(Obra vencedora do 1º lugar do Concurso Oscar Wattpad da categoria CONTO)
A vida de Joanna sempre foi regada a trabalho, lágrimas e superação. Aos seus vinte e cinco anos de idade, a ruiva guarda consigo um histórico gigantesco de decepções e trag...
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Os singelos e aveludados flocos de neve pousavam em meus cílios, os meus sentimentos desabavam pelo meu rosto retangular, regando a porção de marshmallows emergidos no café que eu acabara de preparar. As minhas mãos abrangiam a xícara, buscando absorver o calor que era emanado pela porcelana em tons pastéis.
Naquela noite, as luzes cintilantes multicoloridas oscilavam em ritmos moderados e mórbidos por toda Londres, minhas cordas vocais cantarolavam uma melodia qualquer de Bach, pela qual eu escutara pela manhã. O modo harmônico dos movimentos das luzes natalinas e a canção por mim cantarolada era fascinante. E por mais que esta noite londrina esteja de tirar o fôlego, era remotamente impossível processar por inteiro toda a paisagem que me cercava. As luzes sublimes para alguns, haviam recebido uma coloração fúnebre aos meus olhos há muitas vésperas de Natais passados.
Já havia se completado um ano desde que eu mudara para o Hampsteach Heath, é um ótimo bairro londrino, e como sou muito conectada a natureza, não havia lugar melhor para se morar. Desde muito pequena, sempre que uma decepção me assolava por inteiro, meu refúgio era o telhado de casa. Eu ficava deitada, observando as estrelas e sentindo a melodia de Tchaikovsky, Mozart e Bach, meus compositores favoritos. Eu contava e recontava os pontos reluzentes nos céus, as lágrimas desciam e eu podia sentir a minha tristeza ser varrida do meu corpo.
E cá estou eu, tentando refazer o mesmo processo de sempre. Porém não havia estrelas, e eu já estava farta de cantarolar. Naquele instante, a única que me fazia companhia era a neve, que fluía entre os meus dedos e congelava os meus sentidos.
Mas dessa vez, a dor continuava ali. Constante, pesada, silenciosa e mortal. O processo que me acalmava na infância, não surtia mais efeito algum. Minha mãe sempre me dizia:
Uma hora ou outra você terá que lidar com a sua dor.
E ela estava certa. Eu deveria ter dado ouvido aos seus conselhos, eu sempre deixava a dor para mais tarde e corria pela casa, deixando as lágrimas para depois. E agora elas estão eclodindo dentro de mim e dessa vez eu tinha que suportar calada, não posso mais deixar para depois o que há tanto tempo evitei, eu necessitava bater de frente com aquilo que me machucava. Aliás, eu aprendi sozinha a ser forte, não me abater com as adversidades e não me conformar com o meu estado desprezível, seria um vergonha para mim mesma se eu me conformasse. Mas tudo tem o seu tempo, e naquele instante eu precisava descansar.
A meia-noite já se aproximava, eu não queria estar acordada quando o Natal chegasse, meu desejo era que esta data fosse abolida do calendário e esquecida pela humanidade, e infelizmente dessa vez eu tinha que me conformar. Joguei meu corpo desfalecido na minha poltrona escarlate, enquanto eu me deliciava com a bebida que ainda estava em minhas mãos.
Eu estava exausta, minhas pernas haviam perdido as suas forças e minhas vistas estavam cansadas. Minhas pálpebras penderam algumas vezes, mas a chama dançante da lareira ainda estava no alcance da minha visão. A lareira de tijolos à mostra, vazia e sem cor. E sobre a mesma, estava uma réplica do meu quadro favorito de Leonardo da Vinci, a Monalisa, ou como prefiro chamar, Gioconda. Eu me sentia hipnotizada por aqueles olhos mortos, e seduzida cada vez mais pelo sono, a pintura monótona me chamava para um pequeno cochilo, e eu não resisti, cedi finalmente ao sono, enquanto a obscuridade me cercava.