4. Espírito natalino e o prelúdio das cores

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  Tudo o que eu me lembro é de gritar e cair por um longo período de tempo, era quase impossível respirar, meus batimentos cardíacos se elevavam cada vez mais, foi quando eu aterrissei

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  Tudo o que eu me lembro é de gritar e cair por um longo período de tempo, era quase impossível respirar, meus batimentos cardíacos se elevavam cada vez mais, foi quando eu aterrissei. Meus olhos finalmente se abriram. Eu estava de volta na minha velha poltrona vermelha, os cacos de porcelana ainda estavam espalhados pelo meu carpete e o ruído do relógio chamou a minha atenção.

  Eram exatamente meia-noite e cinco.

  Desta vez a campainha não tocou.

  Um arrepio percorreu a minha coluna ao ver a rosa branca, — dada por Unborn — em minhas mãos, foi assim que eu tive a plena certeza de que aquilo tudo não estava resumido em um mero sonho.

  Corri até o calendário e vi que ainda era natal. Dia vinte e cinco de Dezembro. E pela primeira vez em anos, eu senti o doce gosto do Natal como um alívio em meu peito. Eu podia reverter o meu futuro, e pensar aquilo reascendeu uma velha esperança, que me impulsionou a sair de casa no meio da noite. Eu corria por aquelas ruas pavimentadas e cheias de neve, porém, os céus se encheram de luzes coloridas e majestosas. E pela graça dos deuses não era mais um portal, eram somente fogos de artifício que incendiavam o céu escuro, lhe dando vida e cor, dando um ar de magia para aquela data tão especial. Um belo sorriso estampou o meu rosto e voltei a correr por aquelas ruas.

  Após correr até cansar, cheguei a uma parte da cidade que abrigava uma das pequenas moléculas de luz que formava a imensa Londres. Com minhas andanças, encontrei uma casa branca e enfeitada com a minúcia das mãos de uma mãe. Havia uma família feliz, desfrutando da melhor parte do Natal, a ceia em família, um momento de união e histórias repletas de magia.

  Eu atrevi a tocar a campainha, eu necessitava de um pouco do espírito natalino. Feito isso, corri até o portão da casa, peguei um punhado de neve que havia sobrado do dia anterior, fiz uma pequena e gélida bola de neve e esperei aquela imensa porta abrir. A pessoa que me atendeu foi quem eu mais esperava naquele momento:
 
  Dorian.

  Ele estava tão lindo! Estava com uma calça jeans, suéter verde-escuro, seus cabelos cacheados estavam dispersos no topo de sua cabeça e ele ostentava um lindo sorriso. Antes de Dorian perceber a minha presença, joguei a porção de neve em sua direção. Como eu sempre tive uma mira terrível, a bola de neve acabou aterrissando no enfeite natalino que estava preso a parede. Dorian tomou um leve susto, e ao me ver, ele ficou inerte. Eu não sabia muito bem se ele estava feliz de me ver, ou nem tanto.

  Ele caminhou em minha direção e ficou bem perto de mim, tão perto que eu podia ver todos os detalhes de seu belo rosto.

  — Por muito tempo eu tenho enganado a mim mesma, — comecei, já que Dorian nada dizia — eu estive agindo da pior forma possível com as pessoas que realmente me amavam. Eu estava com medo de ferir a todos que tentavam se aproximar de mim, me distanciava do que me fazia feliz. Mas agora eu sei que, na verdade, eu ferir ou não quem eu amo não é algo inevitável. Tudo depende de mim, sempre dependeu somente de mim. Somos nós quem construímos nosso destino e nossa própria história. E eu decidi que não quero deixar as páginas da felicidade em branco, eu quero colorir todas elas com o que me faz feliz. Quero colorir os meus espaços em branco com você, Dorian.

  Eu esperei alguma resposta vinda dele, qualquer sinal de sua parte, seja bom ou ruim. Ele permaneceu estático por alguns segundos, que foram como uma eternidade para mim.

  — Eu aceito colorir os seus espaços em branco, mas com uma condição. — falou.

  — E qual condição seria esta?

  — Desde que você esteja disposta a colorir os meus dias também. — ele sorriu.

  — Só se for agora! — eu envolvi minhas mãos em sua nuca e o beijei como nunca antes.

  Senti uma sensação fria tocar em minha pele. Nossos lábios se distanciaram e percebemos que os flocos de neve começavam a cair outra vez, pareciam ter esperado por este momento. Dorian me abraçou e nos beijamos novamente enquanto o brilho das luzes natalinas nos abrangiam.

  Naquele momento, aquelas singelas luzes não tinham mais aquele tom fúnebre e tristonho do telhado da minha casa, Dorian realmente coloria os meus dias. E eu pude perceber que eu não precisava ser forte o tempo todo, não precisava ficar sozinha para mostrar o quanto eu era uma mulher forte e destemida. Nós somos humanos, e humanos não precisam viver isolados em uma ilha deserta. Nós precisamos do aconchego de outro ser humano, seja de um ente querido, de uma amiga ou de um namorado. Eu já tinha perdido tudo na minha vida, mas se Dorian me fazia feliz e era bom para mim, eu não precisava correr da felicidade.
Naquela mesma noite, Dorian me apresentou a sua família. Sim, a ceia de natal já havia acabado e todos já estavam lavando os pratos, mas eu estava ao redor de pessoas que me faziam bem, eles seriam a minha família daquele dia em diante e eu não estava sozinha. Esta foi a primeira vez que senti o espírito natalino cantarolar em meu ser após tantas tragédias, eu o senti em sua mais pura forma:

  No aconchego de uma família.

  Mas a vida é assim, cheia de altos e baixos, desafios, momentos felizes e tristes. Muitas das vezes, nossos únicos inimigos somos nós mesmos, e precisam, uma vez ou outra, salvar o nosso próprio dia. Podemos um dia ser o vilão e no outro, ser o mocinho. E é isto o que faz de nossas vidas especiais e únicas.

Quando a Neve Cair [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora