim...mas talvez seja apenas um de seus joguinhos para me assustar.

O barulho ficava cada vez mais alto, parecia que algo se aproximava rapidamente do local onde estávamos, o pior de tudo é que o som vinha por trás de mim.

- OH! OH MEU DEUS. -vi o garoto ao qual eu não me lembrava o nome entreabrir seus lábios e sair correndo, ele parecia horrorizado ao olhar para aquilo que se encontrava atrás de mim.

A questão é que eu não tive coragem de olhar pra trás, apenas sai correndo o mais rápido que pude, o que não foi muito.

- ME AJUDE! ME ESPERE POR FAVOR! -gritei desesperado ao sentir meu pé se prender em algo, talvez um arame? Bem...acho que era mesmo isso, eu não conseguia me soltar.

Ver a imagem do garoto se afastar e ficar cada vez mais embaçada me fez começar a chorar e pensar nas inúmeras coisas que aquilo atrás de mim poderia ser, posso dizer que me debati mais que um urso preso em uma armadilha.

E são essas as únicas lembranças que tenho daquela noite. No dia seguinte meus pais me encontraram na mata, eu estava sujo e tinha alguns arranhões e ferimentos leves, mas pensando bem...eu não me lembro de ter me machucado. Depois de me debater...os médicos disseram que eu desmaiei, esse é o ponto de vista deles.

E os ferimentos não foram as únicas coisas estranhas que aconteceram, desde esse dia aparecem números estranhos em meu pulso, começou com o número um...parecia uma tatuagem, com o passar do tempo mais números apareceram, até parar no sete. Isso me assustou um pouco no começo, não quis falar nada para meus pais, não sei como seria a reação deles, talvez...diriam que eu fiz essas tatuagens no pulso e que estava ficando louco, mas como nada aconteceu, continuei a viver com normalidade.

Hoje estou com dezessete anos. O que aconteceu com o garoto que deu as costas pra mim? Minha mãe disse que ele não consegue mais falar...como se estivesse hipnotizado e não conseguisse soltar uma palavra sequer, os pais dele até pensaram em interná-lo em uma clínica psiquiátrica. Não tenho interesse em vê-lo, se ele tivesse me esperado e me ajudado eu não teria essa tatuagem horrível em meu pulso.

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